O processo ocorre com a participação fundamental da vitamina D, que faz a conexão dessa sequência.
"Sabe-se que a exposição aos raios solares UVB impulsiona a produção de vitamina D na pele, e estudos recentes sugerem que a vitamina D altera a microbiota intestinal. Porém, uma conexão entre o UVB levar a alterações na microbiota intestinal, via vitamina D, era algo até então demonstrado apenas em cobaias", explicam os autores da publicação no periódico científico Frontiers in Microbiology.
No estudo, partilhado pela BBC News, 21 mulheres caucasianas, com idades entre os 19 e 40 os anos e recrutadas em Vancouver, no Canadá, foram submetidas a várias experiências realizadas em 2018. As voluntárias foram divididas em dois grupos: um tomou suplementos de vitamina D no período de inverno anterior aos testes, grupo chamado de VDS+; o outro não tomou o suplemento, formando o grupo VDS-.
Posteriormente, passaram por sessões de exposição controlada aos raios UVB numa clínica estética. Após essa etapa, realizaram então exames de sangue e fezes para detetar alterações na presença da vitamina D e na microbiota.
Mais sol, mais vitamina D e bactérias fortalecidas
No início da experiência as participantes que haviam tomado suplementos apresentavam níveis satisfatórios de 25-hidróxi-vitamina D (calcidiol), ou 25(OH)D, no sangue — considerada a melhor ‘medida’ da quantidade de vitamina D no corpo.
Após as sessões de exposição aos raios UVB, os dois grupos apresentaram melhorias nos níveis de 25(OH)D, mas o grupo que não tomou suplementos registou uma melhoria até um pouco maior. No estudo, os autores lembram já ter sido demonstrado que a relação entre a produção de vitamina D na pela e a exposição à luz UVB não é linear — na verdade, esta estabiliza quando os níveis de 25(OH)D no sangue atingem um ponto satisfatório.
Relativamente à microbiota, o grupo VDS- em especial também viu, após a exposição à luz, uma melhoria — aqui, expressa na diversificação dos microrganismos ali presentes, variedade essa que costuma estar associada a pessoas mais saudáveis. Foi observado nos exames de fezes, por exemplo, um enriquecimento da presença de bactérias benignas das famílias Lachnospiraceae e Clostridiaeae e do género Ruminococcus.
"Antes da exposição ao UVB, as mulheres (do grupo VDS-) tinham uma microbiota intestinal menos diversificada e equilibrada do que aquelas que tomavam suplementos regulares de vitamina D", explicou num comunicado à imprensa Bruce Vallance, líder do estudo e investigador da Universidade da Colúmbia Britânica. "A exposição ao UVB aumentou a riqueza e a uniformidade de suas microbiotas para níveis indistinguíveis do grupo VDS+, cujo microbioma não foi alterado significativamente”.
"É provável que a exposição à luz UVB de alguma forma altere inicialmente o sistema imunológico. Depois, percebem-se mudanças mais sistémicas, o que torna o ambiente intestinal mais favorável para as diferentes bactérias", acrescenta o cientista.
Potencial para tratamento de doenças
As descobertas abrem caminho também para o cuidado com doenças autoimunes e inflamatórias como a esclerose múltipla e a doença inflamatória intestinal.
Isto porque as condições têm sido associadas a mudanças no estilo de vida e no ambiente de sociedades ocidentais menos expostas a luz solar — e subsequente queda na produção de vitamina D e deterioração da microbiota intestinal.
Acredita-se também que dietas pobres em nutrientes e uso excessivo de antibióticos agravem a composição e funcionamento da microbiota.
Como tal, os autores do estudo publicado no Frontiers in Microbiology endossam o uso de suplementos de vitamina D e a exposição à luz solar nesses casos.