Afinal, o que é o cancro?

Muitos falam sobre aquela que é a doença do momento, mas poucos sabem do que realmente se trata.

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Daniela Costa Teixeira
04/02/2017 17:08 ‧ 04/02/2017 por Daniela Costa Teixeira

Lifestyle

Cancro

É quase impossível passar um dia sem ouvir ou ler a palavra cancro. Através da televisão, das redes sociais, dos meios de comunicação ou até mesmo daquele familiar próximo ou colega de trabalho, a palavra cancro é uma constante… assim como as pessoas que afeta.

Naquele que é o Dia Mundial da Luta Contra o Cancro – porque, sim, esta é uma luta totalmente global e necessária – o Lifestyle ao Minuto decidiu passar a pente fino alguns livros e estudos para encontrar a melhor definição de cancro, ou pelo menos, aquela que será a mais fácil de entender e assimilar. 

 

O que é o cancro?

O cancro é uma doença do foro oncológico descrita como uma “doença multifatorial que provoca a proliferação de células de forma anormal e a diminuição da apoptose”, explica a nutricionista Magda Roma no seu livro ‘A Dieta Anticancro’ [2014, editora Vogais].

Mas vamos por partes e comecemos pelo lado multifatorial. O cancro é uma doença cuja origem se deve a vários fatores que interferem com a divisão celular. O tabaco (ativo ou passivo), a alimentação não saudável ou nutricionalmente deficiente, o consumo excessivo de álcool, a exposição desprotegida e excessiva ao sol, a exposição a determinados metais (como o amianto), os maus cuidados sanitários (ausência de exames de rotina e diagnóstico), a radiação ionizante, alguns vírus e bactérias, determinadas hormonas, o sedentarismo, a obesidade, o envelhecimento e o desconhecimento do histórico de saúde familiar são alguns dos fatores externos e biológicos que podem originar o cancro, sendo que “dois em cada três tumores são causados por causas evitáveis”, como salienta a médica oncológica espanhola Paula J. Fonseca, autora do livro ‘Comer Para Vencer o Cancro’ [2013, editora Lua de Papel].

Embora a genética não seja um dos fatores com mais peso na doença, o cancro ‘familiar’ existe, embora seja raro. De acordo com a Liga Portuguesa Contra o Cancro, “alguns tipos de cancro ocorrem mais frequentemente em algumas famílias do que no resto da população. Por exemplo, o melanoma e o cancro da mama, ovário, próstata, e cólon são, por vezes, de origem ‘familiar’”.

“Vários casos do mesmo tipo de tumor, numa família, podem estar ligados a alterações genéticas herdadas, que podem aumentar a probabilidade de desenvolver cancro. No entanto, fatores ambientais podem, também, estar envolvidos. Na maioria das vezes, os casos de múltiplos tumores na mesma família, são apenas coincidência”, frisa aquela instituição.

Passemos para a definição de apoptose. Trata-se do termo científico usado para designar a morte programada de células, que se ‘suicidam’ e dão lugar a novas. Este processo é natural, contudo, quando o organismo não é capaz de expulsar as células com defeito, estas podem entrar em conflito e provocar um tumor, algo que também acontece quando o crescimento natural das células acontece de forma anormal.

Na prática, os vários fatores internos e externos acima mencionados provocam cancro porque interferem diretamente com a regulação interna celular, fazendo ou com que as células cresçam e se multipliquem anormalmente ou com que estas não sejam capazes de desaparecer quando não são de qualidade.

Porém, é importante salientar o cancro infantil, uma doença de 'adultos' que afeta crianças desde tenra idade. Tal como se lê no Portal de Informação Português de Oncologia Pediátrica, "o desenvolvimento do cancro depende de múltiplos factores, alguns inerentes ao próprio organismo (agentes internos) e outros de natureza ambiental (agentes externos). Os factores ambientais estão pouco estudados na criança uma vez que o tempo de exposição é curto, estando apenas estabelecido o papel de alguns vírus e da exposição a radiações. O cancro hereditário, em que uma predisposição para desenvolver a doença é transmitida de pais para filhos, é muito raro".

Contudo, e sem uma justificação científica - ou outra qualquer razão para colocar uma criança numa situação destas - são vários os tipos de cancro pediátrico, variando a zona do corpo onde se 'alojam'. Leucemia, Linfoma, Neuroblastoma, Tumores do Sistema Nervoso Central, Tumores Hepáticos, Tumor de Wilms, Retinoblastomas e Sarcomas são os mais comuns.

Existe uma desregulação do processo celular, e depois?

O processo de formação de um tumor não é imediato, uma vez que não é um simples cigarro ou um simples hambúrguer que vão provocar a doença, mas sim a exposição constante a estes fatores (como ser fumador há vários anos ou ter uma dieta altamente desequilibrada e rica em alimentos processados).

Para que uma célula normal dê origem a um tumor é necessário que passe por três fases: a iniciação, a promoção e a progressão.

De acordo com Magda Roma, o processo de iniciação dá-se quando existe uma transformação celular provocada pelos fatores de risco. Depois, ocorre a promoção, ou seja, o momento em que se verifica ou uma proliferação anormal de células ou uma diminuição da morte celular (apoptose) – este momento depende muito da ação dos fatores de risco, por isso é que é importante manter um estilo de vida saudável. Por fim, dá-se a progressão, fase em que se multiplicam as células anormais (“que desenvolveram mutações de forma desordenada e não controlada”, lê-se no livro ‘A Dieta Anticancro’.

 

Mas se as células crescem anormalmente, porque é que alguns cancros são malignos e outros benignos?

A resposta é simples: tudo depende do estilo de vida e do fator/agente que provocou este comportamento anormal nas células.

Perante a proliferação de células de forma anormal e a diminuição da apoptose, um sistema imunitário forte e restabelecido e um organismo saudável é capaz de eliminar mais eficazmente as células defeituosas. A ação dos linfócitos T é fundamental e a sua eficácia é melhor quando se trata de uma pessoa saudável e com cuidados de saúde diários, seja no que diz respeito à alimentação, prática de atividade física ou realização de exames de rotina e diagnóstico.

Nestes casos, dá-se a formação de um tumor benigno, que não passa de uma massa anormal cujo tecido é maior do que o devido.

Porém, quando o organismo é exposto a fatores de risco – ou quando a genética não é ‘amiga’ - a ação dos lifócitos T não é tão eficaz e, assim, dá-se origem a um tumor maligno, uma vez que as células anormais não só não foram ‘expulsas’, como se multiplicaram e infetaram as células vizinhas que eram saudáveis.

De acordo com a informação presente no site da Liga Portuguesa Contra o Cancro, “os tumores benignos não são cancro”, uma vez que raramente colocam a saúde da pessoa em risco e podem ser removidos. Já os tumores malignos, ou cancro, “são mais graves, podem colocar a vida em risco e podem ser removidos", embora exista sempre o risco de voltarem a crescer e de se multiplicarem noutras partes do corpo.

“As células dos tumores malignos podem invadir e danificar os tecidos e órgãos circundantes; podem, ainda, libertar-se do tumor primitivo e entrar na corrente sanguínea ou no sistema linfático - este é o processo de metastização das células cancerígenas, a partir do cancro original (tumor primário), formando novos tumores noutros órgãos”, explica a Liga, que salienta ainda que “as células cancerígenas podem ‘viajar’ para outros órgãos, através do sistema linfático ou da corrente sanguínea. Quando o cancro metastiza, o novo tumor tem o mesmo tipo de células anormais do tumor primário. Por exemplo, se o cancro da mama metastizar para os ossos, as células cancerígenas nos ossos serão células de cancro da mama; neste caso, estamos perante um cancro da mama metastizado, e não um tumor ósseo, devendo ser tratado como cancro da mama”.

Que tipos de cancro existem

Atualmente, estão listados 72 tipos de cancro com codificação. O Instituto Nacional de Cancro dos Estados Unidos permite encontrar um a um, numa lista que tem tanto de esclarecedora como de assustadora.

Em Portugal, os cancros mais comuns são o cancro da bexiga, da boca, do cérebro, do cólo do útero, do cólon e do reto, do estômago, da mama, dos ovários, da pele não-melanoma, do pulmão, da próstata, do rim e do útero. Verificam-se ainda casos significativos de leucemia, linfoma Hodgkin, linfoma não-Hodgkin, melanoma e mieloma múltiplo.

O Programa Nacional para as Doenças Oncológicas de 2015, ‘Portugal - Doenças Oncológicas em Números’, da Direção-Geral da Saúde, destaca que a incidência do cancro tenderá a crescer até 2035, ano em que se esperam mais de 60 mil casos da doença.

Em 2010, revela o relatório, foi o cancro da próstata o que mais incidências teve, seguindo-se o da mama, do cólon, da traqueia, brônquios e pulmões, estômago, reto, útero, bexiga, linfoma não-Hodgkin e glândulas tiroideias. No caso dos homens, foram os cancros da próstata, traqueia, brônquios e pulmões e ainda do cólon os que mais os afetaram. Nas mulheres, os cancros mais comuns foram o da mama, do cólon e da glândula tiroideia.

A nível mundial, alguns dos dados mais recentes pertencem ao relatório de 2014 da Organização Mundial da Saúde (OMS), que se focam no ano 2012 e que indicam que o cancro do pulmão, da próstata, do cólon e reto, do estômago e do fígado foram os que mais afetaram os homens a nível mundial e que os cancros da mama, do cólon e reto, do pulmão, dos ovários e do estômago foram os que mais penalizaram as mulheres.

De salientar que o mesmo relatório nota ainda que o tabaco causa 20% dos cancros em todo o mundo, sendo o responsável direto por 70% dos cancros do pulmão que se registam nos quatro cantos do planeta. 

 

4 de fevereiro, Dia Mundial da Luta Contra o Cancro

O Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, ou simplesmente Dia Mundial do Cancro, é uma iniciativa global que tem como objetivo aumentar a sensibilização social para a doença e para a batalha que esta implica, seja por parte das pessoas afetadas, dos cuidadores ou até mesmo da Medicina, que luta diariamente para encontrar novas formas de prevenção e tratamentos mais eficazes e menos penosos.

Tal como explica a Liga Portuguesa Contra o Cancro na sua página online, a campanha deste ano (mais concretamente de 2016 a 2018) foca-se na máxima ‘Nós Podemos. Eu Posso’, um grito de guerra que impõe uma maior responsabilidade pessoal e social face às várias etapas da doença (prevenção, diagnóstico, tratamento).

No próximo dia 15 celebra-se o Dia Internacional da Criança com Cancro.

 

[Notícia atualizada no dia 4 de fevereiro às 21h30 com a inclusão de informação sobre o cancro pediátrico]

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