O novo coronavírus atinge principalmente os pulmões, mas o patógeno pode entrar nas células cerebrais. De facto, cerca de metade dos pacientes relatam sintomas neurológicos, incluindo dores de cabeça, confusão e delírio, sugerindo que o vírus também pode atacar o cérebro.
Um novo estudo preliminar (ainda não revisto por pares), publicado online esta quarta-feira e citado pelo The New York Times, oferece a primeira evidência clara de que, em algumas pessoas, o vírus invade as células cerebrais, sequestrando-as para fazer cópias de si mesmo. O vírus também parece sugar todo o oxigénio que tem próximo, matando as células vizinhas 'de fome'.
Ainda não é claro como o vírus chega ao cérebro ou com que frequência desencadeia esse trilho de destruição. Os investigadores acreditam que a infeção do cérebro é rara, mas algumas pessoas podem ser mais suscetíveis devido a antecedentes genéticos ou alta carga viral, por exemplo.
Quem liderou a investigação foi a imunologista da Universidade de Yale, Akiko Iwasaki, que afirma que as consequências desta invasão podem ser letais.
No novo estudo, a equipa documentou a infeção cerebral de três maneiras: no tecido cerebral de uma pessoa que morreu de Covid-19, num modelo em roedores e em organóides (grupos de células cerebrais que imitam a estrutura tridimensional do cérebro).
Outros patógenos - como o Zika - são conhecidos por infetar células as cerebrais. As células imunológicas 'inundam' os locais danificados, destruindo as células infetadas. O coronavírus é mais furtivo: explora o mecanismo das células cerebrais para se multiplicar, mas não as destrói. Em vez disso, sufoca o oxigénio para as células adjacentes, fazendo com que elas morram. O coronavírus parece diminuir rapidamente o número de sinapses - conexões entre os neurónios - e ainda não se sabe se isso é reversível.
O vírus infeta uma célula por meio de uma proteína chamada ACE2. Essa proteína aparece em todo o corpo e especialmente nos pulmões, explicando por que são os alvos favoritos do vírus. Estudos anteriores sugeriram que o cérebro tem muito pouca ACE2, mas o novo estudo descobriu que o SARS-CoV-2 poderia, de facto, entrar nas células cerebrais usando essa porta.
Os resultados sugerem ainda que a infeção no cérebro pode ser mais letal do que a infeção respiratória.
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