A gravidez psicológica não é mito e verifica-se tanto em mulheres como animais. Em cadelas e gatas é mais comum do que imagina. Dura entre duas a três semanas e, ainda que possa ser preocupante para tutores, é possível prevenir e tratar com sucesso.
Também conhecida como pseudogestação, é um processo fisiológico que ocorre após o cio devido a alterações hormonais, nomeadamente nas concentrações de estradiol, progesterona e prolactina. "Desencadeia-se quando os níveis de progesterona, cuja concentração aumenta após a ovulação, começam a diminuir. Esta diminuição da progesterona leva a um aumento na produção de prolactina", preparando o corpo da fêmea para a lactação após o parto, resume a médica veterinária Cristina Matos, da ZU, em declarações ao Lifestyle ao Minuto.
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As cadelas e gatas com pseudogestações podem apresentar vários sintomas de gravidez, com maior ou menor duração e grau de intensidade: aumento das glândulas mamárias; produção de leite; perda de apetite; maior volume abdominal; apego excesso; manifestação de comportamento de proteção ou afeção a objetos; letargia, irritabilidade e agressividade. Podem ainda surgir outros sinais mais inespecíficos e pouco frequentes, tais como anorexia, vómitos, diarreia, aumento da mição e da ingestão de comida e água.
Ao identificarem alterações no comportamento dos patudos, os tutores deverão levá-lo a um médico veterinário. Quanto ao tratamento, "poderá ser necessário o uso de fármacos para inibição da produção de leite e, caso haja lambedura da zona mamária, pode ser colocado um colar isabelino de forma a impedir a estimulação da produção de leite", esclarece Cristina Matos. Refere também que "pode ser sugerida terapia comportamental de forma que sejam feitas alterações no ambiente e na rotina do animal".
Após o diagnóstico, "o dono deve tentar distrair o animal com passeios ou aumentar o tempo das brincadeiras. É também importante que impeça as lambeduras das glândulas mamárias a fim de prevenir a estimulação de produção de leite", recomenda a especialista da ZU.
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A médica veterinária Sónia Miranda, da Anicura Atlântico Hospital Veterinário, acrescenta que é igualmente importante "evitar estímulos que promovam o comportamento materno, removendo brinquedos ou objetos que a fêmea adote como 'filhotes', e garantir uma dieta equilibrada".
Especialistas recomendam aposta na prevenção
A mesma médica veterinária afirma que "a esterilização pode ser recomendada para prevenir futuros episódios". Esta é, segundo Sónia Miranda, "a forma mais eficaz de prevenir a gravidez psicológica", uma vez que "é um procedimento que elimina as flutuações hormonais que causam esta condição".
"É importante que os donos entendam que a gravidez psicológica é uma condição que, na maioria dos casos, não representa um risco grave à saúde do animal. No entanto, a supervisão e orientação veterinária são essenciais para garantir o bem-estar do animal e para garantir a devida gestão dos sintomas, evitando a evolução para um processo mais complicado, como uma mastite [processo inflamatório, muitas vezes infecioso, da glândula mamária]", alerta ainda.
Também contactado pelo Lifestyle ao Minuto, o médico veterinário José Rui Branco, da Clínica O Meu Vet, faz questão de sublinhar que, "embora não seja grave na maioria dos casos, a gravidez psicológica tem sintomas que podem ser dolorosos e é, sem dúvida, um fator de stress e alteração do bem-estar dos animais". Explica também que "a esterilização não só previne a gravidez psicológica, como traz outros benefícios para a saúde do animal, devendo ser fortemente considerada e esclarecida juntamente com o médico veterinário".
"A esterilização apresenta inúmeras vantagens", reafirma, salientando que, além de prevenir a pseudogestação, "pode diminuir o aparecimento de alguns tumores de mama, quando a cirurgia é realizada precocemente, reduz as hipóteses de infeções do útero (piómetras/endometrites) e previne uma gravidez indesejada".
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