Alopecia. Estou a perder mais cabelo do que o normal? Vou ficar careca?
O que distingue a alopecia areata de patologias semelhantes? Quando é que devemos recorrer à ajuda de um especialista? Bruno Duarte, médico dermatologista do Hospital de Santo António dos Capuchos, do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, dá as respostas.
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Lifestyle Entrevista
Passou pouco mais de um ano desde que Will Smith subiu ao palco do Dolby Theatre, nos Estados Unidos, onde decorria a 94.ª cerimónia de entrega dos Óscares, para esbofetear Chris Rock, depois de o comediante ter feito uma piada sobre a mulher do ator. Jada Pinkett Smith é um exemplo entre muitas pessoas que lidam com alopecia areata, uma doença autoimune pouco conhecida, mas que atingirá cerca de 2% da população mundial.
O problema é que a informação é escassa e a patologia continua a ser frequentemente confundida com queda de cabelo ou calvície. "Apesar de ser uma doença frequente e com um impacto negativo elevadíssimo a nível emocional e na autoimagem do doente, é ainda muito desvalorizada e alvo de pouca atenção", diz Bruno Duarte, médico dermatologista no Hospital de Santo António dos Capuchos, do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto. "É uma doença psicologicamente devastadora e que muda totalmente a autoimagem."
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O especialista lembra, no entanto, que esta é uma patologia com tratamento. "Todas as alopecias areatas apresentam, pelo menos teoricamente, potencial para reversibilidade caso o tratamento seja eficaz", afirma, sublinhando que "estamos no início de uma revolução terapêutica no tratamento da alopecia areata grave, tendo sido em 2022 aprovado pela Agência Europeia do Medicamento o primeiro tratamento sistémico para esta doença, pertencente a uma classe inovadora de fármacos designada por inibidores da Janus Cinase".
© Bruno Duarte
O que é alopecia areata?
É uma forma de alopecia imuno-mediada crónica comum, que pode afetar qualquer um individuo em qualquer idade. Tem uma manifestação muito variável: embora se expresse frequentemente no couro cabeludo, pode afetar a barba ou qualquer outra área pilosa do corpo. Por outro lado, pode ir apenas de uma pelada única à perda completa de todo o pelo do corpo. Apesar de ser uma doença frequente e com um impacto negativo elevadíssimo a nível emocional e na autoimagem do doente, é ainda muito desvalorizada e alvo de pouca atenção no geral, sendo desvalorizada como 'apenas cabelo'. Para dar um exemplo prático, imagine ser completamente saudável e, no espaço de poucas semanas, perder de forma rápida e progressiva a totalidade do seu cabelo, sobrancelhas, pestanas, barba... É uma doença psicologicamente devastadora e que muda totalmente a autoimagem
Quantos portugueses sofrem desta condição?
Apesar de ser uma doença frequente, são escassos os dados epidemiológicos referentes em específico à população portuguesa. Contudo, e extrapolando pelos dados internacionais, estima-se que, a cada momento, existam um a dois casos de alopecia areata em cada mil pessoas.
Todas as alopecias areatas apresentam, pelo menos teoricamente, potencial para reversibilidade
Como é viver com alopecia?
É desafiante. Ao longo da história da sociedade, o cabelo assumiu funções estéticas, de beleza e juventude, de expressão individual e na forma como nos identificamos. Não é, portanto, surpresa que a perda imprevista do cabelo em pouco tempo traga um impacto muito negativo para qualquer pessoa que sofra de alopecia areata. Depressão, ansiedade e evicção de relações sociais são comuns, particularmente nas fases iniciais de choque e adaptação à nova realidade e autoimagem imposta pela doença.
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Existem diferentes tipos de alopecia?
Existem muitos, sendo que a grande distinção é, desde logo, se são cicatriciais (as zonas com cicatriz estão irreversivelmente alteradas) ou não-cicatriciais, como é o caso da alopecia areata. Isto é importante porque todas as alopecias areatas apresentam, pelo menos teoricamente, potencial para reversibilidade caso o tratamento seja eficaz.
Quais as causas desta doença?
São maioritariamente autoimunes. Deve-se a uma 'agressão' por parte do sistema imunológico da pessoa dirigida contra o seu próprio folículo piloso. É uma doença multifatorial, sendo necessário para o seu desenvolvimento uma predisposição genética aliada a fatores ambientais ainda especulativos.
É sobejamente sabido que perder alguns fios por dia é normal. Mas quando é que essa queda de cabelo constitui motivo para alarme?
O sinal mais facilmente identificável é a queda abrupta de cabelo, habitualmente definindo uma ou várias peladas circulares no couro cabeludo ou barba. Estas peladas não dão qualquer sintoma e podem ter o tamanho de moedas de um euro ou ser muito extensas. É também comum serem os barbeiros ou cabeleireiros a alertar para estas peladas, particularmente nas pessoas com maior volume de cabelo.
Podemos ter um episódio isolado de alopecia areata?
A alopecia areata é uma doença crónica recidivante, isto é, tanto pode dar origem a um episódio isolado como seguir um curso de recidivas imprevisíveis ao longo da vida.
Estamos no início de uma revolução terapêutica no tratamento da alopecia areata grave, tendo sido em 2022 aprovado pela Agência Europeia do Medicamento o primeiro tratamento sistémico para esta doença
Quais os tratamentos possíveis?
O tratamento depende da gravidade e extensão da doença em causa. Na maioria dos doentes, o tratamento inicial será com anti-inflamatórios tópicos ou intralesionais (injeções administradas diretamente nas peladas), nomeadamente corticosteroides, que suprimem localmente o sistema imunitário permitindo que o cabelo volte a crescer. São, com frequência, muito eficazes. Os casos moderados e graves são, por natureza, mais prolongados e de difícil tratamento, requerendo habitualmente tratamento imunomodulador sistémico para reponte e evitar a recidiva da doença. Por outro lado, estamos no início de uma revolução terapêutica no tratamento da alopecia areata grave, tendo sido em 2022 aprovado pela Agência Europeia do Medicamento o primeiro tratamento sistémico para esta doença, pertencente a uma classe inovadora de fármacos designada por inibidores da Janus Cinase.
Que mensagem gostaria de deixar a estes doentes?
Que procurem ajuda especializada de um dermatologista. Existem várias alternativas terapêuticas, algumas já disponíveis e outras que estão agora a surgir, que vão inevitavelmente melhorar a forma como tratamos esta doença. Falem com os vossos médicos.
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