Bactérias inofensivas inibem micróbios que causam infeções

Num estudo publicado na revista científica Applied and Environmental Microbiology, da Sociedade Americana de Microbiologia, os investigadores revelam que "algumas bactérias que vivem na nasofaringe e orofaringe - isto é, nas regiões logo atrás da cavidade nasal e da boca, respetivamente - conseguem inibir a maioria das variantes de 'S. pneumoniae'".

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Lusa
20/03/2025 17:25 ‧ ontem por Lusa

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Investigadores do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), da Universidade Nova de Lisboa, descobriram que bactérias existentes no trato respiratório superior, fora do tórax, inibem 'Streptococcus pneumoniae', causa de várias infeções respiratórias, foi hoje divulgado.

 

Num estudo publicado na revista científica Applied and Environmental Microbiology, da Sociedade Americana de Microbiologia, os investigadores revelam que "algumas bactérias que vivem na nasofaringe e orofaringe - isto é, nas regiões logo atrás da cavidade nasal e da boca, respetivamente - conseguem inibir a maioria das variantes de 'S. pneumoniae'", segundo um comunicado do ITQB. 

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A bactéria 'Streptococcus pneumoniae' e as suas variantes, conhecidas como pneumococos, é uma das principais causas de infeções como otites e sinusites, mas também meningites, sépsis e pneumonias. Segundo os cientistas, são conhecidas mais de 100 variantes de 'S. pneumoniae' e não existem vacinas que protejam as pessoas de todas elas, algumas das quais "já são resistentes aos antibióticos".

Entre os mais vulneráveis aquelas infeções estão os idosos, os que têm o sistema imunológico enfraquecido e as crianças, 300 mil das quais morrem anualmente em todo o mundo devido a este agente patogénico. "Ao estudar a frequência de colonização por 'S. pneumoniae' reparámos que algumas pessoas que não eram colonizadas por este agente patogénico estavam, no entanto, colonizadas por outras bactérias inofensivas, particularmente 'Streptococcus oralis' e 'Streptococcus mitis'", explica, citada no comunicado, Raquel Sá-Leão, responsável pelo laboratório de Microbiologia Molecular de Patógenos Humanos, que liderou este estudo.

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Os cientistas decidiram então investigar se outros micróbios que residem na nasofaringe e orofaringe poderiam limitar a presença de 'S. pneumoniae', tendo recolhido amostras de 300 crianças e 300 adultos sem pneumococos. "Da extensa lista de micróbios identificámos sete estirpes de 'S. oralis' e 'S. mitis' com uma forte atividade inibitória contra 'S. pneumoniae'", revela Sara Handem, investigadora do ITQB e uma das autoras do estudo, acrescentando que aquelas bactérias "conseguem impedir a formação de biofilmes pneumocócicos - grupos de bactérias que se agarram à mucosa respiratória, formando uma comunidade mais resiliente ao sistema imunitário e aos antibióticos". As estirpes de bactérias protetoras produzem moléculas antimicrobianas chamadas bacteriocinas, toxinas com atividade antipneumocócica.

João Lança, também do ITQB e autor do estudo, explica que, "além de agirem contra a maioria das variantes dos pneumococos, é expectável que as bacteriocinas induzam menos resistência que os antibióticos e que sejam mais específicas atuando contra pneumococos, mas preservando a restante microbiota". Ou seja, poderá ser possível desenvolver probióticos com aquelas bactérias, a serem aplicados através de 'sprays' nasais, e que teriam "o potencial de reduzir a colonização por parte dos pneumococos".

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A equipa "já apresentou um pedido de patente provisório que abrange produtos farmacêuticos que contenham estas bactérias ou as suas moléculas inibidoras de pneumococos (PT119647)" e pretende "explorar o mecanismo de ação das bacteriocinas e avaliar a eficácia e segurança destas e dos micróbios que as produzem, utilizando modelos 'in vivo'".

"O nosso estudo apresenta uma estratégia promissora, tanto para complementar tratamentos já existentes, como de forma independente, de forma a reduzir a doença pneumocócica. Esta abordagem está alinhada com as recomendações da Organização Mundial da Saúde que destaca a importância de prevenir a colonização para combater a doença e a transmissão do pneumococo", assinala Carina Valente, outra das investigadoras participantes.

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