Um aluno da Escola Secundária de Caneças, em Odivelas, morreu recentemente, de forma fulminante, vítima de meningite bacteriana. Esta doença é a forma mais grave e letal de meningite. Além disso, é muito contagiosa, sendo transmissível através "de gotículas e secreções nasais, geralmente através da tosse, espirros, beijos ou contacto próximo com um individuo afetado", explica a neurologista pediátrica Mónica Vasconcellos, presidente da Sociedade Portuguesa de Neuropediatria, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto.
A doença caracteriza-se pela "inflamação das meninges, que são as membranas que revestem e protegem o cérebro e a medula espinhal", resume a especialista. Febre, cefaleias, vómitos, dores musculares, irritabilidade, alteração do estado de consciência e rigidez da nuca são os principais sintomas.
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© Mónica Vasconcellos
Em que consiste a meningite bacteriana?
A meningite bacteriana é uma doença infecciosa aguda, que consiste na inflamação das meninges, membranas que revestem e protegem o cérebro e a medula espinhal. As meningites podem ser causadas por diversos agentes etiológicos. No caso das meningites bacterianas, estas são causadas por uma bactéria.
Como é que se transmite?
Através de gotículas e secreções nasais, geralmente através da tosse, espirros, beijos ou contacto próximo com um individuo afetado.
Em Portugal, todos os anos são registados casos desta doença em todas as faixas etárias
Qual o impacto da doença em Portugal?
A incidência da meningite bacteriana tem vindo a diminuir ao longo dos anos. O número de casos é, atualmente, residual, comparado com que se verificava há cerca de 30 anos, graças às vacinas implementadas no Plano Nacional de Vacinação. No entanto, em Portugal, todos os anos são registados casos desta doença em todas as faixas etárias.
Isso quer dizer o quê?
Que apesar da existência de vacinas preventivas e antibioterapia eficaz, mantém-se como uma causa importante de morbilidade e mortalidade, sobretudo em idade pediátrica.
A vacinação é a arma mais poderosa que temos na prevenção destas doenças potencialmente graves
As crianças são as mais afetadas?
A meningite pode ocorrer em qualquer idade. De acordo com a faixa etária, os agentes etiológicos são diferentes. No entanto, esta doença é mais frequente em bebés e crianças, com um segundo pico de incidência na adolescência e jovens adultos, devido aos comportamentos de risco típicos desta faixa etária. Além disso, em idade pediátrica, os adolescentes são o grupo com menor cobertura vacinal, uma vez que não foram abrangidos, na época, pelo Plano Nacional de Vacinação em relação à vacina anti-meningococo B e também não estão imunizados contra o meningococo A, W e Y. Em alguns países europeus, a vacinação contra estes últimos serotipos já está incluída no Plano Nacional de Vacinação durante a adolescência. Pessoas com imunodeficiências por doença crónica ou medicação também têm um risco acrescido de contrair estas doenças.
Quais os tipos de meningite mais frequentes?
A meningite pode ser causada por diversos agentes, além das bactérias, nomeadamente vírus, parasitas e fungos. Dentro das meningites bacterianas, os principais agentes etiológicos em idade pediátrica, excluindo os primeiros meses de vida, são a Neisseria meningitidis e o Streptococcus pneumoniae. Outras bactérias podem estar envolvidas, mas a sua frequência varia consoante a idade e os fatores de risco do hospedeiro.
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Quais os principais sintomas de uma meningite bacteriana?
São febre, cefaleias, vómitos, dores musculares, irritabilidade, alteração do estado de consciência e rigidez da nuca. Podem ainda ocorrer convulsões, agitação psicomotora e alterações cutâneas. Já no bebé, os sintomas podem ser mais subtis e ocorrer irritabilidade, prostração, choro, vómitos e dificuldades alimentares. A fontanela anterior - a chamada 'moleirinha' - pode estar hipertensa, ou seja, abaulada.
Alguns dos sintomas que descreve são muito comuns. Como tal, pergunto-lhe se costumam ser confundidos?
Numa fase inicial, os sintomas podem ser inespecíficos e confundidos com uma gripe ou uma gastroenterite.
Qual o período de contágio?
É aquele em que a bactéria existe na nasofaringe. Geralmente, deixa de ser contagioso 24 horas após o início da terapêutica antibiótica adequada.
E de incubação?
O período de incubação pode variar entre um a 10 dias. Normalmente são quatro dias.
A suspeita de meningite bacteriana é uma emergência médica. Requer um diagnóstico atempado e a instituição precoce de antibioticoterapia eficaz
A meningite pode deixar sequelas?
Sim. As principais sequelas são atraso do desenvolvimento psico-motor, dificuldades de aprendizagem, epilepsia, surdez parcial ou total, défice visual e problemas motores.
Apesar de tudo, pode ser prevenida
As medidas de higiene, como a lavagem cuidadosa das mãos e a etiqueta respiratória, e limitar o contacto com indivíduos doentes ajuda a diminuir a probabilidade de transmitir e contrair esta doença. Também é sempre de relembrar a importância de uma alimentação cuidada e de um estilo de vida saudável no reforço do nosso sistema imunitário.
E a vacinação?
A vacinação é a arma mais poderosa que temos na prevenção destas doenças potencialmente graves e está disponível contra os agentes mais frequentemente causadores de meningite bacteriana. Existem vacinas disponíveis contra as principais bactérias causadores de meningite, a maioria incluídas atualmente no Plano Nacional de Vacinação. As crianças cujos pais não optaram pela vacinação têm, logicamente, um risco acrescido de infeção.
Como é que se trata a meningite bacteriana?
A suspeita de meningite bacteriana é uma emergência médica. Requer um diagnóstico atempado e a instituição precoce de antibioticoterapia eficaz. O tratamento antibacteriano deve ser iniciado o mais precocemente possível, com antibiótico endovenoso, além das medidas básicas de suporte.
Considera que a população portuguesa está sensibilizada para as consequências da meningite?
Diria que sim. Em Portugal, o número de crianças não vacinadas, por opção dos pais, é residual.
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