Um novo estudo publicado na revista da Associação Médica Americana (JAMA), e divulgado pelo jornal espanhol El País, relacionou o consumo de ovos, e o colesterol dos ovos, com a mortalidade cardiovascular, após um acompanhamento de 29.615 norte-americanos durante 31 anos. A pesquisa, embora tenha observado um ligeiro aumento no risco cardiovascular em quem consome mais ovos, consistiu numa correlação entre duas variáveis (ovos e risco cardiovascular).
Nesse sentido o periódico espanhol alerta que é necessário ter em mente que correlação não implica causalidade. Ou seja, o facto de um acontecimento ocorrer ao mesmo tempo que outro (ou antes, ou depois) não é a prova 100% segura de que o primeiro seja a causa do segundo, ou vice-versa.
E então surge a pergunta, a correlação entre a ingestão de ovos e a mortalidade por doenças cardiovasculares é forte no novo estudo da JAMA?
Não, é modesta, segundo afirma o médico Robert H. Eckel num editorial que acompanha o estudo.
O estudo
Foi solicitado aos voluntários que anotassem o seu consumo de ovos em questionários alimentares. É provável que isto gere erros por descuido, esquecimento ou má interpretação das perguntas. Uma limitação importante do estudo, conforme detalha o Departamento de Nutrição da Universidade Harvard, é que só foi avaliada a dieta uma vez, e os resultados foram quantificados 30 anos depois. Durante este tempo, muitos voluntários podem ter alterado a sua alimentação, o que sem dúvida influirá nos resultados do estudo.
Além disso, o estudo não distingue entre os ovos consumidos de forma direta pelos participantes (como uma omelete) e o ovo incorporado noutros alimentos. O que gera a dúvida, como alerta o El País: e se forem os ingredientes presentes nessas outras preparações que aumentam o risco cardiovascular? Um desses ingredientes, que não aparece como possível fator de confusão no estudo, é o açúcar (quantos dos ovos consumidos pelos norte-americanos são em forma de bolos, cupcakes, bolachas etc.?). Sendo que a relação do açúcar com o risco cardiovascular é provável, já que está por trás de quadros de obesidade.
O estudo é transversal para outros países
Os próprios autores do estudo respondem: "a generalização dos resultados a populações que não pertencem aos EUA exige precaução por serem diferentes tanto os seus contornos de alimentação e nutrição como a sua epidemiologia de enfermidades crónicas". Hoje, quase 90% dos adultos dos EUA apresentam excesso de peso.
A opinião dos especialistas
O Departamento de Nutrição da Universidade Harvard insiste que “estas conclusões devem ser interpretadas no contexto de vários estudos prévios, que demonstraram que uma ingestão baixa a moderada de ovos não está associada a um maior risco de doenças cardiovasculares em pessoas de resto saudáveis”. Harvard inclui as seguintes declarações do doutor Frank Hu, chefe do Departamento de Nutrição da Escola de Saúde Pública Harvard Chan: “Para quem está saudável em geral, embora os ovos não sejam essenciais na alimentação, o seu consumo baixo ou moderado pode ser incluído como parte de um padrão de alimentação saudável”.
"Estas novas conclusões podem reavivar o debate sobre o papel do colesterol na dieta e o consumo de ovos nas doenças cardiovasculares, mas não mudarão as pautas gerais de alimentação saudável que enfatizam um maior consumo de frutas, hortaliças, grãos integrais, frutos secos e legumes, e a redução do consumo de açúcar e carnes vermelhas e processadas", concluiu.