O leitor perguntou: Como posso ter sonhos lúcidos e controlá-los?
Todas as noites, é provável que passe mais de uma hora mergulhado nas situações mais insólitas. Mas e se pudesse despertar durante essas fantasias e assumir o comando dos seus sonhos? Conheça a neurociência, e as técnicas, de uma das experiências mais radicais que existem: os sonhos lúcidos.
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Os sonhos são a realização de desejos ocultos. Quem o disse foi Sigmund Freud, também conhecido como o ‘pai’ da psicoanálise.
Os cientistas estimam que em média passemos mais 1h20 por noite a sonhar. Só que esquecemos a maioria dessas ‘aventuras’ noturnas. Mas e se pudesse não apenas se lembrar dos seus sonhos, como também controlá-los? Essa é a proposta dos sonhos lúcidos, em que o individuo fica consciente e pode fazer o que quiser.
A expressão ‘sonho lúcido’ foi cunhada pelo psiquiatra holandês Frederik van Eeden, em 1913.
A ciência ainda não sabe como tal acontece, mas tem algumas pistas. Imaginemos a seguinte situação: trabalhou o dia todo e só parou para almoçar, mas ao voltar para casa cruzou-se, na rua, com um amigo que não encontrava havia vários anos. Essas experiências todas ativam determinados neurónios, que formam conexões semipermanentes entre si. Essas conexões são as suas memórias. Quando dorme, o cérebro desfaz algumas delas, apagando as informações que considera menos relevantes (como por exemplo aquilo que comeu ao almoço) e mantendo apenas as coisas importantes, como o nome daquele amigo que reencontrou. A esse processo de reorganização de memórias dá-se o nome de homeostase sináptica – e acontece na terceira das quatro fases do sono, a que antecede os sonhos. Isso pode explicar por que as situações que vivemos durante o dia reaparecem, muitas vezes distorcidas, quando sonhamos.
Todavia, quando a pessoa fica consciente dentro de um sonho, a experiência vai um pouco mais além.
Um estudo realizado por investigadores da Universidade de Bonn, na Alemanha, constatou que durante os sonhos lúcidos o cérebro emite ondas elétricas de 40 Hertz, a mesma frequência de quando estamos acordados (os sonhos normais têm ondas mais lentas, de 6 a 10 Hz). Ou seja, o sonho lúcido é um estado intermediário entre dormir e estar acordado.
E esse estado é produzido por duas regiões cerebrais: o córtex frontopolar e o hipocampo, que ficam mais ativos. Foi essa a descoberta de cientistas do Instituto Max Planck, em Berlim, após analisarem os cérebros de 31 pessoas que frequentemente têm sonhos lúcidos. O córtex frontopolar e o hipocampo são regiões cerebrais relacionadas à ‘metacognição’: a capacidade que todos temos de observar e controlar os próprios pensamentos. Sabe quando está preocupado ou ansioso, por exemplo, e faz um esforço consciente para controlar os seus pensamentos e acalmar-se? O sonho lúcido é uma ação similar; só que executada durante o sono.
Existem várias técnicas para induzir os sonhos lúcidos, mas estas podem ser resumidas em instruções bem simples. Elas realmente funcionam, com uma ressalva: não pode escolher aquilo com que vai sonhar. Ao despertar dentro de um sonho, a pessoa vê-se dentro de uma situação que já está a acontecer. Fica consciente, decide como vai reagir e o que vai fazer a partir dali, mas o contexto do sonho já está determinado quando começa.
Como ter sonhos lúcidos
Técnica deve ser praticada ao longo do dia. Os resultados começam a surgir após uma ou duas semanas:
1. Ao acordar, não abra os olhos nem pense. Só tente recordar-se do sonho que estava a ter. Lembrou-se? Anote tudo.
2. Durante o dia, mentalize a situação de que está a ter um sonho lúcido. Imagine como tal seria uma ótima experiência, o que faria, etc.
3. Também de dia, faça ‘conexões à realidade’. Pare tudo e pergunte a si mesmo: ‘esta situação é real, ou estou a sonhar?’
4. Eventualmente, a pergunta ‘estou a sonhar?’ surgirá num sonho. E você irá respondê-la – e, ao fazer isso, ficará consciente dentro do sonho.
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