Desde o estalar da guerra que as notícias foram tomadas pelos relatos e imagens do que se passa na Ucrânia. Expostos a notícias e conversas sobre esta nova realidade, é natural que os mais novos tenham perguntas e formas diferentes de reagir.
"A guerra pode afetar profundamente as crianças/jovens – a forma como pensam e sentem", pode ler-se no documento.
Para ajudar jovens e crianças a perceber o mundo que hoje existe, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) divulgou o documento 'Conversar sobre a Guerra' com perguntas e respostas, para pais e cuidadores de crianças e jovens.
Por que é importante conversar sobre a guerra?
Mesmo sem estarem em ambientes de guerra, muitas crianças são expostas à violência e não percebem o que está a acontecer, explica a OPP. "É natural que se sintam ansiosas, aterrorizadas, confusas ou com medo. Por isso, é importante responder às dúvidas e dar-lhes informação apropriada à idade, capacidade de compreensão e experiências para que se sintam seguras e protegidas", pode ler-se. Assim, defende a Ordem, é essencial conversar, mas também não se deve forçar se as crianças - sobretudo as mais pequenas - não se mostrarem interessadas ou não quiserem falar sobre o tema. Ainda assim, os adultos devem mostrar-se disponíveis para a conversa.
As crianças não vão sentir-se ainda mais assustadas por estarmos a conversar sobre guerra?
Não, defende o documento. "Por muito que conversar sobre violência, conflitos e guerra possa ser assustador e gerar medos, é ainda mais assustador pensar que ninguém pode falar connosco sobre esses sentimentos", é referido. É importante conversar de forma sensível e apoiar os mais novos no que estão a sentir, deixando claro que podem sempre dizer o que estão a pensar e a sentir. "As crianças e os jovens precisam de saber que os adultos conseguem falar sobre temas e sentimentos difíceis e que estão disponíveis para as/os ajudarem a fazer o mesmo", escreve a Ordem. Aqui, aproveite ainda para "perceber o que sabem sobre o assunto, corrigir ideias erróneas, filtrar a informação e transmitir segurança".
As crianças/jovens conseguem compreender o que é uma guerra?
Tal como para os adultos, também para as crianças é difícil compreender uma guerra. Contudo, os mais novos sabem "identificar o sofrimento e conseguem fazer analogias com a sua própria experiência". É natural que se sintam confusas, perturbadas, ansiosas, assustadas, preocupadas ou tristes, e aqui os adultos devem estar atentos a alterações no sono, no comportamento, apetite ou concentração. O documento ressalva que crianças que estejam a passar por situações de violência, divórcio ou morte de um familiar podem ter um risco mais elevado de experienciar mais ansiedade e mais alterações do comportamento. Também as crianças mais novas podem ter mais dificuldade em separar-se dos Pais e Cuidadores, mostrar mais dependência, irritabilidade ou 'birras'.
Como conversar sobre a guerra?
Por ser complexo e assustador falar sobre a guerra com os mais novos, a OPP sugere:
- Permitir à criança/jovem expressar os seus pensamentos e sentimentos;
- Escutar e descobrir o que a criança/jovem já sabe;
- Validar os sentimentos da criança/jovem;
- Adequar a linguagem e a informação à idade;
- Assegurar as crianças e jovens de que estão protegidos e seguros;
- Sublinhar que há esperança e muitas pessoas a tentar ajudar;
- Assistir às notícias em conjunto com as crianças mais velhas e jovens;
- Evitar estereótipos;
- Utilizar a conversa para encorajar a discussão de outros temas;
- Encorajar comportamentos pró-sociais;
- Monitorizar o stress a Saúde Psicológica das crianças/jovens;
- Monitorizar e cuidar da nossa Saúde Psicológica.
A Ordem dos Psicólogos Portugueses sublinha que não precisamos de ter todas as respostas nem ser especialistas num assunto para ouvir o que as crianças/jovens pensam e sentem.
Como responder a perguntas específicas sobre a guerra?
Perante perguntas mais complexas é importante perceber primeiro o que sabe a criança. Depois, deve-se mostrar que existem diferentes perspetivas ao olhar para um conflito, defendem os psicólogos no documento.
Como podemos aproveitar a guerra para educar para a não violência e construir a paz?
"A guerra pode ser um pretexto para procurar oportunidades de aprendizagem e de educar para a não violência, interiorizando a ideia de que os conflitos podem ser resolvidos de forma pacífica", defende o documento. Mostrar empatia, ajudar a identificar e expressar a raiva, demonstrar os passos necessários para resolver um problema e valorizar as competências de não violência são algumas das propostas que se podem ler no documento.
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