"Cozinhar é algo que adoro e que faço com verdadeiro prazer." As palavras são de Carlos Afonso. Cozinheiro de mão cheia, o jovem alentejano, que um dia começou a pensar na cozinha como uma vocação, aprendeu as bases na Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre. Passou alguns anos fora, a trabalhar em restaurantes nos Países Baixos, na Bélgica e no País Basco. Já de regresso a Portugal, o restaurante O Frade, que abriu em 2019, valeu-lhe inúmeras distinções. Atualmente, este chef de 37 anos esmera-se à volta do fogão do Oitto, em Lisboa, que traz o receituário nacional à ribalta.
Numa conversa informal com o Lifestyle ao Minuto, que antecedeu a estreia da nova temporada d'Os Segredos da Tia Cátia', no 24Kitchen, a 25 de março, Carlos Afonso recordou a participação no programa e não poupou nos elogios. "É daquelas experiências muito enriquecedoras e espero que possamos voltar a repetir", disse.
Questionado sobre a vontade de vir a conquistar uma estrela Michelin, respondeu sem hesitar: "Para vingar, um chef precisa de ser apaixonado pelo que faz, de ter uma vida em equilíbrio com a família, de ter um negócio saudável e uma boa equipa. Se depois disso houver reconhecimento, é uma consequência que deve ser muito agradável".
Poder trabalhar na cozinha e ter uma profissão que me dá tanto gozo é um verdadeiro privilégio
Como foi a experiência no programa 'Os Segredos da Tia Cátia'? Cozinhar a quatro mãos é muito diferente?
Foi muito divertido e bem diferente daquilo que fizemos no programa 'Chef de Serviço'. Conhecer, finalmente, a 'casa' da 'Tia Cátia', a sua equipa e os bastidores do programa é daquelas experiências muito enriquecedoras e espero que possamos voltar a repetir.
Carlos Afonso e Cátia Goarmon© Os Segredos da Tia Cátia/24Kitchen
De onde é que vem o seu gosto pela cozinha?
Sim. Cozinhar é algo que adoro e que faço com verdadeiro prazer. Poder trabalhar na cozinha e ter uma profissão que me dá tanto gozo é um verdadeiro privilégio.
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Pode dizer-se que sentiu um apelo? Fale-nos um pouco sobre o seu percurso.
Foi bastante natural. Depois de me formar na Escola de Hotelaria de Portalegre, trabalhei com vários chefs e em diversos restaurantes em Portugal e no estrangeiro. Mas a cereja no topo do bolo foi a minha participação no 'Chef de Serviço', do 24Kitchen, que foi uma experiência espetacular e que complementa na perfeição o meu trabalho no restaurante [Oitto]. É uma aventura muito estimulante.
Começou por fazer o quê na cozinha?
O meu primeiro trabalho numa cozinha foi na copa, onde aprendi a lavar loiça. E adorei! Num restaurante temos de saber fazer de tudo, da copa à gestão operacional, e não me arrependo de nada. Considero isso uma grande vantagem. Hoje em dia, continuo a aprender em áreas novas, como o mercado e o mundo digital.
Quais são os cheiros e os sabores da sua infância?
Do mercado, do peixe, das verduras e das ervas aromáticas. São cheiros e sabores que me acompanham e inspiram desde sempre.
As raízes portuguesas estão muito presentes nos seus pratos. Tendo de resumir a sua cozinha numa frase, como é que a apresentaria?
Uma cozinha portuguesa moderna, com sabor e aroma de casa.
Criatividade e qualidade têm de andar de mãos dadas. São duas peças fundamentais e das quais não abdico
Existe alguém que tenha tido influência na forma como trabalha? Tem alguma referência que o inspire particularmente?
São já vários os chefs com quem tive o privilégio de trabalhar, mas talvez destaque o estágio que fiz com o chef Sergio Herman. Foi um período de aprendizagem e mentoria que me tocou profundamente.
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Diria que é difícil manter-se relevante neste meio?
Sim, é um meio onde temos de reinventar-nos constantemente. Temos de estar sempre a estudar, a aprender, a comer coisas novas e a tentar evoluir. Mas considero que tenho ainda um longo caminho a percorrer. Tento ser relevante, especialmente para as pessoas com quem trabalho diariamente.
Como é que se equilibra qualidade e criatividade?
Criatividade e qualidade têm de andar de mãos dadas. São duas peças fundamentais e das quais não abdico. E falando em equilíbrio, há mais um fator decisivo para o meu trabalho e que tem a ver com a qualidade de vida. Para haver criatividade temos de estar bem e calmos. Só assim se consegue um resultado de excelência.
Que prato mais gosta de cozinhar?
Qualquer um que leve arroz.
Sobre o seu restaurante, que objetivos tem para o Oitto?
Ter o restaurante cheio aos almoços e jantares todos os dias. Essa ambição tem uma grande dedicação e uma grande equipa por trás. Acho que estamos no bom caminho para conseguir cumprir este grande objetivo.
Considera que um chef precisa de uma estrela Michelin para vingar?
Para vingar, um chef precisa de ser apaixonado pelo que faz, de ter uma vida em equilíbrio com a família, de ter um negócio saudável e uma boa equipa. Se depois disso houver reconhecimento, é uma consequência que deve ser muito agradável.
Mas é uma ambição?
Tenho várias. Ter projetos e criar conceitos, ajudar pessoas a crescer nesta área e, complementarmente, ter um equilíbrio entre a vida profissional, social e familiar, são algumas delas.
Para rematar esta conversa, pergunto-lhe: para que personalidade, viva ou morta, gostaria de cozinhar?
Para o professor Agostinho da Silva, para Fernando Pessoa e para a banda Xutos & Pontapés.
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