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Miomas uterinos. O problema que afeta milhares de mulheres em Portugal

Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, Catarina Neves, médica interna de ginecologia/obstetrícia no Centro Hospitalar Universitário do Algarve, em Portimão, explica que os miomas uterinos são tumores benignos, mas em casos mais graves podem levar à remoção do útero.

Miomas uterinos. O problema que afeta milhares de mulheres em Portugal
Notícias ao Minuto

10:30 - 13/12/22 por Adriano Guerreiro

Lifestyle Médico explica

Em Portugal, estima-se que dois milhões de mulheres desenvolvam miomas uterinos. Podem ser de vários tipos e, apesar de existirem alguns fatores de risco e formas de os prevenir, as causas são desconhecidas. "Os miomas submucosos localizam-se dentro da cavidade uterina. Os intramurais crescem na espessura da parede do útero, e os subserosos crescem para o exterior do útero", explica ao Lifestyle ao Minuto, no âmbito da rubrica 'Médico explica', Catarina Neves, médica interna de ginecologia/obstetrícia no Centro Hospitalar Universitário do Algarve, em Portimão.

"Os miomas podem surgir após o início da produção de estrogénios pelo corpo da mulher. Assim, podem desenvolver-se durante a idade reprodutiva", continua. 

Consultas ginecológicas regulares são a forma mais indicada para detetar este problema. "As mulheres devem optar por uma alimentação saudável e atividade física regular para diminuir o seu risco. Além disso, devem manter uma vigilância ginecológica adequada."

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Na grande maioria dos casos, os miomas uterinos são benignos. Ainda assim, em situações mais graves, podem até levar à remoção do útero.Os miomas afetam cerca de 25% a 40% da população feminina

O que são miomas uterinos?

Os miomas uterinos, também conhecidos como fibromiomas ou leiomiomas, são tumores pélvicos benignos que crescem no tecido muscular do útero (miométrio). 

Quais as principais causas?

As causas dos miomas ainda não foram identificadas, mas há fatores de risco que podem estar associados ao seu surgimento e crescimento. Os principais fatores de risco são a raça negra, menarca [primeiro período menstrual] precoce, nuliparidade (mulher que nunca teve filhos), obesidade, fatores dietéticos como consumo de álcool ou carnes vermelhas, pressão arterial elevada e familiares em primeiro grau com miomas. 

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É algo comum nas mulheres portuguesas? 

Os miomas afetam cerca de 25% a 40% da população feminina, atingindo uma prevalência de 60% a 70% aos 50 anos. Em Portugal, estima-se que dois milhões de mulheres apresentem esta condição. 

Existem vários tipos de miomas?

Os miomas podem ser classificados como submucosos, intramurais ou subserosos, conforme a sua localização. Os miomas submucosos localizam-se dentro da cavidade uterina. Os miomas intramurais crescem na espessura da parede do útero, e os miomas subserosos crescem para o exterior do útero. 

É considerado um tumor benigno, mas existem casos em que pode ser pior? 

O risco de malignidade é muito baixo, inferior a 1% das mulheres com miomas. 

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Existe alguma idade de risco ou pode desenvolver-se em qualquer mulher, em qualquer fase da vida?

Os miomas podem surgir após o início da produção de estrogénios pelo corpo da mulher. Assim, podem desenvolver-se durante a idade reprodutiva. Após a menopausa, dada a diminuição da produção de estrogénios, os miomas param de crescer e começam a reduzir as suas dimensões. 

 A hemorragia uterina anormal é o sintoma mais comum, apresentando-se na forma de menstruações abundantes

A partir de que idade a mulher deve ficar mais atenta?

As mulheres devem manter uma vigilância ginecológica adequada à sua idade e características específicas. Deverão recorrer ao ginecologista caso surjam sintomas ou sinais sugestivos da doença.

Que sintomas são preocupantes?

Os miomas uterinos são, maioritariamente, assintomáticos (não provocam qualquer sintoma), sendo encontrados em ecografias pélvicas de rotina. Em cerca de 30% dos casos, podem manifestar-se por sintomatologia, dependendo da sua localização, número e tamanho. A hemorragia uterina anormal é o sintoma mais comum, apresentando-se na forma de menstruações abundantes e/ou prolongadas ou perdas de sangue entre as menstruações. Algumas mulheres referem aumento do volume abdominal, pressão, desconforto ou dor pélvica ou lombar. Conforme o tamanho e a localização dos miomas, a compressão das estruturas pélvicas pode levar à compressão das veias pélvicas, a sintomas intestinais, como obstipação, ou urinários, como aumento da frequência urinária ou dificuldade em esvaziar a bexiga. Adicionalmente, os miomas submucosos podem interferir com a implantação dos óvulos, causando infertilidade. 

Em média, que tamanho têm?

A maioria dos miomas cresce muito lentamente e mantém as suas dimensões por longos períodos. Podem ser únicos ou múltiplos e variar de poucos milímetros até vários centímetros. 

Como é que os miomas são detetados? Em consulta, ou existe algum exame específico?

O diagnóstico é realizado através do exame ginecológico e por ecografia pélvica. A ecografia permite detetar os miomas, a sua localização, dimensão e crescimento. Mais raramente, podem ser necessários exames adicionais como a ressonância magnética, a histeroscopia ou a histerossonografia. 

Existe algo que a mulher possa fazer ou evitar para não os desenvolver?

Infelizmente, não é possível prevenir o aparecimento de miomas uterinos. As mulheres devem optar por uma alimentação saudável e atividade física regular para diminuir o seu risco. Além disso, devem manter uma vigilância ginecológica adequada e recorrer ao ginecologista no caso de aparecerem sintomas. 

Estão disponíveis que tratamentos? E em que consistem exatamente?

A escolha do tratamento dos miomas uterinos deverá ser individualizada e depende de diversos fatores como a idade, antecedentes pessoais, desejo de gravidez futura, gravidade dos sintomas e número, dimensões e localização do mioma. Na ausência de sintomas, poderá optar-se apenas por vigilância com ecografia pélvica. O objetivo do tratamento é controlar os sintomas associados. O tratamento médico incluiu a prescrição da pílula, de sistemas intrauterinos e medicação oral que permitem o controlo da hemorragia uterina.  O tratamento cirúrgico é a miomectomia, que consiste na remoção do mioma. Nos miomas submucosos, é realizada por histeroscopia (procedimento endoscópico com utilização de uma pequena câmara que se coloca no interior do útero através da vagina), podendo ser realizada em regime de ambulatório, com rápida recuperação e baixa morbilidade. Nos miomas intramurais e subserosos, a remoção do mioma é realizada por laparoscopia (inserção de instrumentos cirúrgicos por pequenos orifícios no abdómen) ou, mais raramente, por via aberta.  Em casos mais raros, poderá ser necessária a histerectomia, que consiste na remoção do útero. O risco de aborto espontâneo é superior nos miomas submucososDepois da remoção e tratamento, o mioma pode aparecer novamente?

Sim. Após a remoção do mioma, a doença pode reaparecer. 

Uma mulher grávida que desenvolva um mioma pode correr o risco de ter um aborto? Neste caso é possível tratá-lo?

Os miomas podem estar associados a complicações obstétricas, como o aborto espontâneo, o parto prematuro e apresentação fetal pélvica (feto 'sentado' no final da gravidez). O risco de aborto espontâneo é superior nos miomas submucosos, de grandes dimensões e nos miomas múltiplos. Quando os miomas estão associados a aborto espontâneos de repetição, poderá ser necessária a sua remoção, após avaliação e discussão com o ginecologista.

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