"E porque é que não temos mais casos de sobrevivência? Porque o cancro do pâncreas não é possível de detetar em rastreios ou exames simples com ecografias ou endoscopias. É um cancro muito silencioso e cuja deteção precoce exige que os doentes oiçam o seu corpo e procurem o seu médico assim que notarem sintomas como: dor abdominal, dor lombar persistente, perda de peso repentina e sem explicação, iterícia (pele e olhos amarelos), náuseas e perda de apetite ou problemas digestivos. Especialmente no caso das pessoas que reúnem os fatores de risco como: pancreatite, tabagismo, diabetes, excesso de peso ou obesidade ou casos de cancro do pâncreas na família", explica o engenheiro Vítor Neves, Presidente da Europacolon Portugal (associação de apoio ao doente com cancro digestivo), em entrevista ao Lifestyle ao Minuto.
Os doentes diagnosticados precocemente, ou seja, a tempo de fazer cirurgia, são mais propensos a viverem cinco anos ou mais. Contudo, os sintomas do cancro do pâncreas são muitas vezes vagos, mal compreendidos e associados a outras condições menos graves e mais comuns, o que muitas vezes leva a que o diagnóstico seja feito numa fase muito tardia da doença, muitas vezes ditando o insucesso do tratamento.
No Dia Mundial do Cancro do Pâncreas – que se assinala hoje dia 21 de novembro – a Europacolon Portugal desafia os portugueses a juntarem-se à campanha internacional 'Exigir Mais' (#DemandBetter) na luta contra o cancro mais difícil do mundo. A iniciativa de sensibilização 'Exigir mais. Pelos Doentes. Pela Sobrevivência' tem como objetivo a consciencialização da população em geral e dos profissionais de saúde para os sintomas e fatores de risco associados a esta doença e para a necessidade urgente da deteção precoce. Esta campanha vai ser implementada em 30 países de seis continentes, através das mais de 80 organizações que compõem a World Pancreatic Coalition. Em Portugal - onde as mortes por cancro do pâncreas duplicaram nos últimos 25 anos - será a Europacolon Portugal, membro fundador da World Pancreatic Cancer Coalition e da Pancreatic Cancer Europe, a implementar a campanha digital, nas redes sociais, através de infografias e também de um vídeo que alerta para os sintomas difusos da doença.
"Neste momento o grande objetivo é tornar o cancro pancreático numa doença crónica, aumentar a sobrevivência com qualidade de vida, o que já se consegue com a maioria das doenças oncológicas", sublinha Vítor Neves.
Preste atenção aos sintomas e cuide-se.
O que é o cancro do pâncreas?
O cancro do pâncreas é um tumor maligno do pâncreas e pode ser, também, designado de carcinoma do pâncreas. Ocorre quando há alteração no tecido celular do pâncreas, formando células malignas. A doença progride rapidamente e, normalmente, é assintomática nos estadios iniciais. Em cerca de 70% dos casos o tumor surge na cabeça do pâncreas, enquanto 20% aparecem no corpo e 10 por cento na cauda do pâncreas.
Quantas pessoas afeta em Portugal e no Mundo?
A incidência mundial são 460 mil pessoas, por ano, 130 mil na Europa e 1619 em Portugal, segundo dados Globcan de 2018. A incidência aumentou 23% nos últimos seis anos e prevê-se que continue a aumentar.
Qual é a taxa de sobrevivência de doentes com este tumor?
A sobrevivência a este tipo de tumor é das mais baixas . Só 2% a 8% dos pacientes ultrapassam os cinco anos de sobrevida. A sobrevivência depende muito do estadio da doença à data do diagnóstico. Se o diagnóstico for precoce e puder haver intervenção cirúrgica para remoção da tumor, a sobrevida aumenta muito. Conhecemos pacientes com mais de 12 anos de vida com a doença, devido a um diagnóstico atempado.
Como é diagnosticado?
Por sintomatologia, hemograma e ecografia.
Qual é a importância do diagnóstico precoce?
Um diagnóstico precoce permite aos doentes terem hipótese de viver mais anos e de poderem ter mais hipóteses de realizar uma cirurgia.
Pode ser considerado o cancro mais perigoso de todos?
É considerado um dos cancros mais perigosos devido ao seu índice de mortalidade que é dos mais elevados.
Quais são os sintomas do cancro do pâncreas?
- Cor amarelada dos olhos e pele;
- Emagrecimento sem razão aparente;
- Aparecimento de diabetes de início recente sem aumento de peso;
- Náuseas;
- Dores abdominais e dorsais;
- Alteração dos hábitos intestinais.
Quais são os fatores de risco para o seu aparecimento?
- Idade, a partir dos 50 anos;
- Obesidade;
- Tabagismo;
- Consumo exagerado de bebidas alcoólicas;
- Antecedentes familiares;
- outras doenças oncológicas;
- Doenças inflamatórias intestinais;
- Diabetes recentes sem aumento de peso;
- Pancreatites crónicas.
Afeta sobretudo pessoas em que faixa etária?
A partir dos 50 anos de idade.
Os números de casos são semelhantes nos homens e nas mulheres, ou diferem?
Sim, muito semelhantes. Não há grandes diferenças em género.
No que consiste a campanha internacional da Europacolon Portugal 'Exigir Mais' (#DemandBetter)?
Esta campanha tem como principal objetivo a valorização dos sintomas por parte dos doentes e dos decisores em saúde e profissionais de saúde. Queremos mais e melhor atenção aos sintomas e queremos mais e melhores diagnósticos precoces a quem necessitar. É ainda necessário melhorar a investigação na área do cancro do pâncreas e dar mais apoio aos doentes e familiares de cancro pancreático.
Qual é o intuito desta campanha?
Aumentar a sensibilização da sociedade civil e dos decisores em saúde sobre as vantagens do diagnóstico precoce e chamar a atenção para a necessidade de um tempo de resposta mais rápido, no que diz respeito aos exames de diagnóstico complementares.
O que espera no futuro dos tipos de tratamentos destinados para atacar o cancro do pâncreas? Pensar numa cura ainda é uma utopia?
Neste momento o grande objetivo é tornar o cancro pancreático numa doença crónica, aumentar a sobrevivência com qualidade de vida, o que já se consegue com a maioria das doenças oncológicas.