Muito antes de serem mães, as meninas são incentivadas a cuidar. Em geral, diz-se que têm instinto maternal. Mas e os homens?
"Embora seja menos discutido e analisado", Alberto Lopes, neuropsicólogo/hipnoterapeuta das Clinicas Dr. Alberto Lopes, afiança ao Lifestyle ao Minuto que o instinto parental existe. No entanto, "manifesta-se de maneira diferente", diz, explicando que "é um instinto mais provedor e protetor".
Alberto Lopes considera que "os homens geralmente recebem menos incentivo direto para desenvolver habilidades e interesses relacionados aos cuidados infantis". "Naturalmente, este viés cultural pode influenciar a forma e a rapidez com que o instinto paternal se manifesta."
Passemos já ao 'elefante na sala'. É verdade que os homens têm instinto paternal?
Embora seja menos discutido e analisado, naturalmente que sim.
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E é semelhante ao maternal?
Manifesta-se de maneira diferente. O instinto paternal é muitas vezes influenciado por fatores sociais e experiências pessoais. É um instinto mais provedor e protetor.
Os homens geralmente recebem menos incentivo direto para desenvolver habilidades e interesses relacionados aos cuidados infantis. Naturalmente, este viés cultural pode influenciar a forma e a rapidez com que o instinto paternal se manifesta
Isso quer dizer o quê?
Traduz-se mais num desejo inato de proteger, educar e prover a sua prole. Revela-se de forma mais subtil e gradual. Apesar dessas nuances, os instintos paternal e maternal complementam-se. A natureza dotou as mulheres de um vínculo biológico e emocional mais forte com os filhos, naturalmente reforçado pelo período de gestação e pelo aleitamento. Este forte vínculo gestacional não só fortalece uma maior ligação entre mãe e filho, mas também desencadeia uma série de respostas emocionais e comportamentais instintivas voltadas para a proteção, mas sobretudo para o cuidado da prole. Por outro lado, o instinto paternal, embora não esteja ancorado em bases biológicas tão evidentes, manifesta-se através do desejo de proteger, educar e prover para os filhos. Ou seja, embora ambos os instintos partilhem o objetivo comum de cuidar e proteger os filhos, diferem na sua origem e expressão, refletindo a diversidade das experiências parentais.
© Alberto Lopes
As mulheres também são, desde a infância, encorajadas a 'praticar' a maternidade, até pelas próprias brincadeiras que simulam os cuidados com os filhos.
É um facto. E este tipo de socialização precoce prepara as mulheres para os papéis maternais, reforçando a natural inclinação biológica.
Nos homens, já não é bem assim.
Sabemos que os homens geralmente recebem menos incentivo direto para desenvolver habilidades e interesses relacionados aos cuidados infantis. Naturalmente, este viés cultural pode influenciar a forma e a rapidez com que o instinto paternal se manifesta.
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Continua a notar-se esta discrepância?
Está em transformação. As noções contemporâneas de parentalidade e masculinidade evoluem para abraçar uma visão mais partilhada e integrada na necessária partilha das tarefas parentais. A crescente valorização da paternidade ativa também está a mudar esta dinâmica. Atualmente, mais que no passado, as mulheres abraçam uma carreira profissional semelhante ao homem. Logo, esta nova visão compartilhada de tarefas e dos cuidados com os filhos são perfeitamente colmatadas, ora por um ou pelo outro.
Embora o género masculino não partilhe da mesma ligação física pré-natal que as mulheres têm com os filhos, os pais também desenvolvem laços emocionais profundos e significativos com os seus filhos
Existe uma transformação no cérebro masculino quando os homens são pais?
Sim e é, de facto, notável. Alguns estudos indicam que os homens também têm alterações hormonais, incluindo aumentos nos níveis de prolactina e diminuições na testosterona, o que vai influenciar o comportamento paternal, tornando-os mais receptivos e afetuosos para com os seus filhos. Esta mudança pode ser ilustrada pela metamorfose de uma lagarta em borboleta. Assim como a borboleta emerge com uma nova forma e habilidades para interagir com o mundo, o novo pai desperta com sensibilidades e capacidades emocionais renovadas, para embarcar na jornada da parentalidade. Além disso, uma paternidade ativa estimula o desenvolvimento de áreas cerebrais relacionadas à empatia, ao reconhecimento de necessidades da família e à vinculação emocional.
Considera que os homens também partilham uma espécie de cordão umbilical com os filhos?
Embora o género masculino não partilhe da mesma ligação física pré-natal que as mulheres têm com os filhos, os pais também desenvolvem laços emocionais profundos e significativos com os seus filhos. Chamemos 'cordão umbilical simbólico', 'laços de afeto'... Mas há estudos que apontam que esses laços podem ser fortalecidos por brincadeiras e experiências compartilhadas, cuidado ativo e com investimento emocional no bem-estar e no desenvolvimento dos filhos. Este laço afetivo, forjado através do cuidado, da atenção e da partilha de experiências, é essencial para o desenvolvimento emocional saudável da criança e para a satisfação paternal.
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