É no verão que a exposição solar aumenta e o risco de cancro da pele cresce. Embora seja importante proteger a pele ao longo de todo o ano, é nesta estação quente que os cuidados devem ser redobrados, especialmente quando o objetivo é ficar com uma pele morena rapidamente.
O uso de protetor solar é indispensável, mas há que saber escolhê-lo e, acima de tudo, há que ter uma relação saudável com o sol, respeitando a sua ação e as necessidades da própria pele.
Para que não restem mais dúvidas sobre a maléfica ligação entre a exposição solar desprotegida e o cancro da pele, a dermatologista do IPO Mariana Cravo – que participou ainda na campanha Save Your Skin da La Roche-Posay – respondeu às dúvidas mais comuns sobre a doença e o uso de protetores solares.
1. A escolha do protetor solar nem sempre é a mais correta. Quais são os aspetos a ter em conta na hora de comprar um novo?
A escolha do protetor solar deve ser adequada ao tipo de pele da pessoa e ao local onde vai ser aplicado. Ou seja, depende:
a) Se é para o rosto ou para o corpo. Num adulto, normalmente o protetor solar do rosto deverá ser adequado ao tipo de pele. A maioria dos protetores solares para o corpo também têm alguma ação hidratante/emoliente que, quando aplicado na pele da face, poderá dar uma sensação de pele ‘gordurosa’ e cosmeticamente não serem tão agradáveis dando à pele um tom demasiado esbranquiçado.
b) Do tom de pele da pessoa. Quanto mais clara é a pele de um indivíduo, menor a quantidade de melanina que esta possui. A melanina, que é o pigmento que dá cor à pele, tem essencialmente uma função fotoprotetora, ou seja, filtra a radiação que atinge a nossa pele, protegendo-a dos seus efeitos nefastos. Assim sendo, pessoas com pele mais clara têm menos melanina e, consequentemente, menor proteção natural ao sol. Estas pessoas devem usar um índice de proteção solar elevado.
c) Do tipo de pele (sensível, seca, mista, oleosa, com patologia como acne, rosácea, melasma…). Há protetores solares mais indicados para cada uma destas situações, alguns deles também reclamando ter efeito na doença de base, como é o caso dos protetores para pele com rosácea, acne ou melasma. Ao aplicarmos um protetor adequado, evitamos o risco de agravar doenças cutâneas previamente existentes.
2. É possível ter um protetor para toda a família ou cada pessoa deve procurar um que seja mais adequado à sua pele?
Um protetor solar para o rosto deve ser adequado à pele da pessoa em questão. Em relação aos protetores para o corpo, na grande maioria dos casos, em que não há patologia cutânea em nenhum dos membros da família, estes poderão usar o mesmo protetor. Caso hajam crianças com menos de 10 anos, o protetor deverá ser adequado à idade da(s) mesma(s), mas os adultos poderão também usá-lo.
3. Há alguma diferença entre os protetores solares mais caros (como os que são vendidos em farmácias) e os protetores mais baratos e/ou de marca branca?
Existem no mercado vários tipos de protetor solar, com diferentes níveis de proteção contra a radiação Ultravioleta B e A. Na farmácia estão disponíveis, além dos cremes com fatores de proteção mais baixos e para peles normais, cremes com maior índice de proteção UVB e UVA, assim como cremes para pele com patologia, normalmente sem perfume e sem uma série de conservantes ou filtros solares que podem causar alergias em peles mais sensíveis.
4. Que cuidados ‘obrigatórios’ devem ter as pessoas durante o verão? E ao longo do ano, o que deve ser feito para proteger a pele?
As pessoas deverão adequar a quantidade de exposição solar ao seu tipo de pele, evitar a exposição solar entre as 11h00 e as 16h00, usar chapéu, óculos de sol, proteger-se à sombra e aplicar o protetor antes de sair de casa e aplicá-lo a cada 2h00. Ao longo do ano a questão coloca-se mais com as pessoas que passam muitas horas ao ar livre, quer seja por trabalho ou por lazer/desporto. Nesses casos, o uso, nessas ocasiões, de roupa adequada, chapéu, óculos de sol e protetor solar é mandatário.
5. Quais são as partes do corpo mais sensíveis à ação do sol?
As áreas designadas por ‘fotoexpostas’ compreendem a face, couro cabeludo (no caso de homens calvos), o pescoço, a área do decote e o dorso das mãos. Designam-se como tal porque estão expostas ao sol todo o ano. Por este motivo, são mais resistentes a este e observam-se menos frequentemente queimaduras solares nessas áreas que na restante pele que normalmente se encontra coberta todo o ano e, de repente, é exposta a grande quantidade de radiação, acabando por sofrer uma queimadura solar com mais facilidade.
6. O cancro da pele continua a ser um tema recorrente todos os verões. É difícil passar a mensagem de que é preciso evitar o sol nas horas de maior calor e que a aplicação de protetor solar é fundamental?
Apesar de todos os anos haver campanhas de sensibilização sobre os malefícios do sol, nomeadamente no que diz respeito ao cancro de pele, continuamos a observar um aumento do número de novos casos desta patologia, anualmente. Os hábitos de convívio saudável com o sol implicam mudanças no estilo de vida (não estar todo o dia na praia, não estar deitado ao sol para bronzear) e muitas vezes alteram a dinâmica familiar, fazendo, por exemplo, com que uma família com crianças pequenas não possa estar o todo o tempo que desejariam na praia. Estes hábitos são difíceis de mudar porque mexem com o estilo de vida e com o lazer das pessoas. Por outro lado, as pessoas pensam que aplicando protetor soltar estão protegidas de todos os efeitos prejudiciais do sol, o que não corresponde de todo à verdade, acabando por estar mais tempo do que é devido expostas ao sol, aumentando o risco de virem a desenvolver um cancro de pele no futuro.
7. Além de um maior cuidado por parte das pessoas, o que é que ainda falta fazer para que o cancro da pele seja menos frequente e penoso?
Para diminuir o número de novos casos de cancro de pele é essencial uma mudança de atitudes e um adotar de hábitos saudáveis de convívio com o sol. Para que estes tumores sejam diagnosticados em fase precoce é fundamental que todas as pessoas façam o auto-exame da pele e sejam observadas atempadamente por um dermatologista caso encontrem alguma lesão cutânea que lhes pareça suspeita.
8. Quais são os grupos de risco para o cancro da pele?
São pessoas com fototipo baixo (ruivas, pele clara, olhos claros), pessoas com mais do que 50 sinais ou com sinais atípicos, pessoas com história pessoal ou familiar de cancro de pele ou pessoas que, pela sua atividade profissional, passam muitas horas expostas ao sol durante todo o ano.
9. A que sinais e sintomas as pessoas devem estar mais atentas?
Devem fazer o auto-exame da pele cada três meses e procurar o ‘patinho feio’, ou seja, por aquele sinal que apareceu de novo ou que já existia e que é diferente de todos os outros, que vai mudando rapidamente de aspeto, que vai crescendo. Devem também estar atentas a feridas que não cicatrizam ou sinais da pele que sangram com frequência.