Reconstrução mamária. As perguntas que sempre quis fazer a um médico

No mês da consciencialização para o cancro da mama, que hoje termina, estivemos à conversa com o médico cirurgião plástico Duarte Salema Garção sobre reconstrução mamária, um procedimento que pode mudar a vida e a autoestima de inúmeras mulheres.

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Ana Rita Rebelo
31/10/2023 09:00 ‧ 31/10/2023 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle

Entrevista

A reconstrução mamária é, para muitas mulheres, a única hipótese de restabelecerem a sua normal anatomia após uma mastectomia (remoção da mama). Os benefícios são, sobretudo, psicológicos. Ao Lifestyle ao Minuto, o médico cirurgião plástico Duarte Salema Garção, diretor clínico da My Clinique, destaca a "melhoria da autoestima, o equilíbrio corporal e o bem-estar psíquico e social".

O responsável faz também questão de frisar que a reconstrução "não se trata de um tratamento estético". Mais: não atrasa o tratamento, nem prejudica a deteção de qualquer tumor mamário. 

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O movimento Outubro Rosa surgiu nos Estados Unidos, na década de 90,  para sensibilizar as pessoas para o cancro da mama e para a importância do diagnóstico precoce. Ainda que, em Portugal, a mortalidade tenha vindo a diminuir ao longo dos anos, continua a ser importante falar da doença?

É de extrema importância, pois não só o número de diagnósticos de cancro da mama tem aumentado nos últimos anos, nomeadamente em doentes mais jovens, como sabemos que o diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso terapêutico. Falar, divulgar e consciencializar as mulheres e também os homens para a doença, para o rastreio e para o tratamento permite lidar com maior naturalidade com este tema e agir o mais cedo possível.

Notícias ao Minuto © Duarte Salema Garção

Não se trata de um tratamento estético. É fortemente funcional, porque implica diretamente com a saúde mental, física e social da mulher 

Nos casos em que existe a necessidade de reconstruir a mama, entra em cena o cirurgião plástico. Em que consiste uma recuperação mamária?

Recuperação ou reconstrução é o processo cirúrgico no qual se constrói uma parte ou a totalidade da mama amputada, com recurso a implante ou a tecidos da paciente, de modo a manter o aspeto, a imagem e a autoestima da paciente. A reconstrução mamária deve ser um processo que deve estar acessível a todas as mulheres e é realizado nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde ou nos privados. Não se trata de um tratamento estético. É fortemente funcional, porque implica diretamente com a saúde mental, física e social da mulher.

O que envolve?

Em primeiro lugar, e acima de tudo, a participação e a vontade da paciente. A doente deve querer e dizer como quer fazer a reconstrução, tendo em conta as técnicas possíveis atualmente. 

Quais as principais dúvidas que lhe são colocadas em consulta?

Se a reconstrução atrasa o tratamento da doença ou se influencia a vigilância ou deteção de um novo cancro.

Na maioria dos casos, é possível iniciar o processo reconstrutivo no momento da excisão do tumor, o que permite maior celeridade no resultado final. (...) Evitamos que a mulher se veja amputada de mama

E a resposta é?

Negativa para ambas, o que também ajuda a tranquilizar os pacientes.

A partir de que momento é que se pode fazer uma reconstrução mamária?

A tendência atual é de iniciar a reconstrução no mesmo momento da mastectomia/tumorectomia. Na maioria dos casos, é possível iniciar o processo reconstrutivo no momento da excisão do tumor, o que permite maior celeridade no resultado final. Por outro lado, também evitamos que a mulher se veja amputada de mama, o que é muito importante para o seu bem-estar psíquico.

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Quantas cirurgias são necessárias?

Depende da técnica utilizada, mas geralmente são precisas duas a três.

Há riscos?

Todas a cirurgias e anestesias podem apresentar risco mínimo, mas o benefício é sobejamente superior.

Já que falamos de benefícios, quais os que mais se destacam?

Destaco, sobretudo, a melhoria da autoestima, o equilíbrio corporal e o bem-estar psíquico e social.

Fica cicatriz?

Qualquer cirurgia provoca uma cicatriz. A reconstrução pode ser realizada pela mesma cicatriz da mastectomia e a simetrização da outra mama tem as cicatrizes necessárias, que ficaram disfarçadas ao longo do tempo.

A partir de que momento é que se pode voltar à rotina? Há atividades que devem ser evitadas?

Depende do procedimento reconstrutivo. Habitualmente, recomendamos cerca de 10 dias de repouso, seguido de 30 dias em que se devem evitar esforços e exercício físico.

É preciso acompanhamento?

Ao contrário da doença oncológica, a paciente tem alta quando o processo de reconstrução termina e não precisa de voltar à consulta. Porém, perante qualquer alteração que venha a sentir, deve consultar o médico assistente.

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