Black Friday, Compras de Natal... não confunda consumismo com oniomania

O nome refere-se a uma doença psiquiatra que se carateriza por um desejo recorrente e descontrolado de realizar compras.

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Mariana Botelho
22/11/2018 15:21 ‧ 22/11/2018 por Mariana Botelho

Lifestyle

Distúrbios

Estamos a entrar na época do Natal. As montras enchem-se de produtos apelativos, com relação direta ou não à época festiva, há promoções que chamam ainda mais clientes, a música e decoração também tornam a experiência de compra mais apelativa.

Muitos se deixam levar por este espírito de algum consumo que parece já ser indissociável do Natal. Mas se há quem se deixe 'descuidar' nesta altura e faça doer um pouco a carteira, há casos mais graves, que não se cingem de todo ao mês de dezembro.

Falamos da oniomania, um problema também designado por Perturbação Compulsiva por Compras que se estima atingir cerca de 6% da população geral, dos quais 90% dos casos são mulheres, como refere Luísa Lagarto, psiquiatra da Unidade Psiquiátrica Privada de Coimbra, que fala sobre esta condição justamente agora devido às grandes campanhas promocionais praticadas pelas grandes superfícies comerciais - não fosse amanhã a Black Friday.

A especialista aponta que "os principais sintomas consistem em comportamentos repetitivos, pensamentos intrusivos e preocupações relacionadas com compras e impulsos para comprar, os quais são vivenciados como irresistíveis e de difícil controlo". Por parte dos doentes, descrevem-na como uma "sensação de tensão e de ansiedade crescente, que só alivia quando a compra é realizada" e a que se seguem "sentimentos de culpa, angústia e preocupação", já que muitas vezes a compra em questão resulta em objetos supérfluos e de elevado valor, conduzindo a problemas financeiros graves.

Além da culpa, tal comportamento pode levar ao sofrimento. Como as compras consomem muito tempo, podem originar problemas a nível pessoal, familiar, legal e financeiro, problemas que por sua vez podem levar a sintomas de depressão, ansiedade, distúrbios alimentares ou mesmo consumo de substâncias.

Como se referiu, são as mulheres que mais sofrem com oniomania, normalmente no final da adolescência ou na segunda década de vida o que, segundo Luísa Lagarto, se pode justificar pela "emancipação do núcleo familiar, acesso a contas bancárias e uso compulsivo do computador, particularmente a utilização de sites onde é possível fazer compras online", refere.

"É importante distinguir estes comportamentos daqueles que decorrem dentro dos padrões considerados normais", alerta a psicóloga que esclarece que "os gastos excessivos episódicos que ocorrem em ocasiões especiais como festas, aniversários ou férias, não configuram necessariamente este diagnóstico, principalmente se não estiverem associados à preocupação ou angústia, e se não implicarem consequências adversas".

A atenção a esta distinção é essencial para que se ajude quem sofra deste distúrbio, uma vez que ainda não estão esclarecidas as causas desta perturbação, que se sabe estar relacionada com  fatores neurobiológicos, psicológicos e sociais. Ainda, "alguns fatores socioculturais são reforçadores deste tipo de comportamentos, particularmente a crença de que a aquisição de bens representa ascensão social, poder, prestígio e autonomia financeira".

Resta alertar para épocas como a 'Black Friday', que podem conduzir a um aumento do risco para as compras compulsivas que agravam os sintomas. Para tal, Luísa Lagarto deixa a nota: "Para prevenir a compulsão por compras, os doentes são orientados no sentido de alterarem os seus comportamentos e hábitos de vida. Por exemplo, sugere-se para estes doentes: evitar épocas de promoções, evitar frequentar regularmente centros comerciais ou fazê-lo em companhia, não levar cartão de crédito ou usar crédito limitado, fazer listas previamente para adquirir apenas o que é necessário, e evitar a utilização sites de compras online."

 

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