A propósito do Dia do Cancro do Pulmão, que se assinala a 1 de agosto, importa alertar sobre esta doença que se constitui como a causa mais comum de morte por cancro em todo o mundo.
Existem estudos com vários anos de investigação que apontam as vantagens de se estabelecerem programas de deteção precoce para esta doença oncológica, nomeadamente a orientação terapêutica célere em caso de diagnóstico de cancro do pulmão e a orientação para cessação tabágica.
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O tabagismo constitui o fator de risco mais importante para o aparecimento de cancro do pulmão. A maioria das pessoas com cancro do pulmão, são fumadoras ativas no momento do diagnóstico e gostariam de parar de fumar. A cessação tabágica traz benefícios a todos os doentes com cancro do pulmão, independentemente da fase em que se encontra a doença, desde os estádios iniciais aos mais avançados.
Maria Esteves Brandão© DR
Os benefícios imediatos da cessação incluem melhoria na oxigenação, redução da pressão arterial, recuperação do olfato e paladar, aumento da energia e reforço da resposta imunológica. Ao nível psíquico, a cessação do tabagismo está associada à melhoria da função cognitiva, bem-estar psicológico e auto-estima. Doentes com cancro do pulmão obtêm todos esses benefícios, além de diminuição do cansaço e falta de ar.
Em doentes com cancro do pulmão localizado, com indicação cirúrgica, parar de fumar antes da cirurgia pulmonar reduz significativamente o risco de complicações durante e após a cirurgia, nomeadamente o risco de infeções, e favorece a cicatrização. Além disso, os doentes que não fumam têm duas a três vezes menos risco de ter uma recidiva da doença ou de desenvolver um segundo tumor.
O uso de tabaco pode afetar significativamente o metabolismo de alguns fármacos de quimioterapia, prejudicando a eficácia do tratamento. Vários estudos apontam que o mesmo se aplica a outros tratamentos sistémicos como as terapêuticas-alvo e a imunoterapia.
Os doentes que necessitam de radioterapia e abandonam o tabaco, demonstram melhor sobrevida e têm menor risco de complicações relacionadas com o tratamento, quando comparados com doentes que continuam a fumar.
Em suma, as intervenções para a cessação do tabagismo desempenham um papel fundamental no tratamento do cancro do pulmão. Estas podem ser divididas em intervenções psicossociais - métodos que não usam medicamentos, como aconselhamento e acompanhamento em Psicologia e Nutrição - e farmacológicas - utilizando medicamentos como substitutos de nicotina. Acredita-se que os tratamentos comportamentais e farmacológicos têm utilidade complementar, aumentando significativamente a probabilidade de sucesso e de manutenção da abstinência a longo prazo. Este é o objetivo das equipas multidisciplinares empenhadas na cessação tabágica.
Se é fumador e foi recentemente diagnosticado com cancro do pulmão, pode contribuir ativamente para o seu tratamento, deixando de fumar. Quanto mais cedo parar de fumar, mais tempo e qualidade de vida ganha. Nunca é tarde para abandonar o tabagismo.
Se é fumador e tem medo de desenvolver cancro do pulmão, parar de fumar é a melhor forma de o prevenir. Ao integrar um programa de deteção precoce de cancro do pulmão - que consiste na avaliação anual em consulta, associada à realização de uma Tomografia Computorizada do tórax de baixa dose - podem ser identificados nódulos pulmonares que podem representar cancro do pulmão em fase inicial ou beneficiar de vigilância apertada. A par desta avaliação clínica, pode beneficiar de um programa de cessação tabágica adaptado às suas necessidades e com uma equipa multidisciplinar especializada composta por pneumologistas, enfermeiros, psicólogos e nutricionistas. Procurar ajuda especializada para a cessação tabágica é fundamental e aumenta consideravelmente as hipóteses de sucesso. Não adie mais!
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