Crianças portuguesas brincam apenas entre 2 a 3 horas por dia
Estudo revela que as crianças portuguesas brincam entre duas a três horas por dia, tempo que os pais consideram insuficiente.
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A maioria das crianças portuguesas até aos 10 anos só brinca entre duas a três horas por dia, tempo que os pais consideram não ser suficiente. Estas são duas das conclusões do estudo 'Portugal a Brincar', realizado pela Escola Superior de Educação de Coimbra, em parceria com o Instituto de Apoio à Criança e a Estrelas & Ouriços, apresentado na 1.ª Conferência Estrelas & Ouriços, que decorreu ontem na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais.
“Brincar é a forma mais natural de a criança se expressar e um direito consagrado na Convenção sobre os Direitos da Criança. Contudo, a vivência lúdica das sociedades, em todo o mundo, teve alterações muito significativas nos últimos anos”, diz Rui Mendes, professor da Escola Superior de Educação de Coimbra e coordenador do estudo “Portugal a Brincar”, que acrescenta: “Antigamente, havia mais espaços e mais possibilidades para a criança brincar ao ar livremente. O apanágio do sucesso, o ritmo desenfreado e o pensamento de que brincar não é sério apresentam consequências dramáticas para o desenvolvimento das crianças. Assim, este estudo pretende saber e compreender qual a importância de brincar para os pais portugueses e também conhecer como brincam as crianças hoje em dia”.
No âmbito deste projeto, foram analisados vários indicadores – o tempo dedicado a brincar, onde, como e com quem brincam as crianças, o papel dos brinquedos, as tecnologias e os jogos tradicionais.
Do total de 1466 inquiridos (pais), 25% refere que as crianças brincam por dia, em média, entre duas a três horas e 24,3% refere cinco ou mais horas. Residualmente, 4,3% das crianças brincam até uma hora por dia. Do total, 44,5% dos pais consideram que o ideal seria as crianças brincarem cinco ou mais horas por dia.
Quando questionados sobre o local onde as crianças brincam mais, a maioria (53,8%) identifica a escola, por ser o local onde passam mais tempo diariamente. Os outros locais onde as crianças brincam com maior frequência são a própria casa (30,4%), a casa dos avós (6,3%), o centro de atividades de tempos livres (4,5%) e, por fim, a rua (2,2%). A preocupação em possibilitar que as crianças brinquem mais tempo na rua, em contacto com os elementos naturais, tem vindo a crescer, uma vez que estas brincadeiras já não fazem parte do quotidiano, comparativamente com o que acontecia no passado. Os pais parecem estar cada vez mais conscientes desta mudança e, assim, 41,2% afirma que gostaria de mudar esta realidade e que a rua fosse o principal local de brincadeira.
Em Portugal, a maioria das crianças partilha as brincadeiras e, quando confrontados com a questão “Com quem brincam as crianças portuguesas?”, mais de metade (55,3%) respondeu: com outras crianças da mesma idade, seguindo-se com os irmãos (13,8%), com os pais em simultâneo (7,3%) e com crianças de outras idades (6,7%). Apenas 5,9% das crianças brincam a maior parte do seu tempo sozinhas. Os pais assumem conseguir brincar mais tempo ao fim de semana do que durante a semana. Durante a semana, 45,6% dos pais consegue brincar no máximo uma hora por dia, 27,8% até 2 horas e 19,8% mais de 2 horas diárias com os filhos. Tal como as crianças, os pais também desejariam dedicar mais tempo à brincadeira com os seus filhos.
Maioria dos pais considera positivo que os filhos cheguem a casa sujos.
Uma vez que as crianças passam grande parte do seu tempo na escola, importa conhecer de que forma elas brincam neste contexto. Os pais referem que 20,5% das crianças brinca a tempo inteiro na escola (sobretudo nas faixas etárias mais baixas), 32,5% apenas durante o recreio e 31,9% também tem oportunidade de brincar durante as aulas, por iniciativa do educador/professor. De acordo com a opinião dos pais, apenas 0,5% das crianças que frequentam a escola não têm oportunidade para brincar no ambiente escolar.
Questionados sobre aquilo que sentem quando os seus filhos chegam a casa sujos por alguma brincadeira na escola, a maioria dos pais (75,8%) considera um sinal positivo de que a criança brincou durante o tempo de escola. Por outro lado, 0,8% dos pais não gosta e afirma que a escola deveria ser mais responsável pela higiene e apresentação das crianças, enquanto 0,5% considera mesmo que não existiu supervisão suficiente para evitar que a criança se sujasse.
Este estudo tentou também perceber quais as brincadeiras preferidas das crianças. Na opinião dos pais, as crianças preferem brincadeiras ou jogos ao ar livre (25,4%) e estas são também as preferidas dos pais (32,1%). São ainda mencionadas as brincadeiras de faz-de-conta, construção, pintura ou desenho como as prediletas das crianças e dos pais, sendo que estes destacam ainda os jogos de tabuleiro.
Foi ainda analisado o papel dos brinquedos e como podem influenciar a forma como as brincadeiras se desenrolam. Como tal, analisou-se a influência que têm sobre os hábitos de brincar das crianças portuguesas. A maioria das crianças recebe uma quantidade significativa de brinquedos ao longo do ano, sendo que apenas 0,4% das crianças não recebeu nenhum brinquedo no último ano. Das crianças que receberam brinquedos no último ano, 30,8 % receberam 15 ou mais, 29,3% entre 6 a 10, 22,2% entre 10 a 15 e 15,3% até 5 brinquedos.
A maioria dos brinquedos é oferecida em ocasiões especiais, tal como referem 46,9% dos pais e os que optam por oferecer também ao longo do ano, fazem-no sobretudo mensalmente (20,1%) ou trimestralmente (19,8%), seguindo-se por semestre (5,3%) ou semanalmente (4,4%).
São diversos os critérios que influenciam a compra de determinado brinquedo pelos pais. A maioria (81,1%) refere a funcionalidade do brinquedo como o critério principal. Um número reduzido de pais considera importante a qualidade (9,1%) e o gosto pessoal da criança (6,5%). Questionados sobre a doação de brinquedos da criança, 79,4% dos pais afirma fazê-lo com frequência.
Inquiridos sobre a tipologia de brinquedos que desempenha um papel mais relevante na aprendizagem das crianças, os brinquedos educativos surgem com maior destaque (44,8%), seguindo-se os brinquedos faz-de-conta (28,9%) e os brinquedos que são feitos pelas próprias crianças (18,8%). Apenas uma pequena percentagem dos pais (3,6%) considera que os brinquedos que mais aprendizagens promovem nas crianças são os eletrónicos ou aqueles que promovem a atividade física (0,1%). Apenas 3,8% dos pais consideram que todos os brinquedos desempenham um papel importante nas aprendizagens das crianças e não destacam nenhum tipo em particular.
Maioria das crianças tem brinquedos não eletrónicos
Os resultados deste estudo demostram que a maioria das crianças (73,3%) tem uma maior quantidade de brinquedos não eletrónicos em comparação com os brinquedos eletrónicos e que 7,8% não tem nenhum brinquedo eletrónico.
No que respeita à utilização de tablets ou smartphones, verifica-se que 34,7% das crianças não brinca com estes dispositivos. Das 65,3% que fazem uso destes aparelhos para brincar, 21,6% já utiliza os seus próprios dispositivos. Os pais têm aplicações específicas para a criança brincar no tablet ou smartphone: 34,9% tem 1 a 3 aplicações instaladas, 19,2% tem entre 4 a 6 aplicações instaladas e 10,8% tem instaladas mais de 6 aplicações. No que se refere ao tempo de utilização de tablets e smartphones, 53,9% faz um uso moderado e brinca no máximo uma hora por dia, independentemente da faixa etária.
Regista-se ainda que 23,9% das crianças utiliza os videojogos nas suas brincadeiras. Deste grupo, 12,2% apenas utiliza os videojogos de forma pontual, 9,1% apenas ao fim de semana, e os restantes 2,5% utilizam os videojogos para brincar todos os dias. O estudo indica ainda que 56,6% das crianças vê televisão até uma hora por dia, 29,6% entre uma a duas horas e 5,6 % entre duas a três horas.
‘Como brincam hoje as crianças portuguesas’ foi o tema da 1ª Conferência Estrelas & Ouriços, que teve como objetivo promover a discussão sobre a forma como se brinca em Portugal e debater vários assuntos, entre os quais o impacto das novas tecnologias nas crianças, o futuro das brincadeiras tradicionais e como a gestão do tempo dos adultos influencia os tempos livres das crianças.
Amostra do estudo:
Participaram, voluntariamente, no questionário, 1466 pais de crianças, de ambos os sexos, com idades até aos 10 anos, residentes em Portugal. Os indivíduos que responderam tinham idades compreendidas entre os 20 e os 65 anos, com 39 anos de média de idade. A amostra inclui elementos de todas as zonas geográficas de Portugal continental e dos arquipélagos dos Açores e da Madeira, sendo que 58,2% da amostra reside na área metropolitana de Lisboa. A maioria dos inquiridos é do género feminino (92,6%).
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