Há décadas que os cientistas conhecem os benefícios que uma dieta e nutrição adequadas têm no desenvolvimento das doenças cardiovasculares, digestivas e endócrinas, como explica uma reportagem publicada no periódico espanhol El País.
E não só os médicos estão conscientes de que 'a saúde entra pela boca'; a informação dirigida aos mortais comuns para cuidar de sua dieta é tudo, menos escassa. A situação é muito diferente no campo da psiquiatria, ainda que nos últimos anos um número crescente de pesquisas mostre que a alimentação não só tem um papel crucial na saúde física como também na mental.
Uma questão de inflamação
A comunidade científica começou a perguntar-se por que a doença mental também não é tratada da perspetiva nutricional, e os especialistas encontraram um paradoxo muito interessante.
“As doenças psiquiátricas, como a depressão e a esquizofrenia, não são muito diferentes da diabetes se olharmos as mudanças que ocorrem no organismo a um nível molecular. As pessoas com diabetes e com depressão encontram-se num estado de inflamação sistémica leve, mas crónica”, diz o professor de psiquiatria e psicologia médica da Universidade de Valência e membro do comité executivo da Sociedade Internacional para a Pesquisa em Psiquiatria Nutricional Vicent Balanzá. “Assumindo isso, as intervenções com dieta e nutrição podem ser eficazes para corrigir a inflamação também nas doenças psiquiátricas e, em geral, para melhorar o prognóstico das pessoas que as sofrem. No final de contas, a divisão entre cérebro-mente e corpo não tem fundamento científico”, acrescenta.
Um dos maiores expoentes da disciplina emergente, o agricultor e psiquiatra da Universidade Columbia, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, Drew Ramsey, defende que uma dieta deficiente é um dos maiores fatores que contribuem para o desenvolvimento da depressão. Nesse sentido, uma das metanálises mais recentes publicadas sobre os efeitos da nutrição na saúde mental, da qual participaram cientistas do mundo todo , descobriu que “manter uma dieta saudável, em particular uma dieta mediterrânea tradicional, e evitar uma dieta proinflamatória parece dar uma certa proteção contra a depressão em estudos observacionais. Isso proporciona uma base de evidência razoável para avaliar o papel das intervenções dietéticas para prevenir a depressão”, diz o texto.
Diminuir o risco de depressão em até 35%
De acordo com Vicent Balanzá, esse campo de pesquisa está a proporcionar descobertas satisfatórias. Por exemplo, sabe-se que “as pessoas que seguem dietas ricas em verduras, frutas, grãos não processados, peixes e mariscos, que contêm poucas quantidades de carnes magras e laticínios, têm um risco de depressão de 25% a 35% mais baixo. Além disso, uma má hidratação, o consumo de álcool, de cafeína e o hábito de fumar podem precipitar e estimular os sintomas da ansiedade”. O especialista acrescenta também que picos elevados de açúcar “podem imitar desde uma crise de ansiedade a um ataque de pânico”. Por último, “os períodos prolongados de jejum, em que são gerados estados hipoglicemiantes — caracterizados pela diminuição dos níveis de açúcar no sangue —, podem simular sintomas de depressão”.