A psoríase é uma doença crónica, inflamatória, autoimune e sistémica que se manifesta na pele, podendo surgir em qualquer idade. Afeta 1 a 3% da população mundial e mais de 200 mil portugueses, tem um impacto psicossocial grave no doente, no entanto, muitos ainda sofrem desnecessariamente devido a diagnóstico tardio ou incorreto, falta de acompanhamento médico, tratamento desadequado e estigmatização social.
Caracteriza-se pelo aparecimento de lesões vermelhas, espessas e descamativas, que afetam sobretudo os cotovelos, joelhos, região lombar, couro cabeludo e unhas. Em cerca de 1/3 dos doentes, a psoríase atinge as articulações, dando origem à artrite psoriática.
Mesmo nas suas formas mais ligeiras, a patologia tem um forte impacto na qualidade de vida dos doentes, porque é extremamente visível, acabando por provocar alguma discriminação e isolamento.
De modo a assinalar o mês de sensibilização para esta doença dermatológica, cujo Dia Mundial da Psoríase se assinala no próximo dia 29 de outubro, estivemos à conversa com a médica Sofia Lopes, que explica nesta entrevista tudo o que tem de saber sobre a 'misteriosa' psoríase.
O que é a psoríase?
A psoríase é uma doença crónica da pele, inflamatória e não contagiosa, que pode ter uma grande variedade de manifestações clínicas.
Qual é a taxa de prevalência desta patologia em Portugal e no mundo?
É uma doença cutânea comum, com uma prevalência de 2 a 3% da população mundial. Em Portugal, estima-se que afete cerca de 250 a 300 mil pessoas.
Costuma surgir em alguma idade especifica?
Pode surgir em qualquer idade, embora seja mais frequente ter início na idade adulta do que em idade pediátrica.
Quais são as causas para o aparecimento desta doença?
A psoríase está relacionada com alterações na resposta do sistema imunitário, embora a causa precisa ainda não seja conhecida. Sabemos que diversos fatores contribuem para este desequilíbrio, quer genéticos quer ambientais. Estima-se que cerca de 40% dos doentes com psoríase têm história familiar. Vários fatores ambientais são apontados no desenvolvimento e agravamento da doença, como o tabaco, o stress, infeções ou certos medicamentos.
Como se manifesta?
Existem diversos subtipos de psoríase, embora a forma mais frequente se caracterize pelo aparecimento de lesões vermelhas, espessas e com descamação. Os locais mais frequentemente envolvidos são os cotovelos, os joelhos, o couro cabeludo, a região lombar e as pernas. Cerca de um terço dos doentes têm também sintomas nas articulações. Estas lesões têm normalmente um carácter ondulante, com fases de melhoria e agravamento. Muitos doentes referem sentir-se melhor no Verão e pior no Inverno, fruto da menor exposição solar durante os meses frios do ano.
Afeta igualmente ambos os sexos?
Sim, afeta igualmente ambos os sexos.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é essencialmente clínico e efetuado por um Dermatologista. Em alguns casos, pode ser necessária a confirmação da doença através da realização de uma biópsia de pele.
Quais os tratamentos que existem?
O tratamento ideal depende de vários fatores: a gravidade e extensão da doença, os antecedentes médicos, a medicação prévia do doente. Os tratamentos de aplicação local são habitualmente recomendados nos casos mais ligeiros e são suficientes numa grande percentagem de doentes. A exposição solar de forma moderada é um ótimo complemento no tratamento. Da mesma forma, a fototerapia, que consiste na exposição controlada da pele a fontes artificiais de radiação ultravioleta, é uma opção frequentemente utilizada em doentes em que o tratamento local não é suficiente. Nos casos mais graves, há necessidade de recorrer a tratamentos sistémicos, sejam em comprimidos ou injetáveis.
Tem cura?
A psoríase é uma doença crónica que, até ao momento, não tem cura. No entanto, os avanços recentes no tratamento permitiram uma melhoria clara na capacidade de controlo da doença, o que contribui para um aumento significativo da qualidade de vida dos doentes.
Pode resultar em outras complicações para a saúde?
Hoje percebemos que a psoríase se associa a muitas comorbilidades, entre elas hipertensão, diabetes, dislipidemia. É por isso fundamental que os doentes sejam observados de forma multidisciplinar e os seus fatores de risco sejam vigiados e controlados.
Como é que a psoríase pode afetar a vida dos doentes?
Como a gravidade da doença é muito variável, a repercussão na vida dos doentes também o é. Nos casos mais graves, a doença pode ser incapacitante para o trabalho e a própria vida pessoal. Por outro lado, a forma como os doentes encaram a doença pode ser muito distinta. Vemos doentes com poucas lesões cuja doença tem uma influência enorme no seu quotidiano, enquanto outros com lesões extensas podem sentir menos limitações. Tudo isto tem implicações no tipo de tratamento proposto.
É uma doença que ainda provoca um certo estigma social?
Infelizmente sim. A presença de lesões em áreas expostas da pele cria um impacto negativo, sobretudo pela ideia errada de se poder tratar de uma doença contagiosa. Como consequência, muitos doentes com psoríase sentem-se de certa forma discriminados, o que acaba por contribuir para sintomas depressivos e isolamento social.
Quais são os mitos mais comuns acerca da psoríase?
• A psoríase é uma doença contagiosa - A psoríase é uma doença inflamatória não contagiosa, influenciada por fatores genéticos e ambientais.
• A psoríase relaciona-se com a higiene da pele - O aspeto espesso e descamativo da pele não tem relação com a higiene, mas sim com alterações do sistema imunitário que influenciam a proliferação das células na pele.
• A psoríase resolve espontaneamente - Na maioria dos casos de psoríase não há uma resolução espontânea e definitiva das lesões, sendo por isso importante um acompanhamento regular da doença, de forma a permitir o seu controlo adequado.
• A psoríase é uma doença simples da pele - A psoríase é uma doença inflamatória sistémica com um grande número de comorbilidades associadas. Exemplo disso, são doenças cardiovasculares como a diabetes, a hipertensão e a dislipidemia, mas também o atingimento articular da doença.