Do 'Querido, Mudei a Casa' para o 'Querida, Mudei a Fralda'. João Montez pegou no bloco de notas enquanto vivia toda a experiência de ser pai pela primeira vez e nessas folhas apontou desabafos que são comuns a todos os que têm nos braços uma criança acabada de nascer.
O novo livro do apresentador não pretende ser um "guia" nem mesmo um "manual", e isso é logo dito nas primeiras páginas. Montez compromete-se apenas a partilhar o que tem sentido após o nascimento de Maria Luísa, a filha que resulta do relacionamento com Inês Gutierrez.
O Fama ao Minuto quis saber junto do comunicador como surgiu a obra e se há, a partir de agora, uma nova vocação a seguir, paralelamente ao trabalho em televisão.
Em que altura surgiu esta ideia de escrever um livro?
Na verdade, este livro foi pensado muito antes da minha filha nascer. Quando se recebe a notícia de que vamos ser pais pela primeira vez, além da muita alegria sentida, como foi o caso, é quase impensável conseguirmos silenciar a quantidade de perguntas que, de forma quase inconsciente, nos surgem. 'Que tipo de pai vou ser?', 'estarei preparado para sê-lo?', 'a minha vida vai mudar…?' ou 'mas o que é que é isto de ser pai, afinal?'. Estas foram questões, dúvidas existenciais, se assim o quisermos entender, que acabaram por me levar a querer saber mais acerca do tema paternidade. Como em grande parte do que faço e às coisas que habitualmente me proponho fazer, gosto de estar bem preparado. E neste sentido, ser pai, não podia ser excepção! Procurei livros, entrevistas, vi vídeos e ainda fiz alguns cursos. A conclusão a que chegava era sempre a mesma: o foco e a atenção estavam, na sua grande maioria, virados para a mãe e para todo o processo que viria a desenvolver-se a partir dali.
Percebi que não há grandes respostas às (talvez muitas) questões que os pais homens têm e, nesse sentido, penso que seja urgente identificar e perceber qual o papel de um pai hoje em dia, na nossa sociedade. Por isso, este livro (e anteriormente o podcast que dá o nome ao livro), surgiu mesmo de uma necessidade minha logo de início, quando soube que ia ser pai. Na altura lembro-me de pensar que precisava de saber da história de outros pais e, talvez, identificar-me com algumas situações e experiências.
Não me considero superior a qualquer outro pai ou mãe. Nem tenho qualquer pretensão que assim o entendam
Com uma carreira recheada de sucessos na televisão, o que o leva a decidir arriscar nesta área da literatura?
Estou longe de me considerar escritor, atenção! Apesar de achar que é uma profissão muito honrosa, valorizo bastante quem o é, de verdade. Decidi escrever este meu 'Querida, Mudei a Fralda' sabendo que, antes de qualquer coisa mais, este seria um testemunho recheado de amor, para a minha filha. Sei que um dia ela irá lê-lo e, como está presente na dedicatória que lhe faço nas primeiras páginas, quero que saiba como começou esta nossa história enquanto pai e filha. Confesso que este livro me serviu de catarse em muitas ocasiões. Uma espécie de terapia que fui tendo e que hoje gostava que outros pais (e mães) lessem. Que mais não seja, para estarem cientes de que não estão sozinhos quando tiverem de encarar aquelas noites difíceis com um recém-nascido ao lado, sem pregar olho e com um sem número de dúvidas existenciais na cabeça. É uma narrativa muito minha, um diário de bordo na primeira pessoa.
Opta por esclarecer, logo à partida, que o livro não pretende ser um guia de dicas, nem uma enciclopédia, nem um manual. Por que motivo é tão importante essa ressalva inicial?
Estou realmente desprovido de qualquer intenção dessas. Este não é, de todo, um livro que visa ensinar alguém, pois não me considero superior a qualquer outro pai ou mãe. Nem tenho qualquer pretensão que assim o entendam. Este livro é sim, só e apenas, a partilha de uma experiência que se supõe comum, e fico feliz que alguns pais se revejam no tipo de sentimento experimentado. Mesmo quando passam por grandes dúvidas existenciais e quando as tais questões surgem, quero apenas que percebam que tudo faz parte da natureza humana. Todos passamos por este tipo de sentimentos, independentemente da nossa formação pessoal. Creio que este livro traz ao de cima uma série de elementos que são comuns a tantos outros pais e mães. Por isso, espero que se revejam, apenas. Se pelo caminho for dando voz a outros pais, perfeito. Se os colocar a pensar, então melhor. É um bónus!
Qual tem sido a reação dos leitores ao livro?
Têm-me surpreendido bastante! Até porque, inicialmente, fui partilhando com os que me rodeiam que esperava secretamente que este livro fosse o tipo de livro pensado para pais… que todas as mães iriam gostar de ler. E para minha grande surpresa, assim o tem sido. Vejo mães a oferecerem-no a futuros pais, mas também vejo que há mães a comprar para elas próprias… e isso é importante.
A maior alegria é percebermos que é uma criança feliz. Aliás, ouvimos bastante por parte de familiares que ela trasborda felicidade
Como se tem sentido nesta nova fase da sua vida, marcada pelos primeiros meses da vossa bebé?
Já o tenho dito, mas continuo mesmo a achar que 'ser-se pai' (ou mãe) é quase uma profissão. Por isso, como tal, o nosso último ano, tem sido desafiante, mas recheado de muito amor. Existiram grandes mudanças nas nossas vidas e há em andamento uma construção familiar que se quer constante. Há uma adaptação a novas rotinas, novos horários e há ainda o desafio de conciliar tudo isto com a vida profissional. É uma aprendizagem dia após dia. Entre a azáfama diária, acabo por confirmar muitos clichés e o maior deles todos é mesmo saber que não há amor maior do que este. Tenho escrito isto por todo o lado… mas é mesmo verdade. Tenho tentado dar o meu melhor, todos os dias.
Já se sente orgulhoso da menina que tem nos braços?
Sem dúvida, desde o primeiro instante. Dia após dia percebo o quão perspicaz é, o quão rapidamente se desenvolve - demasiado rápido até. E claro que isso nos enche de orgulho.
Qual tem sido a maior alegria que a Maria Luísa tem dado?
A maior alegria é percebermos que é uma criança feliz. Aliás, ouvimos bastante por parte de familiares que ela trasborda felicidade. E isso, de alguma forma, significa que estamos a fazer o nosso papel enquanto pais.
Acho apenas que ainda é muito cedo para pensarmos, ambos, em mais filhos
O que mais o tem surpreendido nesta experiência da paternidade?
Quase tudo tem sido recebido com grande surpresa, todas as fases, todas as graças... É engraçado entender que durante este ano temos dado tudo enquanto pais e que, agora, já passado um ano, começamos a receber muita coisa boa de volta. Percebo diariamente que há um campo muito discreto, que por vezes nem damos conta de que existe - mas ele está lá e é algo constante - que é o facto de estarmos a educar, a ensinar, a moldar uma personalidade, a todas as horas. Todos os momentos contam. E tudo isto quase sem nos darmos conta…
Existe a vontade de terem mais um filho? Se sim, para que altura das vossas vidas seria?
Alerta tema sensível [risos]! Mas, sim, sempre existiu vontade de que a família pudesse ser maior. Acho apenas que ainda é muito cedo para pensarmos, ambos, em mais filhos. Estamos numa fase em que queremos aproveitar o máximo da nossa filha e estarmos presentes no momento. Voltem a perguntar daqui um ano, por favor!
Fazer televisão continua a ser prioridade, aliás, porque aí sim, é a minha praia
Após o lançamento do livro, despertou em si a vontade de fazer coisas novas e diferentes a nível profissional? Ou fazer televisão continua a ser a prioridade?
A vontade de fazer coisas novas a nível profissional está sempre presente… até porque sou um eterno insatisfeito (mas no bom sentido). Tenho muitas ambições, mas faz-me sentido estar cada vez mais presente e deixar a minha marca profissional a um nível 360º. São coisas que se complementam, quando falamos de comunicação. Ainda assim, fazer televisão continua a ser prioridade, aliás, porque essa sim, é a minha praia. Preparo-me para iniciar mais uma temporada de gravações do 'Querido, Mudei a Casa!'. Estão prestes a arrancar e ainda por cima estamos também a atingir a marca importante e imponente de 500 episódios. É um orgulho!
Agora com o ‘Querida, Mudei a Fralda’ nas livrarias, já pensa na próxima obra que vai querer escrever? Ou isso não passa pelos planos?
É algo a pensar, admito… talvez até possa dar continuação ao relato da experiência que tem sido a paternidade. Veremos…
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