Açores têm "produtos de excelência" mas não tiram partido do potencial
Os Açores têm "produtos de excelência", como a carne, o peixe, os laticínios e os hortícolas, mas ainda não tiram partido do seu potencial, defendeu hoje o chef Vítor Sobral, que tem um restaurante na ilha Terceira.
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Lifestyle Vítor Sobral
"Se a comercialização dos produtos de excelência dos Açores fosse tida como uma grande prioridade e fosse organizada, era um oásis no meio do oceano, que trazia muitas mais-valias económicas, tanto para os Açores como para o país", avançou Vítor Sobral, em declarações à Lusa.
Encharéu, lírio, carne do Ramo Grande e leite biológico dos Açores são alguns dos produtos que integram a ementa de um jantar, em que Vítor Sobral conta com a colaboração do chef Diogo Rocha, do Mesa de Lemos (com uma estrela Michelin), e do enólogo Hugo Chaves, que combina os pratos com vinhos Dão, da Quinta de Lemos.
O evento, realizado na terça-feira no restaurante de Vítor Sobral, na ilha Terceira, Oficina da Esquina, é também uma oportunidade para "chamar a atenção dos responsáveis políticos para a riqueza dos produtos dos Açores".
"Na minha opinião não se tira partido do potencial que os produtos têm", salientou Vítor Sobral, acrescentando que "estes eventos são uma forma de, uma vez mais, pôr o tema na agenda".
Entre esses produtos, está, por exemplo, o peixe, que nem sempre o chef consegue encontrar com facilidade na ilha em que é descarregado em lota.
"Às vezes tenho [dificuldades] porque há mercados, como o espanhol, o francês ou o italiano, que conseguem pagar, porque o mercado deles tem capacidade financeira, preços mais caros do que o mercado interno consegue pagar", explicou.
Vítor Sobral defende a criação de uma "quota para consumo interno, vendida por um preço justo", e o aumento do preço para exportação.
"O peixe dos Açores, para criar riqueza circular, poderia ser vendido para fora, mas teria de haver uma percentagem que ficasse nos Açores, para que quem quisesse comer o peixe dos Açores viesse às ilhas comê-lo", apontou.
O leite, biológico e de pastagem, "deveria ser vendido e tratado de outra forma" e a carne, sobretudo da raça do Ramo Grande, deveria ser mais "acarinhada", segundo o chef.
"Devia-se fazer o desmanche e a maturação da carne para criar valor acrescentado à economia açoriana", afirmou.
Também outros produtos agrícolas, como "a batata, os alhos, a meloa, o tomate" e outras frutas, "se fossem trabalhados de outra forma, teriam uma mais-valia muito grande", assegurou.
O queijo e a manteiga dos Açores já são produtos habituais na cozinha de Diogo Rocha, "discípulo" de Vítor Sobral, desde 1999.
A ida aos Açores trouxe outras "descobertas", como a nêveda, uma erva aromática que pretende incorporar nos seus pratos.
"É um dos produtos que eu desconhecia completamente e que fiquei fã. Vamos utilizar", salientou.
Além da "constatação" da qualidade dos produtos açorianos, Diogo Rocha aproveitou a deslocação aos Açores para conhecer novos pratos, que serão "uma fonte de inspiração".
"Tive o prazer de provar a sopa de Espírito Santo e a Alcatra. Vamos percebendo que esta cultura de bem comer aqui é bem presente. Isso ajuda-nos a inspirar quando cozinhamos. E também é isso que levamos daqui muitas vezes, levamos histórico para podermos criar os nossos pratos", apontou, referindo-se a pratos tradicionais da ilha Terceira.
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