Um Acidente Vascular Cerebral resulta da interrupção do normal fluxo sanguíneo a nível cerebral. Sem uma irrigação suficiente as células nervosas do cérebro morrem ou deixam de funcionar normalmente. Esta situação pode acontecer por dois motivos: pela ausência de oxigénio - o designado AVC Isquémico que representa 80% dos casos - ou porque uma artéria se rompe - AVC hemorrágico que representa 20% de todos os casos.
Quando surgem os primeiros sintomas de AVC - início súbito de perda de força na face, num braço, ou alteração da fala - o doente é encaminhado rapidamente para o serviço de urgência, onde realiza uma TAC cerebral e é administrado contraste para visualizar os vasos cerebrais caso se suspeite de oclusão do mesmo.
No tratamento do AVC é fundamental uma equipa multifacetada de profissionais de saúde, que no seu conjunto bem oleado, pode proporcionar o melhor desfecho clínico.
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Consoante o tipo de AVC, o tratamento é distinto: caso se trate de um AVC isquémico - que resulta de oclusão de um vaso cerebral - pode ser sujeito a tratamentos de revascularização dentro das primeiras horas após aparecimento dos sintomas. A primeira abordagem, é administrar um medicamento intravenoso trombolítico com o objetivo de dissolver o coágulo cerebral. Posteriormente o doente é submetido a um cateterismo cerebral onde, através de dispositivos mecânicos se consegue, com bastante eficácia, remover o coágulo. Chamamos a esse procedimento trombectomia mecânica.
Prof. Pedro Castro© DR
No AVC hemorrágico - que pode ser causado pela rutura de um aneurisma cerebral - o vaso danificado deve ser selado através de cateterismo cerebral ou neurocirurgia.
De qualquer das formas, após o tratamento emergente, o doente deve ficar internado em vigilância apertada para evitar recorrência de sintomas e monitorização dos parâmetros vitais. Isso é conseguido da melhor forma numa unidade de cuidados intermédios dedicada, a qual é apelidada de Unidade de AVC.
Mas quais são as causas do AVC? O AVC isquémico tem múltiplas causas. Cerca de 30% dos AVC resulta de embolia com origem no coração. A fibrilhação auricular é uma arritmia cardíaca silenciosa que pode originar coágulos no coração. Um eletrocardiograma ou um estudo de Holter durante 24 horas ajuda na sua deteção. Hoje em dia, surgem implantes pequenos debaixo da pele que são mais eficazes.
Noutros 20% dos casos, a causa do AVC é a aterosclerose de vasos cerebrais. Por exemplo, uma placa carotídea que provada um aperto marcado do calibre interno do vaso. Para detetarmos este problema realizamos um ecoDoppler cervical e transcraniano, ou menos frequentemente um estudo angiográfico por TAC ou Ressonância Magnética. Cerca de 20% dos casos, pode ser devido a enfartes por doença dos pequenos vasos cerebrais, que devem ser avaliados através de Ressonância Magnética cerebral. Há outras causas mais raras que podem obrigar a um estudo mais extenso e aprofundado.
Após a identificação da causa do AVC é necessário individualizar o tratamento. No geral o doente inicia rapidamente medicação para proteção vascular. No caso de ser detetada uma fibrilhação auricular, o medicamento anti trombótico é um anticoagulante cuja função é evitar a formação de coágulos a nível cardíaco. Naqueles casos de aterosclerose significativa, a obstrução arterial é resolvida com cirurgia vascular cervical e remoção da placa.
O tratamento não ficaria completo sem incluir um atempado programa de reabilitação motora e da linguagem para o retorno do doente aos níveis de funcionamento prévio, que podem incluir, entre outros, fisioterapia, terapia ocupacional e terapia da fala.
Não devemos esquecer de continuar a tratar e otimizar os fatores de risco vascular, como a diabetes mellitus, a hipertensão, o colesterol aumentado, entre outros. Devemos assim: medir regularmente e controlar a pressão arterial; controlar a diabetes e o colesterol; reduzir a quantidade de sal nos alimentos; controlar o peso; não fumar; praticar atividade física regular, combatendo o sedentarismo; privilegiar uma dieta equilibrada, aumentado o consumo de vegetais.
O acompanhamento regular pelo seu médico neurologista é outro fator importante para a prevenção da doença e promoção da saúde. Porque há vida depois do AVC.
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