Surtos de Legionella em Portugal. Há razões para alarme?
Também conhecida como doença dos legionários, a Legionella é uma pneumonia provocada pela bactéria legionella pneumophila. Transmite-se por via respiratória. Mas há mais. Ao Lifestyle ao Minuto, o pneumologista Carlos Lopes, da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, explica quais os sintomas, quem é mais suscetível e como prevenir.
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Lifestyle Entrevista
Há surtos de Legionella no Norte de Portugal que estão a deixar o país em alerta. Na passada quinta-feira, 16 de novembro, a Administração Regional de Saúde do Norte confirmou que uma pessoa idosa morreu num lar em Matosinhos, vítima de uma infeção pela bactéria legionella pneumophila, o que fez soar alarmes. O pneumologista Carlos Lopes, da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, garante, no entanto, que "não há motivos de preocupação".
"Estes surtos são habitualmente fenómenos localizados e, a partir do momento que são identificados, as pessoas em risco, nomeadamente idosos, são mantidas sob vigilância clínica", disse ao Lifestyle ao Minuto.
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Até agora, destes surtos de Legionella resultou uma vítima mortal. Há motivo para alarme?
Não há motivos de preocupação. Estes surtos são habitualmente fenómenos localizados e, a partir do momento que são identificados, as pessoas em risco, nomeadamente idosos, são mantidas sob vigilância clínica. Desta maneira é feito o diagnóstico precoce da doença, evitando-se consequências mais graves. Paralelamente, há todo um trabalho da Saúde Pública, especialidade médica responsável por investigar a origem do surto e determinar as medidas de saúde pública destinadas a circunscrever o surto.
As condições de humidade e temperatura do outono e inverno propiciam a propagação de gotículas respiratórias
No seu entender, o que poderá ter desencadeado estes surtos? Quais as fontes previsíveis?
Habitualmente, a Legionella replica-se em reservatórios de águas aquecidas, onde as medidas preventivas não foram implementadas. As chaminés de fábricas, os chuveiros para tomar duche, instalações de águas termais ou aparelhos de ar condicionado constituem outros focos potenciais em que o vapor de água aquecido favorece a propagação de gotículas respiratórias contaminadas. Os reservatórios de água devem ter temperatura e pH monitorizados para evitar a proliferação da Legionella. Conforme a fonte emissora, as gotículas de que falava podem percorrer grandes distâncias. Exemplo disso foi o surto de Vila Franca de Xira, em que a emissão de aerossóis através de torres de refrigeração altas contaminou uma extensa área geográfica. Não é comum a transmissão interpessoal.
A Ordem dos Médicos disse na passada sexta-feira, dia 17 de novembro, que as atuais condições climatéricas potenciam o aparecimento de casos esporádicos e surtos. Consegue explicar-nos de que forma?
As condições de humidade e temperatura do outono e inverno propiciam a propagação de gotículas respiratórias. Por outro lado, a taxa de ocupação de hotéis e termas diminui e a respetiva manutenção é aliviada nesta altura do ano, o que propicia condições ótimas para o desenvolvimento de nichos deste agente nos reservatórios de água destas instalações.
O risco de mortalidade é explicado, sobretudo, porque as pessoas mais atingidas pela infeção são idosos com múltiplas comorbilidades ou pessoas com o sistema imunitário comprometido
Quais os sintomas desta infeção?
São semelhantes às outras pneumonias: tosse seca, no geral, falta de ar e febre. Alguns doentes podem queixar-se de dor no peito; dores de cabeça, dores musculares e nalguns casos diarreia; com agravamento progressivo, em alguns casos muito rápido, progredindo para insuficiência respiratória.
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O diagnóstico demora quanto tempo?
O diagnóstico é clínico, confirmado por radiografia do tórax e análises. Esta confirmação faz-se muito rapidamente, na maioria dos casos, através de um exame à urina que consegue confirmar, em poucas horas, que se trata de uma infeção provocada por legionella, sem necessidade de métodos laboratoriais sofisticados. Nos casos em que seja possível colher expetoração ou outras amostras respiratórias, essa análise é preferível.
Qual a taxa de mortalidade?
Varia entre 1-10%. Nos casos graves pode atingir os 30%. O risco de mortalidade é explicado, sobretudo, porque as pessoas mais atingidas pela infeção são idosos com múltiplas comorbilidades ou pessoas com o sistema imunitário comprometido e, por isso, incapazes de combaterem eficazmente a infeção.
Nos casos graves que cursam com insuficiência respiratória, é necessário todo o suporte, nomeadamente oxigénio e ventilação mecânica
Então, o risco é maior para algumas pessoas? Quais os fatores de risco?
As consequências da infeção por legionella dependem da quantidade de gotículas inaladas e do grau de compromisso do sistema imunitário da pessoa exposta. Assim, os grupos que apresentam maior risco são idosos com doenças crónicas, como doenças respiratórias, diabetes, insuficiência cardíaca, doenças renais ou hepáticas e doentes submetidos a tratamentos imunossupressores como quimioterapia, corticoesteróides ou tratamentos para doenças autoimunes e pós-transplante. O próprio tabagismo constitui um fator de risco.
Qual o período de incubação?
O período de incubação que medeia a inalação das gotículas e a apresentação dos primeiros sintomas, regra geral, varia entre dois e 10 dias, estando descritos casos que atingem 14 dias.
E tratamento?
Passa por antibióticos dirigidos a esta infeção específica, capazes de penetrar no núcleo das células infetadas. Estes antibióticos fazem parte do esquema indicado para o tratamento da pneumonia adquirida na comunidade grave. A única diferença é que deve ser prolongado no tempo. Nos casos graves que cursam com insuficiência respiratória, é necessário todo o suporte, nomeadamente oxigénio e ventilação mecânica.
Que medidas de prevenção devem ser adotadas?
Não havendo vacinação, as atitudes preventivas passam por uma manutenção adequada dos reservatórios de água e aparelhos de ar condicionado, implementação de medidas de higiene, análises microbiológicas frequentes às canalizações de hotéis, lares, hospitais e piscinas, bem como evitar a aerossolização de partículas que possam ser veículo de transmissão da legionella.
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