Na verdade, Searle tem uma condição rara - e muitas vezes não diagnosticada - chamada hidrocefalia de pressão normal, a HPN. A boa notícia é que a patologia é tratável (ao contrário da demência).
A peça divulgada pela BBC News, relata como o individuo pensou que a sua vida estava prestes a mudar para sempre e definitivamente para pior.
O corpo tinha parado lentamente de funcionar. Tinha dificuldades para andar. E quando tentava, caía. Tinha má memória de curto prazo e, aos 69 anos, estava com incontinência urinária.
Era um padrão de declínio que o engenheiro canadiano aposentado de Brantford, Ontário (Canadá), conhecia muito bem. A sua irmã morreu de Alzheimer aos 50 anos. Já o seu pai morreu de demência no início dos anos 1980.
Diagnóstico incerto
Inicialmente os médicos não conseguiram dar a Searle um diagnóstico definitivo.
O tratamento para Parkinson não teve efeito, não sofria de Alzheimer, mas algo claramente não estava certo. Em 2018, passou a necessitar de uma cadeira de rodas para sair de casa e de um andador para caminhar.
"Não havia esperança. Ficava sentado na janela a ver a vida passar", refere o canadiano.
Mas tudo mudou quando conheceu Alfonso Fasano, um neurologista da Clínica de Distúrbios do Movimento, do Toronto Western Hospital, que o diagnosticou com a doença denominada de hidrocefalia de pressão normal.
O distúrbio é causado quando o excesso de líquido cefalorraquidiano, conhecido como fluido cérebro espinhal, se acumula nos ventrículos do cérebro, que são o centro de comunicação cerebrais.
Essa acumulação de líquido pode provocar dificuldades de movimento, problemas de memória e cognição e incontinência - sintomas que também costumam estar associados a doenças degenerativas mais comuns, como Alzheimer, Parkinson ou demência.
Doença quase desconhecida
No Canadá estima-se que pelo menos uma em cada 200 pessoas com mais de 55 anos de idade, ou mais de 57 mil pessoas, padeçam de HPN.
Nos EUA, a Hydrocephalus Association estima que 700 mil americanos sofram da doença, mas que apenas cerca de 20% das pessoas que vivem com ela foram diagnosticadas corretamente.
"A HPN é uma condição que ainda não é bem entendida", diz Fasano. Sem tratamento, as pessoas podem acabar num asilo ou morrer por conta das complicações da doença. "É isso que não queremos", diz.
Fasano sugeriu que fosse drenado o fluido do cérebro de John Searle, o tratamento de ponta para a HPN, com uma alta taxa de sucesso, segundo estudos recentes.
Mais de um ano depois, Searle conta que está a começar a recuperar a sua vida. A sua capacidade de caminhar melhorou, assim como a sua memória. Pratica exercício físico regularmente com um personal trainer no ginásio e faz caminhadas para ajudar a recuperar a força dos músculos.
Até 3% da população com mais de 65 anos de idade pode ter HPN, de acordo com um estudo recente do Japão. A Organização Mundial de Saúde estima que a demência, incluindo a doença de Alzheimer, afeta entre 5-8% da população com mais de 60 anos.