As autoridades de saúde portuguesas identificaram, recentemente, um caso de sarampo num bebé inglês de 20 meses. De acordo com um comunicado da Direção-Geral da Saúde (DGS), não estaria vacinado. A criança encontra-se internada e está "clinicamente estável, prevendo-se a alta para os próximos dias".
Para já, segundo a DGS, não foram identificados outros casos de sarampo. Também no domingo, dia 14, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, afirmou que não existe nenhuma suspeita de contágio do caso importado e a probabilidade de isso vir a acontecer é reduzida.
"Quem não está vacinado é o maior problema", aponta a pediatra Isabel Saraiva de Melo, do Hospital Cruz Vermelha, ao Lifestyle ao Minuto. Ainda assim, "tendo em conta as altas taxas de cobertura vacinal (+de 95%) em Portugal, a probabilidade de virem a surgir novos casos é muito baixa". "Este vírus é muitíssimo contagioso e ter existido contacto é determinante, mas, felizmente, não há nenhum relato disso", lembra.
© Isabel Saraiva de Melo
Quanto a sintomas, destacam-se a febre alta, a congestão nasal, vermelhidão dos olhos e erupção na pele. O período de incubação pode ir de uma a três semanas.
O sarampo, recorde-se, continua a ser uma das principais ameaças às crianças, como demonstram os números da Organização Mundial da Saúde. No ano passado, foram registados nove milhões de casos de sarampo e 136 mil mortes, mais 18% e 43%, respetivamente, do que em 2021. Este aumento surge na sequência de vários anos consecutivos em que as taxas de vacinação contra o sarampo estiveram em queda.
Leia Também: Bebé com sarampo em Lisboa? "Não há nenhuma suspeita de contágio"
Para a pediatra Isabel Saraiva de Melo, são duas as razões que justificam este cenário. A primeira prende-se com "o sucesso das próprias vacinas". "Esta geração de jovens pais são, porventura, quem menos vacina os filhos, porque nas últimas décadas nunca viram doenças como o sarampo, poliomielite, tétano... Aqueles casos que matavam."
Por outro lado, a pediatra recorda um mito que surgiu no final dos anos 90, quando foi publicado um estudo de Andrew Wakefield, na revista Lancet, que levantou a hipótese de a vacina tríplice viral (contra o sarampo, a papeira e a rubéola) estar associada ao desenvolvimento de perturbações do espectro do autismo. "Esse mito já foi desmontado imensas vezes, mas infelizmente ficou", lamenta.
O que também contribuiu para um atraso da vacinação contra o sarampo foi a pandemia de Covid-19. "Estávamos tão assoberbados e o medo das pessoas era tal que houve algum atraso na vacinação dos bebés que nasceram nessa altura, embora tenha sido feito um enorme esforço de recuperação", faz questão de sublinhar a médica, acrescentando que "as polémicas em torno da vacinação Covid também não ajudaram". "Foi mais uma acha para a fogueira", considera.
No entanto, "os pais podem confiar plenamente nas vacinas incluídas no Programa Nacional de Vacinação". "São vacinas seguras e eficazes", garante Isabel Saraiva de Melo.
Leia Também: "Estável". Bebé de 20 meses internado com sarampo em Lisboa