Piolhos ocupam, sem dúvida, um lugar no pódio da lista de preocupações de todos os pais, especialmente os que têm filhos na escola, na creche ou no infantário. Infelizmente, "não existe nenhum tratamento preventivo", alerta Marta Ribeiro Teixeira, uma dermatologista na Clínica Espregueira, no Porto, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto.
É, no entanto, importante esclarecer alguns mitos e dúvidas sobre a pediculose, o nome dado a uma infestação deste parasita. Por exemplo, muitos (ainda) acreditam que o problema está relacionado com a falta de higiene, outros acham que os insetos voam - ou saltam - de cabeça em cabeça, sendo que ambas as situações não correspondem à verdade.
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O que são piolhos?
Os piolhos são parasitas (Pediculus humanus capitis) de 2 a 3,5 mm, sem asas, mas móveis, que utilizam o ser humano como hospedeiro para completar o seu ciclo de vida. A infestação por este parasita é denominada pediculose.
É dermatologista na Clínica Espregueira © Marta Teixeira
Como é que as infestações de piolhos acontecem?
A transmissão é sobretudo direta de pessoa para pessoa, através do contacto próximo entre cabelos. A infestação através da partilha de objetos infetados, como gorros, chapéus, pentes, escovas ou almofadas é mais rara.
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Quanto tempo dura, geralmente, uma infestação de piolhos?
O piolho vive em média 30 dias, mas sobrevive menos de 24 horas fora do hospedeiro. Um piolho deposita oito a 12 ovos por dia (lêndeas). Destes ovos nascem, ao final de sete a 10 dias, novos piolhos e passadas três semanas atingem a idade adulta. Nesta altura podem depositar novamente ovos. Se a infestação não for tratada, este ciclo repete-se a cada três semanas.
É um problema mais comum entre os mais novos que estão na escola. Porquê?
A prevalência da pediculose tem vindo a aumentar, sendo estimados mais de 100 milhões de casos anualmente em todo o mundo. Nos países industrializados, a prevalência está estimada em 1 a 3%. Surtos de pediculose ocorrem de forma recorrente, sendo que a maioria das vezes são registados em escolas.
A pediculose é a infeção parasitária mais comum nas crianças. As crianças em idade escolar são um grupo de maior risco e vulnerabilidade pelo facto de estarem concentradas em grande número no mesmo espaço, partilharem frequentemente objetos e realizarem atividades em grupo que implicam contacto corporal.
Que fatores tornam as pessoas mais vulneráveis a isto?
Pessoas com maior suscetibilidade à infestação com piolhos são crianças em creches e escolas, assim como os seus familiares, funcionários de escolas, profissionais de saúde bem como praticantes de desportos de combate.
O uso de cabelos compridos também aumenta a probabilidade da transmissão, uma vez que o cabelo longo facilita o contacto entre cabeças.
O que devemos fazer ao primeiro sinal de piolhos? Que tratamento recomenda?
O tratamento da pediculose consiste na aplicação de antiparasitários específicos sob a forma de champô, solução, gel, creme ou loção. Os tratamentos estão disponíveis nas farmácias, não estando sujeitos a receita médica. São tratamentos seguros e eficazes, sendo importante tratar as duas formas de apresentação deste parasita: piolhos e lêndeas (ovos).
O produto deve ser aplicado segundo as instruções no folheto informativo. Os cabelos húmidos devem ser penteados, madeixa a madeixa, com amaciador e um pente fino (distância entre dentes de 0,2 mm). O tratamento deverá ser repetido ao final de sete a 10 dias.
Para o sucesso do tratamento são de especial importância medidas gerais, tais como informar escolas e jardins-de-infância (no caso de crianças em idade escolar), rastrear contactos próximos e lavar o vestuário e a roupa de cama a 60ºC. Objetos potencialmente contaminados (como chapéus, pentes, etc.) devem ser mantidos fechados num saco de plástico à temperatura ambiente durante três dias.
Em caso de dúvida, relativamente ao diagnóstico, ou em casos mais graves, associados a eczemas e infeções secundárias é fundamental consultar um médico.
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Muitos dizem que os piolhos estão relacionados com a falta de higiene. É verdade?
Não. A pediculose do couro cabeludo pode afetar qualquer pessoa. Contudo, a falta de higiene aumenta o risco de infeções secundárias mais graves como, por exemplo, o impetigo. Este último é causado pela infeção da pele por bactérias como estafilococos e estreptococos nas lesões de coceira originalmente causadas pela pediculose.
Quais são as consequências de apanhar piolhos?
Os sintomas mais frequentes da pediculose são o prurido intenso e o eczema do couro cabeludo. Estes podem levar a problemas de concentração, condicionar o aproveitamento escolar ou capacidade laboral e afetar a qualidade do sono.
Em casos mais graves, a pediculose pode levar ao desenvolvimento de infeções bacterianas secundárias (impetigo) e ao aumento doloroso dos gânglios linfáticos cervicais.
Pode afetar diferentes partes do corpo, além da cabeça?
A pediculose ocorre, na grande maioria dos casos, no couro cabeludo. Em situações mais raras, pode afetar o pelo das sobrancelhas, da barba, o pelo corporal e da região púbica. Neste último caso trata-se de uma doença sexualmente transmissível (DST), estando indicado o rastreio de outras DSTs concomitantes.
É possível prevenir uma infestação por piolhos?
Não existe nenhum tratamento preventivo da pediculose.
Em grupos de risco, como o caso de crianças em idade escolar, devem ser adotadas medidas gerais preventivas. Deve evitar-se o contacto direto com cabelos infestados, inspecionar regularmente o couro cabeludo das crianças, sobretudo em caso de prurido e educá-las no sentido de não partilharem objetos como pentes, chapéus e gorros.
Quais são os mitos sobre piolhos que não fazem sentido? Por exemplo, voam de cabeça em cabeça?
Os piolhos não voam nem saltam entre pessoas.
Após o início do tratamento as crianças não têm de faltar à escola.
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