Como o tema das picadas de animais marinhos voltou à agenda noticiosa - quando foi avistada a medusa-tambor no Algarve - o Lifestyle ao Minuto decidiu falar com uma especialista e esclarecer algumas dúvidas e mitos que ainda existem sobre estas espécies.
Ana Isabel Pedroso - especialista em medicina interna e medicina intensiva da rede Lusíadas Saúde - respondeu a todas as questões e tirou dúvidas comuns, incluindo o que fazer no caso de uma picada, mas também como prevenir que elas aconteçam.
Mencionou, ainda, alguns mitos relacionados com estes animais, mais especificamente o que envolve urina e as alforrecas, assim como as consequências de um contacto próximo.
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O perigo do contato com a medusa-tambor reside na sua capacidade de picar e libertar um veneno que pode causar dor intensa e reações adversas no organismo humano
Recentemente, foi avistada, em muitas praias do Algarve, a medusa-tambor. Por isso, o Instituto Português do Mar e Atmosfera, lançou um alerta e pediu a todos que não tocassem no animal. Quais são os perigos do contacto de um organismo como este?
A medusa-tambor, 'Rhizostoma luteum' é uma espécie de cnidário marinho que pode ser encontrada em várias partes do mundo, incluindo nas águas do Algarve. Embora pareça uma medusa comum, a medusa-tambor é na verdade uma colónia de organismos especializados que trabalham juntos para sobreviver.
O principal perigo do contato com a medusa-tambor é a sua picada (e não mordida). Ela possui tentáculos longos e urticantes, que podem estender-se por vários metros abaixo da superfície da água. Tentáculos que contêm células especializadas (cnidócitos) com estruturas em forma de arpão contendo veneno. Quando alguém entra em contato com os tentáculos da medusa, os cnidócitos disparam, e injetam o veneno na pele.
Especialista em medicina interna e medicina intensiva© Ana Isabel Pedroso
Os efeitos da picada podem variar em gravidade, dependendo da sensibilidade individual e da quantidade de veneno libertado. Os sintomas comuns incluem dor intensa, vermelhidão, inchaço, coceira, ardor e irritação na área afetada.
Em casos mais graves, podem ocorrer reações alérgicas com dificuldade respiratória, náuseas, vómitos, dor muscular, aumento da pressão sanguínea e, em caso de reação anafilática (reação alérgica muito grave) pode mesmo dar morte..
Em resumo, o perigo do contato com a medusa-tambor reside na sua capacidade de picar e libertar um veneno que pode causar dor intensa e reações adversas no organismo humano.
Com que outros animais marinhos devemos estar preocupados durante o verão?
Ouriço do mar, peixe-aranha, …
Por isso, é crucial seguir as orientações dos especialistas e evitar tocar nesses animais, mesmo que aparentem estar mortos ou encalhados na praia
O que se deve fazer ao encontrar um animal deste género?
É importante ressalvar que mesmo as medusas-tambor mortas ou fragmentos de tentáculos podem manter a sua capacidade de picar e causar reações adversas. Por isso, é crucial seguir as orientações dos especialistas e evitar tocar nesses animais, mesmo que aparentem estar mortos ou encalhados na praia.
Independentemente do animal, mantenha-se afastado e não lhe toque. Deve ainda avisar os nadadores salvadores.
O que se deve fazer quando se é picado?
Se alguém for picado pela medusa-tambor, precisa de ajuda médica imediata. Os profissionais de saúde poderão avaliar a gravidade da picada e fornecer o tratamento adequado, que pode incluir a remoção dos tentáculos, aplicação de medicamentos tópicos para aliviar os sintomas e, em casos mais graves, administração de antídotos específicos.
Quando se fala de outras espécies se houver espigão deve retirá-lo com uma pinça e não com as mãos. Procure ajuda. Por exemplo, no caso do peixe aranha, coloque o pé em algo quente, areia ou água, mas isto não se aplica a todos os animais.
Estes são os pontos mais importantes a cumprir se for picado:
1. Sair da água: Se estiver na água quando for picado, saia imediatamente para evitar novas picadas e diminuir o risco de ser atingido por outros tentáculos,
2. Não esfregue a área afetada: Ao ser picado, evite esfregar a área, pois isso pode aumentar a libertação de veneno e agravar os sintomas. Em vez disso, limpe a área idealmente com soro fisiológico, mas pode ser com água do mar, para remover os tentáculos remanescentes.
3. Remova os tentáculos: Se houver tentáculos visíveis na pele, tente removê-los com cuidado, usando luvas ou uma pinça. Evite tocar nos tentáculos com as mãos nuas, pois isso pode levar a uma picada adicional.
4. Não use água doce: Evite o uso de água doce para enxaguar a área afetada, pois isso pode agravar a libertação de veneno. Use apenas água do mar ou soro fisiológico.
5. Aplique calor: Algumas evidências sugerem que a aplicação de calor na área afetada pode ajudar a aliviar a dor causada pela picada da medusa-tambor. Pode também tentar imergir a área em água morna (não muito quente) por cerca de 20 minutos ou usar uma compressa quente.
6. Procure ajuda médica: Após uma picada de medusa-tambor, é aconselhável procurar atendimento médico, principalmente se os sintomas forem graves ou se você for alérgico. Os profissionais de saúde poderão avaliar a gravidade da picada e fornecer o tratamento adequado, que pode incluir analgésicos, antialérgicos e outros medicamentos para aliviar os sintomas.
Lembrem-se que estas orientações são gerais e podem variar de acordo com a gravidade da picada. É sempre importante seguir as instruções de profissionais de saúde ou de serviços de emergência em caso de picada de medusa-tambor.
Por exemplo, no caso das alforrecas, existe a ideia de que a urina ajuda a acalmar a mordidela. É verdade?
Não. O que acalma é calor, pelo que se deve de colocar o pé em areia quente ou dentro de agua quente, nunca urina!
Embora seja impossível evitar completamente os encontros com animais marinhos, existem algumas medidas que podem reduzir o risco de mordidas ou picadas
Em que outros mitos sobre estes animais não devemos acreditar?
Por exemplo… que todos os ouriços do mar são venenosos?
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Existe alguma forma de evitar as mordidas ou picadas destes animais? Como?
Embora seja impossível evitar completamente os encontros com animais marinhos, existem algumas medidas que podem reduzir o risco de mordidas ou picadas. Aqui estão algumas dicas para ajudar a evitar encontros indesejados:
1. Estar informado: Conheça os animais marinhos comuns na área em que está a nadar ou a praticar atividades aquáticas. Saiba quais espécies podem representar riscos e esteja ciente das precauções específicas que você deve tomar.
2. Siga as orientações locais: Esteja atento a qualquer aviso ou orientação fornecida pelas autoridades locais, como salva-vidas ou órgãos responsáveis pela segurança nas praias. Eles podem fornecer informações importantes sobre a presença de animais marinhos perigosos ou condições adversas.
3. Evitar áreas conhecidas por serem problemáticas: Se houver relatos frequentes de avistamentos ou problemas com animais marinhos em uma determinada área, é recomendado evitar essas áreas ou praticar atividades aquáticas com precaução adicional.
4. Usar equipamentos de proteção: Ao praticar mergulho, 'snorkeling' ou outras atividades em que se esteja mais exposto aos animais marinhos, considere usar roupas de mergulho, luvas ou meias aquáticas para ajudar a proteger sua pele de possíveis mordidas ou picadas.
5. Evitar tocar ou perturbar os animais: Mantenha uma distância segura e evite tocar ou perturbar animais marinhos, mesmo que pareçam inofensivos. Alguns animais podem reagir agressivamente se se sentirem ameaçados ou provocados.
6. Respeitar o ambiente marinho: Cuide do ambiente marinho, pois isso ajuda a manter o equilíbrio natural e a saúde dos ecossistemas. Evite atirar lixo no mar, pois isso pode atrair animais indesejados ou alterar o comportamento natural deles.
Além de ter cuidado com as mordidas não se deve tocar nestes animais? Porquê?
Pelo mesmo risco de resposta alérgica.
Que tipo de pessoas podem sofrer mais ao contactar com um destes animais? Quem deve ter cuidados extra?
Pessoas alérgicas: têm sempre um risco acrescido. Crianças, imunocomprometidos, alguns doentes crónicos.
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