Renovar a inscrição no ginásio, poupar dinheiro, parar de fumar, ler mais, passar tempo com a família. Ainda agora entrámos a meio do mês de janeiro e já deu por si a desistir de algumas das promessas feitas para 2025? Infelizmente, não está sozinho.
"É um facto que cerca de dois terços das pessoas abandonam as suas metas no final do primeiro mês do ano", indica a psicóloga Teresa Feijão ao Lifestyle ao Minuto, sublinhando que "existe uma enorme diferença entre desejar a mudança e desejar mudar".
"Mesmo quando as pessoas definem um objetivo claro de mudança, o que geralmente isso significa é que estão interessadas na mudança como um resultado, em vez de a encararem como um processo." No entender de Teresa Feijão, "as pessoas não estão prontas para mudar os seus hábitos e, obviamente, os 'maus hábitos'".
Por outro lado, reconhece que "abandonar resoluções também pode ser um alívio" em alguns casos, "caso as metas sejam irrealistas ou impostas".
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A psicóloga Teresa Feijão sublinha: "Existe uma enorme diferença entre desejar a mudança e desejar mudar"© Teresa Feijão
Muitas pessoas acabam por desistir das resoluções de ano novo ainda em janeiro. Há explicação para isso?
É um facto que cerca de dois terços das pessoas abandonam as suas metas no final do primeiro mês do ano. O que acontece é que são poucas as que conseguem passar pelo processo que as levaria ao sucesso.
Isso quer dizer o quê?
Existe uma enorme diferença entre desejar a mudança e desejar mudar. Ou seja, mesmo quando as pessoas definem um objetivo claro de mudança, o que geralmente isso significa é que estão interessadas na mudança como um resultado, em vez de a encararem como um processo. Um outro facto a ter em conta é a 'explosão' de motivação que todos parecem ter no início do ano, misturada com a impaciência de atingirem esse grande objetivo. Com grandes objetivos o progresso é, habitualmente, muito lento, o que também serve para a desmotivação que se segue em pouco tempo.
É importante que se vá celebrando pequenas vitórias, mesmo que o objetivo final não tenha ainda sido atingido
As resoluções são muitas vezes irrealistas e não está alinhadas com a visão interna que as pessoas têm de si próprias. Logo, desistir ou falhar é o mais certo. As pessoas encaram também as suas resoluções de ano novo como objetivos a serem atingidos a curto prazo e é por isso que acabam por se sentir desmotivadas e, na maioria das vezes, desistem. É importante que se vá celebrando pequenas vitórias, mesmo que o objetivo final não tenha ainda sido atingido.
É difícil mudar hábitos?
A questão base é que as pessoas não estão prontas para mudar os seus hábitos e, obviamente, os 'maus hábitos', e isso é o principal responsável pelas altas taxas de desistência prematura. Os hábitos tornam-se mais enraizados à medida que a idade avança, exatamente porque a repetição os reforça com o tempo.
Em jeito de resumo, o que falha na definição das resoluções de ano novo?
A definição de metas pouco realistas ou vagas, a falta de planeamento, o excesso de resoluções, a falta de motivação interna, o imediatismo, assim como a autossabotagem e medo do fracasso. Algumas pessoas têm um medo tal de não alcançar as suas metas que acabam por desistir antes de se focarem efetivamente nas ações necessárias para tal.
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O abandono precoce das resoluções de ano novo pode ter um peso a nível psicológico?
Sim, especialmente quando esse padrão se repete ao longo do tempo. Podem surgir sentimentos de frustração, culpa e autocrítica, perda de motivação futura, ansiedade, procrastinação e estagnação. Por outro lado, abandonar resoluções também pode ser um alívio em alguns casos, caso as metas sejam irrealistas ou impostas, e permitir que a pessoa redirecione as suas energias para objetivos mais alinhados consigo mesma e com a sua atual realidade.
A grande chave do sucesso é a capacidade de treinar o cérebro para adotarmos uma nova postura e isso só acontece com treino e persistência
Que estratégias podemos adotar para manter as resoluções de ano novo e evitar esses tais sentimentos de frustação?
Em primeiro lugar, devemos definir objetivos realistas e possíveis, analisando-os para que sejam específicos, mensuráveis, relevantes, definidos com datas de concretização e que dependam de si. Depois, o foco deve ser no progresso e não apenas no objetivo final, deve-se encarar o medo da mudança com otimismo, não desistir perante os erros, elaborar um plano de ação e fazer acontecer. A maioria das pessoas que não consegue concretizar objetivos falha porque não age. A grande chave do sucesso é a capacidade de treinar o cérebro para adotarmos uma nova postura e isso só acontece com treino e persistência. Há também que evitar comparações e reforçar o foco no que faz sentido para a própria realidade, refletir sobre as pequenas conquistas e, claro, aprender a considerar os contratempos como parte natural do processo de aprendizagem. O treino de um diálogo interno mais positivo e assumir estratégias alternativas para lidar com imprevistos possibilita também a redução do impacto emocional por obstáculos inesperados, assim como o foco em ações e decisões que dependam do próprio e menos de fatores externos.
A flexibilidade nas metas é um fator importante?
É essencial, tanto em termos de realização quanto para o bem-estar psicológico. A flexibilidade permite a adaptação a circunstâncias imprevistas, reduz a pressão e mantém a motivação. Metas rígidas podem gerar frustração e aumentar o risco de desistência, enquanto metas ajustáveis promovem a resiliência e a motivação..
Quando procurar ajuda?
Saber quando procurar ajuda é essencial para prevenir que sentimentos como a frustração, o desânimo ou a ansiedade frequente e elevada se tornem incapacitantes.
Há sinais que indicam a necessidade de procurar apoio psicológico?
Sim. Quando a frustração afeta a rotina diária, quando há autocrítica excessiva ou surgem sintomas físicos (insónia, dores de cabeça, tensão muscular ou alterações no apetite), quando há dificuldade em gerir sozinho o ciclo de frustração e desânimo, quando surgem pensamentos autodestrutivos e a motivação desaparece completamente ou quando o suporte social não é suficiente, mesmo existindo o apoio de amigos e familiares.
Que mensagem gostaria de deixar aos nossos leitores?
Que procurar ajuda não é sinal de fraqueza, mas sim um passo de coragem para investir no autocuidado, crescimento e inteligência emocional.
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