Comida vegetariana nas cantinas escolares. O que os pais devem saber

As cantinas públicas em Portugal vão passar a incluir opções isentas de produtos de origem animal. Uma nova era da alimentação começa aqui e as escolas podem ser o trampolim desta nova fase.

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Daniela Costa Teixeira
03/03/2017 16:54 ‧ 03/03/2017 por Daniela Costa Teixeira

Lifestyle

Dieta

Foi esta sexta-feira aprovada em votação final global no Parlamento a inclusão de opções vegetarianas em todas as cantinas do setor público, como as dos hospitais, prisões, autarquias, escolas e todos os outros estabelecimentos que estão sob a tutela do Estado.

A inclusão de refeições isentas de origem animal partiu de uma proposta do PAN e vai ao encontro de uma tendência crescente em Portugal: a substituição de produtos de origem animal por produtos de origem vegetal.

O interesse por este tipo de alimentação mais natural tem vindo a evidenciar-se e, no ano passado, a Direção-Geral da Saúde (DGS), através do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, já tinha lançado o manual ‘Planeamento de Refeições Vegetarianas para Crianças Em Restauração Coletiva – Princípios Base’. Em 2015, o mesmo organismo lançou um outro manual, mas este destinado a tirar todas as dúvidas sobre a dieta vegetariana e vegan.

Para os pais que seguem já uma dieta que exclui os alimentos de origem animal (ou que inclui apenas o ovo e/ou os laticínios), esta nova aprovação assume-se como uma vitória, uma vez que os filhos já não necessitarão de levar marmitas e refeições prontas de casa.

Já para os pais que seguem a tradicional dieta mediterrânea, esta aprovação pode tanto suscitar ainda algumas dúvidas, como ser também uma forma de variar mais a alimentação e dar aos mais novos uma maior capacidade de escolha, sem que a saúde e o crescimento fiquem em causa.

“Uma alimentação vegetariana poderá ser saudável e adequada para todas as fases do ciclo de vida, mesmo na idade infantil. Um padrão alimentar vegetariano pode prover um crescimento e desenvolvimento adequado em crianças e adolescentes, devendo ser adequadamente planeado e ajustado às necessidades e preferências de cada um”, diz a DGS.

De forma a satisfazer as dúvidas dos pais (e até dos mais novos) sobre este tipo de alimentação, o Lifestyle ao Minuto reuniu a informação dada pela DGS e compilou algumas perguntas e respostas, embora a mudança de alimentação da criança deva ser discutida com o médico, de forma a que todas as suas necessidades fiquem satisfeitas.

 

O que é a alimentação vegetariana?

Tal como explica a DGS no seu manual sobre vegetarianismo, “a dieta vegetariana é um termo geralmente atribuído a um padrão de consumo alimentar que utiliza predominantemente os produtos de origem vegetal. Exclui sempre a carne e o pescado mas pode incluir ovos ou laticínios. A inclusão de laticínios e/ou ovos é um dos principais fatores de diferenciação das dietas vegetarianas. Os cereais, hortícolas, fruta, leguminosas, frutos gordos e sementes são os alimentos comuns aos vários tipos de dietas vegetarianas”.

Deste modo, podemos dizer que existem quatro tipos de dieta vegetariana, a saber:

1 - Ovolactovegetariana – onde são excluídos a carne e o pescado, mas consumidos ovos e laticínios (no seu estado natural ou na confeção de alimentos);

2 - Lactovegetariana – onde, mais uma vez, não se consome carne e pescado, mas desta vez também os ovos, são excluídos. O consumo de laticínios é permitido.

3 - Ovovegetariana – permite ovos, mas exclui qualquer outro alimento de origem animal, seja carne, pescado ou laticínios.

4 - Vegetariana estrita e vegan – exclui todos os alimentos de origem animal, assim como todos os produtos de origem animal, como a cosmética testada e feita à base de animais e ainda alguns têxteis como a pele ou camurça.

 

Como devem ser as refeições do meu filho?

Tal como começa por dizer a DGS no manual destinado à alimentação vegetariana infantil, esta “deverá ser completa, equilibrada e variada”, devendo os pais dar destaque a alimentos “energeticamente densos como leguminosas (feijão, lentilhas, grão de bico, favas, etc.) e os seus derivados, frutos gordos (nozes, amêndoas, avelãs, etc.) e cremes de frutos gordos (manteiga de amendoim, creme de avelãs, etc.) poderá ser vantajosa”. Os minerais e as vitaminas devem ser também assegurados, veja aqui como.

No manual, que pode consultar, o organismo sugere que o prato principal deverá ser constituído por uma fonte proteica de origem vegetal (as leguminosas), um tipo de hidratos de carbono complexo (arroz, massa, cuscuz, mandioca, etc.) ou tubérculos (batata, batata-doce, etc.) e por produtos hortícolas.

 

Se o meu filho deixar de comer carne, vai consumir menos proteína?

Não. Em primeiro lugar, a criança pode continuar a consumir ovos e laticínios, além disso, existem alimentos de origem vegetal ricos em proteína.

As leguminosas, os frutos secos, os cereais integrais, os pseudocereais e a soja são alguns exemplos de proteínas de origem vegetal. Contudo, é necessário ter alguns cuidados para que o seu consumo seja o mais adequado, ou seja, para que a absorção do valor proteico seja a maior possível.

De acordo com a DGS, “a qualidade de uma dada proteína alimentar pode ser determinada pelo Protein DigestibilityCorrected Amino Acid Score (PDCAAS), que avalia a qualidade da proteína com base na sua composição em aminoácidos e pela sua digestibilidade. A maioria das proteínas de origem animal (incluindo ovos e leite) e a proteína de soja têm um valor de PDCAAS perto ou igual a 1,0 (a pontuação máxima), mas as pontuações para outras proteínas vegetais são geralmente inferiores”

O que quer isto dizer? Quer dizer que é preciso tornar as outras proteínas vegetais em proteínas completas e tal consegue-se facilmente com a combinação de alimentos. “Uma combinação de proteínas vegetais com o consumo adequado de energia fornece aminoácidos suficientes para atingir as necessidades proteicas . Consumir uma quantidade e variedade adequada de cereais e leguminosas e atingir as necessidades energéticas, a qualidade proteica estará assegurada, sendo semelhante à da carne. Por este motivo, o consumo de uma mistura de vários alimentos (entre leguminosas e cereais, por ex.) fornece todos os aminoácidos essenciais e estes nem necessitam de ser ingeridos na mesma refeição, exceto em crianças, nas quais se recomenda a ingestão dos alimentos complementares na mesma refeição”, lê-se no manual.

 

E a dose recomendada de vitamina B12 fica comprometida?

Uma vez que esta vitamina está presente nos produtos de origem animal, uma dieta vegetariana que não inclua ovos ou laticínios podem comprometer a presença deste micronutriente no organismo humano. Se estivermos a falar de um caso em que o consumo de refeições vegetarianas é meramente pontual, esta vitamina dificilmente ficará em causa.

Com ou sem consumo de ovos (que pode não ser suficiente) e quando não há “nenhuma fonte significativa desta vitamina naturalmente presente na dieta”, a pessoa deve “ingerir alimentos fortificados e/ou suplementos com o objetivo de prevenir a deficiência. Os alimentos fortificados, tais como as alternativas vegetarianas à carne, extrato de levedura, bebidas vegetais, cereais de pequeno-almoço e/ou os suplementos são indicados para ambos os padrões desde o momento de adoção dos mesmos”.

No caso das crianças, a toma de suplementação deve acontecer após aconselhamento médico.

 

O ferro dos vegetais é igual ao ferro da carne?

Não. Existem dois tipos de ferro, o heme e o não heme. Nos produtos de origem vegetal, apenas existe o ferro não heme, que é absorvido pelo organismo entre 2 a 20%. Como a pessoa fica apenas com acesso a um tipo de ferro, deve-se aumentar a capacidade de absorção do mesmo.

“A biodisponibilidade do ferro não heme é influenciada por vários componentes da dieta que podem aumentar ou diminuir a sua absorção, sendo que os fatores inibidores e potenciadores se poderão anular mutuamente em dietas que incluam uma grande variedade de alimentos”, diz o organismo, salientando que “a absorção do ferro não heme poderá estar diminuída devido a fatores como o cálcio, fitato, polifenóis (taninos e catequinas) presentes no chá, café, especiarias (açafrão, chili) e cacau, redução da acidez gástrica e estados inflamatórios aumentados”.

Por seu turno, a “vitamina C é o fator facilitador da absorção de ferro mais importante, já que promove a conversão do ferro férrico em ferro ferroso, sendo esta a forma melhor absorvida. Esta poderá ser proveniente da dieta, ou sob a forma de suplementos, sendo o seu efeito superior ao efeito inibidor do fitato, polifenóis e do cálcio”.

Feijão preto e repolho ou lentinhas com couve-de-Bruxelas são algumas das combinações vegetais que se assumem tão boas quanto as de origem animal no que diz respeito ao ferro. Veja outras.

Se ficou com vontade de abraçar este tipo de alimentação e incentivar os seus filhos a seguirem os mesmos passos, siga estes conselhos e tome nota de algumas dicas.

 

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