A importância do aleitamento materno é amplamente reconhecida, sendo essencial para o desenvolvimento do bebé e para a sua saúde na vida adulta. A propósito do Dia Mundial da Amamentação, que se assinala a 1 de agosto, torna-se ainda mais pertinente esclarecer uma dúvida que muitas mães levantam: será que a sua alimentação influencia a qualidade do leite?
Em primeiro lugar, é importante destacar que o leite materno é um alimento completo, capaz de suprir todas as necessidades energéticas e nutricionais do bebé. Por esse motivo, a Organização Mundial de Saúde e as entidades de nutrição como a Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica, recomendam o aleitamento materno exclusivo durante os primeiros seis meses de vida. Contudo, a composição do leite materno pode variar dependendo de alguns fatores como a idade do bebé e o momento da lactação.
Nutricionista Patrícia Cunha, do Hospital CUF Porto.© CUF
O leite produzido nos primeiros dias após o parto, designado de colostro, é rico em proteínas, fatores imunológicos e apresenta um baixo teor de gordura. Já o leite humano maduro contém cerca de metade da proteína e o dobro da gordura. Ao longo da lactação, também se verifica esta mudança dinâmica, sendo que, no início, o leite é mais rico em hidratos de carbono e, no final, torna-se mais concentrado em gorduras.
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Adicionalmente, os hábitos alimentares maternos têm um impacto significativo nos constituintes do leite. Uma investigação publicada pelo American Journal of Clinical Nutrition relatou que a quantidade de ácidos gordos ómega 3 no leite varia conforme a ingestão desse nutriente pela mãe, sendo este fundamental para o desenvolvimento dos sistemas neurológico e visual do bebé. Foi demonstrado que as mães que consomem mais peixes gordos como a sardinha e o salmão, apresentam níveis mais elevados de ácidos gordos ómega 3 no leite.
A dieta materna pode também determinar a proporção de algumas vitaminas no leite, como é o caso das vitaminas A, D, B6 e B12. Na prática clínica, observamos frequentemente mães que apresentam défice de vitamina D, resultando em menores concentrações deste nutriente no leite, o que pode afetar a saúde óssea do bebé. Outro exemplo prende-se com mães que são vegetarianas. Neste caso, podem-se verificar níveis mais baixos de vitamina B12 no leite, podendo ser necessário recorrer à suplementação.
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Além disso, é comum haver relatos de mães que verificam que, após a ingestão de certos alimentos, designadamente os laticínios, os seus bebés desenvolvem sintomas de desconforto ou cólicas. Embora não haja consenso científico quanto a este tema, a observação clínica sugere que ajustar a dieta da mãe pode melhorar o bem-estar do bebé. É importante que as mães tentem identificar os efeitos associados ao consumo de cada alimento de modo a não levar a restrições alimentares excessivas.
Existem também algumas crenças sobre a alimentação durante o aleitamento que precisam de ser desmistificadas. Há a ideia de que alguns alimentos, como a cerveja preta e o bacalhau, contribuem para o aumento da produção de leite. A verdade é que não há evidências científicas que comprovem que alimentos específicos possam ter esse efeito. A produção láctea relaciona-se com o ato de sucção ou de extração do leite. No entanto, há situações em que a produção do leite pode diminuir. Estudos demonstraram que mães em condições de desnutrição grave produzem menos leite e com menor riqueza nutricional.
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Deste modo, a alimentação da mãe desempenha um papel fundamental na composição do leite materno, sendo crucial adotar uma alimentação variada e equilibrada. A mãe deve privilegiar a ingestão de alimentos ricos em vitaminas e minerais, garantir uma boa ingestão hídrica e deve ser avaliada a necessidade de suplementação alimentar. Por outro lado, devem ser evitados alimentos açucarados, produtos salgados ou com alto teor de gordura e bebidas alcoólicas ou com cafeína.
Ter o acompanhamento com um nutricionista é crucial para fornecer a orientação adequada a esta fase do ciclo de vida e otimizar tanto a amamentação, quanto a saúde da mãe e do bebé.
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