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Diálise peritoneal. Sabe do que se trata esta alternativa à hemodiálise?

Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, Edgar Almeida, médico nefrologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, explica em que consiste este tratamento e quais as vantagens para os pacientes. Neste Dia Mundial do Rim, o especialista fala ainda da importância deste órgão e de como os tratamentos têm evoluído.

Diálise peritoneal. Sabe do que se trata esta alternativa à hemodiálise?

Quando se fala de insuficiência renal crónica, a hemodiálise é logo o primeiro tratamento que vem à cabeça. Ainda assim, não é o único. Sabe o que é a diálise peritoneal? Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, Edgar Almeida, médico nefrologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, explica em que consiste esta alternativa.

"Esta técnica possibilita também a redução do número de visitas não planeadas ao hospital, diminuindo também os custos relacionados com essas mesmas deslocações e o tempo alocado, com impacto positivo na qualidade de vida do doente", esclarece.

Neste Dia Mundial do Rim, que se assinala esta quinta-feira, o médico abordou ainda a importância deste órgão, a evolução dos tratamentos e de como é possível viver apenas com um rim.

Que importância têm os rins no organismo?

Os rins têm um papel fundamental na saúde e no bem-estar geral, tendo como função de depurar do sangue substâncias tóxicas, eliminando-as através da urina. Além disso, são responsáveis pelo controlo dos níveis de hidratação, eletrólitos (sais minerais) e ácido-base do organismo. 

Notícias ao Minuto Edgar Almeida é médico nefrologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia© Hospital da Luz  

Quais são as doenças mais comuns que afetam a função renal?

As doenças que, frequentemente, mais afetam os rins são a diabetes e a hipertensão arterial. Estas duas doenças contribuem para quase metade dos casos de doença renal crónica. Pielonefrites (infeção do rim), glomerulonefrites (lesão glomerular provocada por exemplo por inflamação), litíase renal (‘pedras no rim’), doenças congénitas e genéticas são exemplos de outras doenças que afetam os rins. 

Quais são os principais fatores de risco para este tipo de doenças?

Os principais fatores de risco para doenças da função renal são o histórico familiar de doença renal, envelhecimento, diabetes, hipertensão, obesidade, episódios repetidos de infeção urinária.

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Como é possível prevenir os riscos?

É normal ao longo dos anos existir uma diminuição gradual da função renal. A prevenção assenta na adoção de comportamentos de vida saudável, controlando os fatores de risco, bem como no acompanhamento regular em consultas médicas para que, existindo a doença, esta seja detetada precocemente.  

A insuficiência renal crónica é uma das doenças mais faladas e comuns. Qual é a incidência em Portugal?

Em Portugal, segundo dados da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, aproximadamente 10% da população sofre de insuficiência renal crónica. 

Além da hemodialise, os doentes têm disponível outras duas formas de tratamento: a diálise peritoneal ou o transplanteTrata-se de uma doença sem cura?

A insuficiência renal crónica é uma doença sem cura. O tratamento visa evitar a progressão para uma fase em que se torna inevitável a substituição da função renal. Para isso é necessário detetar precocemente os sinais que mostram doença renal nos indivíduos em risco. 

A hemodiálise é o único tratamento possível? Em que consiste?

Quando não se consegue evitar a progressão, devido a diagnóstico tardio ou por outras razões, pode ser necessário fazer um tratamento substitutivo renal.  Além da hemodiálise, os doentes têm ainda disponível outras duas formas de tratamento de substituição da função renal: a diálise peritoneal ou o transplante. A hemodiálise é uma opção terapêutica em que o sangue é filtrado fora do corpo utilizando uma máquina de hemodiálise e uma membrana fabricada, chamada dialisador, que atua como um rim artificial. Durante a hemodiálise, a máquina de hemodiálise remove uma pequena quantidade do sangue do corpo através de uma agulha ou cateter. O dialisador limpa então o sangue, removendo resíduos, toxinas e fluidos em excesso, e este é devolvido ao corpo. Os tratamentos de hemodiálise ocorrem num hospital ou clínica de diálise sob a supervisão de uma equipa de profissionais de saúde.

E em que consiste a diálise peritoneal? Quais são as vantagens e as desvantagens para os utentes?

A diálise peritoneal é uma opção terapêutica que utiliza o revestimento do abdómen do doente para filtrar e limpar o sangue. É um tratamento indolor e não envolve o uso de agulhas de forma constante. A diálise peritoneal, podendo ser realizada em casa enquanto o doente dorme, permite uma maior flexibilidade e independência face à hemodiálise. É um tratamento que pode ser adaptado ao estilo de vida do doente, sendo possível trabalhar, estudar ou viajar enquanto é realizado o tratamento. Esta técnica possibilita também a redução do número de visitas não planeadas ao hospital, diminuindo também os custos relacionados com essas mesmas deslocações e o tempo alocado, com impacto positivo na qualidade de vida do doente. Do ponto de vista clínico, no caso da diálise com telemonitorização, o acesso aos dados específicos do tratamento é mais ágil e permite um acompanhamento mais proativo por parte dos profissionais de saúde, verifica-se uma deteção mais rápida de problemas associados ao tratamento, uma monitorização mais próxima e frequente, bem como uma maior disponibilidade para o suporte adequado. A possibilidade de redução de todos estes encargos a nível de recursos, deslocações e tempo alocado com a implementação da telemedicina em diálise peritoneal, com a plataforma de telemonitorização em diálise domiciliária, traduz-se num melhor equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal, maior independência e autonomia do doente e ainda numa poupança tanto para o doente como para o hospital e, por último, para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Por que razão a hemodiálise é a técnica de tratamento mais comum?

A hemodiálise é uma técnica bastante antiga, pelo que os procedimentos e equipamentos também passaram por inúmeras evoluções ao longo do tempo. Além disso, os tratamentos realizam-se em hospitais ou clínicas sob a supervisão de uma equipa de profissionais de saúde, permitindo ao doente realizar o tratamento num local próprio, com menos invasão da vida familiar. No entanto, em determinadas condições, é possível fazer hemodiálise domiciliária. Para optar por uma técnica como a diálise peritoneal é importante que, na fase de decisão, os doentes possam contactar com outros doentes em terapia para que a sua decisão seja bem fundamentada. Apesar de todos os esforços de informação, os profissionais de saúde não são ainda capazes de transmitir por completo a vivência da diálise peritoneal. O ideal é que o doente possa optar pelo tratamento que melhor se adequa às suas necessidades físicas, emocionais e estilo de vida.   

A prova da evolução dos tratamentos é o surgimento de terapias como a diálise peritonealOs tratamentos têm evoluído nos últimos anos, em relação a estudos e pesquisas feitos?

Nos últimos anos, a ciência em torno da doença renal tem evoluído bastante e, uma vez que se trata de uma doença sem cura, o foco está, cada vez mais, na prevenção para retardar ou até mesmo prevenir a perda da função do rim. No que diz a tratamentos, a prova da sua evolução é o surgimento de terapias como a diálise peritoneal que utiliza uma cicladora para realizar as trocas da diálise. A cicladora está programada para administrar a quantidade exata de diálise prescrita pelo médico, sendo que normalmente, um programa de diálise peritoneal dura entre 8 a 12 horas e é realizado durante a noite. Além disso, se a cicladora de diálise peritoneal tiver capacidade de gestão remota de doentes, estes poderão recolher diariamente informação detalhada sobre o seu tratamento em casa e enviá-la para o médico no hospital. Este, remotamente, poderá monitorizar o progresso do tratamento, alterar o programa da máquina e conversar com o doente sobre quaisquer problemas que tenha.

É possível viver só com um rim?

É possível viver só com um rim e tal não afeta a esperança de vida. Nos casos em que se nasce apenas com um rim ou quando se procede, por motivo de doença, à remoção de um rim, a tendência é que o rim que existente cresça e se torne maior e mais pesado, numa lógica de compensação da função do outro. Este rim terá de trabalhar mais, garantido cerca de 75% da função renal, em vez dos esperados 50%.

Que cuidados deve ter uma pessoa que vive nesta condição?

É importante optar por um estilo de vida saudável, manter uma dieta adequada, ter acompanhamento regular pelo médico e praticar exercício físico regular. Deve ter precauções no que diz respeito a atividades que possam provocar traumatismos no único rim, como desportos de contacto, como futebol, kickboxing ou karaté. 

O que pode levar à perda de um rim?

O rim pode ter de ser removido devido a uma obstrução urinária, a um tumor ou a uma lesão provocada por um acidente. No entanto, cerca de uma em cada 750 pessoas nasce com apenas um rim (agenesia renal) e pode acontecer que um dos rins seja doado. 

O transplante de rim é um procedimento comum em Portugal?

Os últimos dados divulgados pelo Instituto Português do Sangue e da Transplantação indicam que foram realizados 285 transplantes renais em 2023, mais 62 do que no ano anterior.

Qual a percentagem de sucesso desta cirurgia?

Os transplantes renais são, geralmente, bem-sucedidos. Segundo dados da Sociedade Portuguesa de Transplantação, a taxa de sucesso após um transplante renal é de 95% após um ano de cirurgia e 81% ao fim de cinco anos.

É possível receber um rim de qualquer pessoa?

Não. Para fazer um transplante renal, é necessário estar clinicamente apto e estável. O tipo de sangue e a tipagem de tecidos do dador deverão ser compatíveis com o recetor para garantir que o sistema imunitário do recetor não rejeita automaticamente o rim transplantado. 

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