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Pessoas criam fake news de acordo com as suas crenças, diz estudo

Numa pesquisa realizada nos Estados Unidos, os investigadores detetaram que os voluntários recordavam-se dos dados de acordo com aquilo que acreditavam - mesmo quando se informaram corretamente.

Pessoas criam fake news de acordo com as suas crenças, diz estudo
Notícias ao Minuto

14:00 - 16/12/19 por Liliana Lopes Monteiro

Lifestyle Psicologia e fake news

Um novo estudo constatou que as pessoas que citam estatísticas sobre um assunto polémico tendem a lembrar-se dos dados de acordo com as suas próprias crenças. Ou seja, nem sempre a verdade.

A descoberta foi feita por investigadores da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, e publicada no periódico científico Human Communication Research. “As pessoas podem gerar a sua própria desinformação. Nem tudo vem de fontes externas", disse Jason Coronel, líder do estudo, num comunicado.

Para chegar a essa conclusão, a equipa de Coronel realizou duas análises. Na primeira, foi pedido a um grupo de 110 participantes para que lesse breves descrições sobre quatro questões sociais diferentes, todas com informações numéricas.

Em uma das situações, o assunto apresentava a quantidade de mexicanos que viviam nos Estados Unidos entre 2007 e 2014. Segundo os investigadores, a maior parte das pessoas acredita que essa população cresceu, quando, na verdade, diminuiu de 12,8 milhões para 11,7 milhões no período.

Quando os voluntários foram convidados a anotar esses dados após as leituras, eles relacionaram as informações de acordo com suas crenças. Isto é, os participantes tinham muito mais probabilidade de se lembrar dos números de uma maneira que concordasse com os seus pensamentos, mesmo que não fossem o facto verdadeiro. 

"Tivemos casos em que os participantes obtiveram os números exatamente corretos, mas invertidos", contou Coronel. "Eles não estavam a inventar, pois acertaram os números. Mas os seus preconceitos estavam a levá-los a lembrar-se dos dados da forma em que acreditavam". 

Os especialistas utilizaram ainda aparelhos que monotorizam o movimento dos olhos durante a leitura para analisar como as pessoas estavam a ler os textos. “Pensaria que, se os participantes prestassem mais atenção aos números contrários às suas expectativas, se lembrariam melhor deles. Mas não foi isso que observamos", afirmou o especialista.

Tendo ainda ressaltado que as pessoas provavelmente não fazem isso de propósito, mas o fenómeno é perigoso. "O problema torna-se maior quando eles compartilham sua desinformação com os outros”.

Isso foi observado no segundo estudo, em que os cientistas investigaram como essas distorções poderiam propagar-se, tornando-se ainda mais diferentes da verdade. Para testar isso, os cientistas recolheram os resultados dos voluntários e distribuiram-nos a outros participantes, que por sua vez os passaram para outros e assim em diante.

Os resultados mostraram que, em média, a primeira pessoa inverteu os dados, dizendo que o número de imigrantes mexicanos aumentou ao invés de diminuir. No fim da cadeia de voluntários, os participantes acreditavam, em média, que o número havia aumentado 4,6 milhões entre 2007 e 2014, quando diminuiu 1,1 milhão. "Esses erros de memória tendem a ficar cada vez maiores à medida que são transmitidos entre as pessoas", disse Matthew Sweitzer, outro autor do artigo.

Para os especialistas, isso indica que devemos prestar extrema atenção às informações que absorvemos e reproduzimos, e não apenas onde as consumimos. "Necessitamos de perceber que fontes internas de desinformação podem ser tanto ou mais significativas que as externas", lembrou a especialista Shannon Poulsen. "Vivemos com os nossos preconceitos permanentemente, mas só entramos em contacto com informações falsas ocasionalmente". 

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