Crianças incentivadas a dizer palavrões no TikTok. "É preocupante"

O novo desafio viral do TikTok relançou um aceso debate sobre o papel que os pais devem assumir na utilização das redes sociais pelos mais novos. O Lifestyle ao Minuto falou com a psicóloga clínica Ana Durão e o neuropsicólogo Paulo Dias.

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Ana Rita Rebelo
11/03/2024 09:30 ‧ 11/03/2024 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle

Entrevista

Deixar uma criança sozinha em frente a uma câmara, incentivando-a a dizer o maior número de palavrões. Este é mais um entre os muitos desafios a viralizar na rede social TikTok e a levantar preocupações entre especialistas.

Ao Lifestyle ao Minuto, Ana Durão, psicóloga clínica especializada em aconselhamento infantil e juvenil, desencoraja-o e alerta para alguns dos riscos inerentes a estas tendências, nomeadamente "a possibilidade de bullying ou de cyberbullying, bem como o desenvolvimento de comportamentos agressivos ou desrespeitosos". O problema é que "normalizam e reforçam o uso de linguagem inadequada e podem desencadear consequências emocionais e sociais", prejudicando o desenvolvimento saudável da criança.

Notícias ao Minuto © Ana Durão e Paulo Dias

A especialista não tem dúvidas de que estamos perante um desafio que "é preocupante". Para Ana Durão, comprova a importância de os pais estarem atentos à vida online dos filhos. "Controlar a exposição a conteúdos inadequados, supervisionar interações online e criar um ambiente que estimule comportamentos apropriados são medidas fundamentais para proteger o desenvolvimento saudável das crianças", refere. Ao mesmo tempo, "é fundamental que os pais promovam uma comunicação aberta" e sejam "modelos de comportamento positivo".

"Mesmo que a intenção [dos vídeos] seja humorística, é crucial considerar o impacto real nas crianças envolvidas. Encorajo todos a refletirem sobre o tipo de conteúdo que promovem, destacando a responsabilidade coletiva em criar um ambiente online seguro e respeitoso para o desenvolvimento saudável das crianças", acrescenta.

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Paulo Dias, neuropsicólogo das Clínicas Dr. Alberto Lopes, corrobora e vai ainda mais longe, afirmando que este é "mais um exemplo de como algumas pessoas estão dispostas a comprometer a integridade e o bem-estar dos seus filhos em troca de mais seguidores nas redes sociais". O especialista deixa o recado: "Incentivar uma criança a dizer palavrões, mesmo que temporariamente, pode resultar num comportamento repetitivo e causar confusão na criança sobre aquilo que é apropriado e inadequado em termos de linguagem e comportamento social".

O que fazer quando uma criança começa a dizer palavrões?

Sublinhando que as crianças começam a dizer palavrões cada vez mais cedo, Paulo Dias alerta para "a forte influência que o digital tem na vida dos mais novos", bem como o "acesso descontrolado à Internet e a falta de supervisão dos pais sobre esse conteúdo". O neuropsicólogo explica que "rir repetidamente dos palavrões que uma criança verbaliza não é recomendado, porque pode estar a enviar uma mensagem confusa à criança e fortalecer a repetição desse comportamento inadequado". "Há que procurar explicar à criança o motivo de aquela palavra não ser apropriada e ensinar alternativas adequadas para que possa expressar as suas emoções", diz.

Ana Durão também é a favor de uma abordagem pedagógica. "É mais construtivo." Enfatiza ainda a importância de os pais esclarecerem o porquê de certas palavras, ou expressões, não serem apropriadas. "Devem discutir alternativas mais adequadas e reforçar valores positivos" para a situação não se repetir. "É crucial oferecer soluções saudáveis para que a criança possa expressar o seu desagrado, zanga, mágoa ou outro sentimento mais difícil", reitera.

Evitar o uso de palavrões na presença das crianças é igualmente recomendado. "Ao evitarem linguagem inadequada, os pais contribuem para a criação de um ambiente mais propício ao desenvolvimento saudável das crianças. Essa abordagem não estabelece apenas um padrão de comunicação respeitosa, mas também influencia positivamente a formação de valores e normas, promovendo uma base emocional e comportamental mais estável para as crianças", remata a psicóloga.

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