A intimidade não tem idade. Há sexo depois dos 65 e a experiência pode ser ainda mais prazerosa. Mas dá trabalho chegar a este ponto.
Por um lado, as mulheres apresentam, habitualmente, níveis de estrogénio mais baixos, o que pode conduzir à secura vaginal e à dor. Nos homens, os problemas de ereção tornam-se mais comuns. Mas é aqui que entra a importância do diálogo. "A comunicação aberta com o parceiro é fundamental. É essencial que ambos possam discutir as suas necessidades, desejos e preocupações em relação à sexualidade, de forma honesta e respeitosa", diz ao Lifestyle ao Minuto Ana Viegas, médica assistente de medicina geral e familiar com competência em geriatria, sublinhando que "a exploração de novas formas de intimidade que se ajustem às mudanças associadas ao envelhecimento e a eventuais doenças crónicas pode ser altamente benéfica".
"A discriminação etária, muitas vezes referida como idadismo, que infantiliza e erroneamente considera os idosos assexuados, contribui para a invisibilidade das suas necessidades sexuais e para a falta de discussão sobre o assunto", continua. "Esses preconceitos e tabus profundamente enraizados podem criar barreiras significativas para os idosos que desejam manter uma vida sexual ativa e satisfatória, tornando mais difícil procurar ajuda e apoio quando necessário."
Como é que se vive a sexualidade na terceira idade?
A sexualidade na terceira idade pode ser vivida de forma gratificante, apesar dos desafios que podem estar presentes, como as alterações físicas, psicológicas e hormonais. Estudos demonstraram que muitos idosos continuam a considerar a intimidade e a expressão sexual como aspetos essenciais de suas vidas, e que uma parte significativa das pessoas idosas têm uma vida sexual ativa.
Um mito prevalente é o de que, à medida que as pessoas envelhecem, perdem o desejo sexual e a capacidade de se envolver em atividades sexuais. No entanto, a evidência mostra que muitos idosos mantêm tanto o desejo quanto a atividade sexual
Como é que se pode manter a 'chama acesa'?
A comunicação aberta com o parceiro é fundamental. É essencial que ambos possam discutir as suas necessidades, desejos e preocupações em relação à sexualidade, de forma honesta e respeitosa. Além disso, a exploração de novas formas de intimidade que se ajustem às mudanças associadas ao envelhecimento e a eventuais doenças crónicas pode ser altamente benéfica. Em situações em que surgem problemas físicos ou emocionais que possam afetar a vida sexual, procurar a orientação de profissionais de saúde é uma medida importante para garantir uma vivência plena e satisfatória da sexualidade.
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Considera que existem preconceitos e tabus em torno deste tema?
Infelizmente, sim. A discriminação etária, muitas vezes referida como idadismo, que infantiliza e erroneamente considera os idosos assexuados, contribui para a invisibilidade das suas necessidades sexuais e para a falta de discussão sobre o assunto. Além disso, os estereótipos de género existentes na nossa sociedade resultam em julgamentos injustos. Por exemplo, mulheres idosas que expressem desejos sexuais podem enfrentar críticas injustificadas, enquanto os homens frequentemente têm a sua sexualidade validada pela disponibilidade de medicamentos para disfunção erétil. Esses preconceitos e tabus profundamente enraizados podem criar barreiras significativas para os idosos que desejam manter uma vida sexual ativa e satisfatória, tornando mais difícil procurar ajuda e apoio quando necessário. É fundamental superar esses estereótipos e promover uma visão mais aberta e inclusiva da sexualidade na terceira idade, permitindo que os idosos desfrutem de relacionamentos sexuais saudáveis e gratificantes.
Quais os mitos relacionados com a sexualidade na terceira idade?
Existem vários mitos que carecem de fundamentação científica e que é crucial desconstruir. Um mito prevalente é o de que, à medida que as pessoas envelhecem, perdem o desejo sexual e a capacidade de se envolver em atividades sexuais. No entanto, a evidência mostra que muitos idosos mantêm tanto o desejo quanto a atividade sexual. Há também o mito de que para ter uma vida sexual plena é necessário haver penetração. Na realidade, a intimidade pode assumir várias formas, incluindo carícias, beijos e outras expressões de afeto. Um terceiro mito que é importante esclarecer é o relacionado às alterações hormonais durante e após a menopausa, que podem causar desconforto para a atividade sexual na mulher. Embora essas mudanças possam, de facto, afetar a vida sexual das mulheres, é fundamental reconhecer que existem estratégias e opções disponíveis para melhorar a qualidade da vida sexual, desde o uso de lubrificantes até a consulta com profissionais de saúde.
A falta de educação sexual pode levar à prática sexual desprotegida, aumentando o risco de contrair ISTs. Portanto, é crucial que, independentemente da idade, as pessoas estejam cientes dos riscos e pratiquem o sexo seguro, usando métodos de proteção adequados, como o preservativo
Existem outros desafios?
Há múltiplas barreiras que interferem com a sexualidade no idoso. Os preconceitos sociais acerca da sexualidade na terceira idade podem inibir discussões abertas e levar à falta de procura de serviços de saúde apropriados. Por um lado, os idosos podem sentir-se envergonhados em expressar as suas necessidades sexuais devido a normas sociais. Por outro lado, os profissionais de saúde nem sempre iniciam discussões sobre sexualidade com os idosos, levando a uma falta de aconselhamento e orientação sobre questões relacionadas com o sexo na terceira idade. As mudanças fisiológicas do envelhecimento e os problemas de saúde mais frequentes no idoso também podem ser uma barreira para uma vida sexual satisfatória. A falta de privacidade é também uma barreira importante, especialmente quando consideramos que muitos idosos partilham o seu espaço com a família alargada ou residem em estruturas residenciais para pessoas idosas, como os lares. Estas situações são frequentemente desafios consideráveis no que diz respeito à manutenção de uma vida sexual desejável e satisfatória. Muitas vezes, a falta de quartos individuais e de espaços apropriados afeta a capacidade dos idosos de vivenciar sua sexualidade de maneira plena e livre. Essa falta de privacidade e o medo de julgamentos podem levar a sentimentos de culpa e vergonha entre os idosos que desejam expressar a sua sexualidade de maneira saudável e satisfatória, restringindo, assim, o direito de vivenciar essa dimensão fundamental das suas vidas. A superação desses mitos e barreiras requer educação, comunicação e a consciencialização de que a sexualidade é uma parte saudável e normal da vida, independentemente da idade.
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Quais os problemas sexuais mais comuns na mulher que podem condicionar a relação sexual?
Nas mulheres, os problemas sexuais mais comuns na terceira idade incluem a secura vaginal, frequentemente associada à menopausa, o que pode tornar o sexo doloroso ou desconfortável, além da diminuição ou falta de desejo sexual.
Como ultrapassar estas alterações e limitações físicas?
Para ultrapassar esses problemas, é recomendado o uso de lubrificantes para aliviar o desconforto e a exploração de outras formas de intimidade que não envolvam necessariamente a penetração sexual. A falta de desejo sexual também é uma questão que pode ter um grande impacto na vivência da sexualidade, frequentemente agravada por preocupações com a imagem corporal relacionadas com o envelhecimento. Superar essas limitações geralmente envolve comunicação aberta com o parceiro, a compreensão mútua das limitações e dificuldades, e a adaptação às eventuais incapacidades que possam surgir.
E no homem?
Nos homens idosos, a diminuição do desejo sexual e a disfunção erétil são preocupações comuns na terceira idade. Para lidar com esses problemas, novamente, a comunicação desempenha um papel essencial. Além disso, os homens podem considerar a opção de medicação específica sob orientação médica, que pode ajudar a melhorar a função. Em ambos os sexos, problemas físicos ou psicológicos podem afetar a vida sexual, e superá-los geralmente envolve uma combinação de tratamentos médicos, aconselhamento terapêutico e adaptação de práticas sexuais para melhor atender às necessidades e desafios específicos que possam surgir com o envelhecimento.
A sexualidade na terceira idade pode ser uma oportunidade de explorar diversas formas de intimidade, indo além do estereótipo convencional das relações sexuais
Por saberem que não há risco de gravidez, as pessoas idosas acabam por praticar relações sexuais de forma desprotegida?
Sim, pode haver uma crença entre algumas pessoas idosas de que, porque não há risco de gravidez na terceira idade, não é necessário praticar sexo protegido. No entanto, o foco na prevenção da gravidez não deve ser o único motivo para a prática do sexo seguro. As infeções sexualmente transmissíveis (ISTs) representam uma preocupação significativa para todas as faixas etárias, e a sua incidência tem aumentado na população idosa. A falta de educação sexual pode levar à prática sexual desprotegida, aumentando o risco de contrair ISTs. Portanto, é crucial que, independentemente da idade, as pessoas estejam cientes dos riscos e pratiquem o sexo seguro, usando métodos de proteção adequados, como o preservativo. A comunicação aberta e a educação contínua sobre saúde sexual são essenciais para garantir que a população idosa tenha acesso às informações corretas e práticas sexuais seguras.
Quais os cuidados que devem ter?
Para manter uma vida sexual ativa e gratificante na terceira idade, é essencial adotar várias precauções e cuidados. Em primeiro lugar, é fundamental estar ciente da importância do uso do preservativo para a prevenção de ISTs. Além disso, procurar aconselhamento médico em caso de disfunção sexual, problemas físicos ou psicológicos é crucial, pois muitos desses problemas podem ser tratados ou geridos com sucesso. Manter um estilo de vida saudável é um pilar importante, incluindo a adoção de uma dieta equilibrada, a prática regular de exercício físico e o controlo de problemas de saúde subjacentes, beneficia não só a saúde em geral, mas também contribui para a saúde sexual. O bem-estar emocional desempenha um papel significativo na vida sexual e, portanto, é importante considerar o aconselhamento psicológico, se necessário, para abordar problemas relacionados ao desejo sexual ou disfunção. Finalmente, não podemos subestimar a importância do respeito mútuo, da empatia e do entendimento das necessidades, limitações, preocupações sexuais e desejos do parceiro ou parceira. Mais uma vez, reforço que essa comunicação aberta e o apoio mútuo são essenciais para manter uma relação sexual satisfatória na terceira idade, promovendo assim o bem-estar e a qualidade de vida.
Como podem os idosos ter uma experiência sexual mais gratificante?
O bem-estar emocional é fundamental. A comunicação aberta com o parceiro é essencial para criar um ambiente onde se sintam à vontade para expressar as suas necessidades e desejos. Além disso, é importante lembrar que a sexualidade na terceira idade pode ser uma oportunidade de explorar diversas formas de intimidade, indo além do estereótipo convencional das relações sexuais. A desconstrução de mitos e preconceitos relacionados com a sexualidade na terceira idade é crucial. Os idosos não se devem deixar limitar por estereótipos que associam a sexualidade à juventude. O desejo e a intimidade podem continuar a ser uma parte importante das nossas vidas, independentemente da idade.
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