Por outro lado, e graças à incorporação da biotecnologia e à possibilidade de lidar com milhares de dados ao mesmo tempo, nos últimos dez anos aprendemos que o cancro é uma doença dinâmica, capaz de incorporar alterações moleculares nas células tumorais ao longo do tempo e como consequência dos tratamentos administrados, gerando resistência aos medicamentos já utilizados e sensibilidade a novos tratamentos.
Esse novo nível de conhecimento fez com que o tratamento oncológico se alterasse completamente durante o processo diagnóstico e terapêutico. A possibilidade de sequenciamento em massa de tumores tanto em tecido sólido quanto em biópsia líquida, e a possibilidade de identificar essas características moleculares no ADN do tumor, permite-nos desenvolver terapias direcionadas, às vezes com resultados muito bons em termos de sobrevivência e qualidade de vida, dando ao doente não apenas uma nova oportunidade terapêutica, mas também uma oportunidade de tratamento personalizado com um medicamento que atua contra um alvo específico que identificamos no tumor em tempo real.
Uma das ferramentas mais completas de que dispomos até ao momento são os estudos genómicos da OncoDNA, uma plataforma de diagnóstico que oferece diferentes possibilidades para o estudo de ADN, ARN e proteínas, tanto em sangue como em tecido, e no caso do sangue, com o estudo OncoTRACE, é possível selecionar painéis de sequenciamento adaptados a diferentes tipos de tumores com o estudo de 40 genes e a possibilidade de estudar mais 15 genes à escolha do prescritor. A identificação de alvos terapêuticos acionáveis na doença metastática é, sem dúvida, um dos objetivos, mas a possibilidade de realizar biópsia líquida, além de evitar biópsias de tecido muito mais invasivas, permite a quantificação do ADNtc em tempo real e a possibilidade de monitorização da doença e antecipação da sua progressão.
Essas são conquistas enormes e é nossa responsabilidade traduzi-las para a prática clínica diária, oferecendo aos doentes informações verdadeiras e úteis. No entanto, não estamos satisfeitos, e o grande desafio agora é transferir todo esse conhecimento para doenças precoces e gerar ferramentas que permitam selecionar quais os doentes que serão beneficiados por tratamentos adjuvantes e quais não, evitando tratamentos excessivos e otimizando recursos, além de evitar o custo biológico para um doente em tratamento com quimioterapia.