"Mais Tempo para o Doente – Um Bom Desejo de Ano Novo!". Médico explica

João Araujo Correia, Presidente da Sociedade de Medicina Interna (SPMI), partilhou com o Lifestyle ao Minuto um artigo de opinião no qual reflete na relação entre médicos e pacientes.

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Notícias Ao Minuto
03/01/2020 16:00 ‧ 03/01/2020 por Notícias Ao Minuto

Lifestyle

Artigo de opinião

Há algumas frases lapidares, que não esquecemos e nos guiam na nossa vida profissional. Como Médico, nunca esqueci aquela de William Osler: 'Se ouvirmos o doente, ele diz-nos o diagnóstico'. É uma máxima curiosa. Sugere que o doente joga com o médico uma espécie de charada, em que a solução é o seu próprio diagnóstico, só encontrado com a audição atenta da sua mensagem encriptada.

Só ouve bem, e tem acesso a toda a informação, com capacidade para a descodificar, quem dá tempo ao outro, e lhe dá a importância de um igual. O tempo, é fundamental para uma relação médico-doente empática, que é uma condição determinante do exercício da medicina com humanidade.

O tempo que concedemos aos nossos doentes está ameaçado. A tecnologia dá-nos acesso ao conhecimento quase instantâneo, mas perturba-nos o olhar e o contacto físico. Às vezes, quase sem nos apercebermos, mostramos como estamos apressados. De soslaio, espreitamos o relógio e fazemos constantes interrupções no discurso do paciente, que deveria ser fluido, para ser completo. Esquecemos a parte não-verbal da comunicação, e estragamos tudo!

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Querem tornar a relação médico-doente, património imaterial da humanidade. Acho que faz sentido fazê-lo, nestes tempos conturbados. Será uma forma de a preservar e de recordar o seu valor.

As máquinas terão tendência a substituir com vantagem, muito trabalho médico. Os relatórios dos exames de imagem ou de anatomia patológica, poderão ser feitos por computador, com maior precisão. A cirurgia robótica irá crescer cada vez mais, no local ou até à distância.

Há alguns aspetos do trabalho médico, que a tecnologia não substituirá: o Raciocínio Clínico, a Empatia e a Humanidade. Para tudo isto, o tempo que damos ao nosso doente para nos contar a sua história, não pode ser espartilhado, com índices cegos de produção. Os gestores da saúde têm de valorizar o exercício de uma medicina de alto valor e encontrar formas de medir e auditar a qualidade assistencial.

O financiamento apenas baseado nos números, sejam eles de consultas, internamentos ou cirurgias, já é obsoleto.

É um bom desejo de ano novo, que isto mude. Será bom para a nossa saúde, e para as nossas finanças, que se analisem os resultados, onde se inclui a satisfação dos doentes.

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