A reconstrução mamária é, para muitas mulheres, a única hipótese de restabelecerem a sua normal anatomia após uma mastectomia (remoção da mama). Os benefícios são, sobretudo, psicológicos. Ao Lifestyle ao Minuto, o médico cirurgião plástico Duarte Salema Garção, diretor clínico da My Clinique, destaca a "melhoria da autoestima, o equilíbrio corporal e o bem-estar psíquico e social".
O responsável faz também questão de frisar que a reconstrução "não se trata de um tratamento estético". Mais: não atrasa o tratamento, nem prejudica a deteção de qualquer tumor mamário.
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O movimento Outubro Rosa surgiu nos Estados Unidos, na década de 90, para sensibilizar as pessoas para o cancro da mama e para a importância do diagnóstico precoce. Ainda que, em Portugal, a mortalidade tenha vindo a diminuir ao longo dos anos, continua a ser importante falar da doença?
É de extrema importância, pois não só o número de diagnósticos de cancro da mama tem aumentado nos últimos anos, nomeadamente em doentes mais jovens, como sabemos que o diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso terapêutico. Falar, divulgar e consciencializar as mulheres e também os homens para a doença, para o rastreio e para o tratamento permite lidar com maior naturalidade com este tema e agir o mais cedo possível.
© Duarte Salema Garção
Não se trata de um tratamento estético. É fortemente funcional, porque implica diretamente com a saúde mental, física e social da mulher
Nos casos em que existe a necessidade de reconstruir a mama, entra em cena o cirurgião plástico. Em que consiste uma recuperação mamária?
Recuperação ou reconstrução é o processo cirúrgico no qual se constrói uma parte ou a totalidade da mama amputada, com recurso a implante ou a tecidos da paciente, de modo a manter o aspeto, a imagem e a autoestima da paciente. A reconstrução mamária deve ser um processo que deve estar acessível a todas as mulheres e é realizado nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde ou nos privados. Não se trata de um tratamento estético. É fortemente funcional, porque implica diretamente com a saúde mental, física e social da mulher.
O que envolve?
Em primeiro lugar, e acima de tudo, a participação e a vontade da paciente. A doente deve querer e dizer como quer fazer a reconstrução, tendo em conta as técnicas possíveis atualmente.
Quais as principais dúvidas que lhe são colocadas em consulta?
Se a reconstrução atrasa o tratamento da doença ou se influencia a vigilância ou deteção de um novo cancro.
Na maioria dos casos, é possível iniciar o processo reconstrutivo no momento da excisão do tumor, o que permite maior celeridade no resultado final. (...) Evitamos que a mulher se veja amputada de mama
E a resposta é?
Negativa para ambas, o que também ajuda a tranquilizar os pacientes.
A partir de que momento é que se pode fazer uma reconstrução mamária?
A tendência atual é de iniciar a reconstrução no mesmo momento da mastectomia/tumorectomia. Na maioria dos casos, é possível iniciar o processo reconstrutivo no momento da excisão do tumor, o que permite maior celeridade no resultado final. Por outro lado, também evitamos que a mulher se veja amputada de mama, o que é muito importante para o seu bem-estar psíquico.
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Quantas cirurgias são necessárias?
Depende da técnica utilizada, mas geralmente são precisas duas a três.
Há riscos?
Todas a cirurgias e anestesias podem apresentar risco mínimo, mas o benefício é sobejamente superior.
Já que falamos de benefícios, quais os que mais se destacam?
Destaco, sobretudo, a melhoria da autoestima, o equilíbrio corporal e o bem-estar psíquico e social.
Fica cicatriz?
Qualquer cirurgia provoca uma cicatriz. A reconstrução pode ser realizada pela mesma cicatriz da mastectomia e a simetrização da outra mama tem as cicatrizes necessárias, que ficaram disfarçadas ao longo do tempo.
A partir de que momento é que se pode voltar à rotina? Há atividades que devem ser evitadas?
Depende do procedimento reconstrutivo. Habitualmente, recomendamos cerca de 10 dias de repouso, seguido de 30 dias em que se devem evitar esforços e exercício físico.
É preciso acompanhamento?
Ao contrário da doença oncológica, a paciente tem alta quando o processo de reconstrução termina e não precisa de voltar à consulta. Porém, perante qualquer alteração que venha a sentir, deve consultar o médico assistente.
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