"Os soldados apanharam-me antes de eu conseguir fugir. Violaram-me"
Agências internacionais pressionam autoridades birmanesas para investigar crimes cometidos contra a minoria rohingya. Relatos são chocantes.
© Reuters
Mundo Rohingya
Uma adolescente da minoria rohingya, de 17 anos, relatou à BBC, a partir do Bangladesh, as provações por que passou às mãos dos soldados birmaneses, que invadiram a sua localidade. “Os soldados apanharam-me antes de eu conseguir fugir. Violaram-me”, indicou.
A jovem, que não é identificada, diz que esteve refém durante dias, enquanto era agredida e violada por soldados. “Naquela noite violaram-me de novo. Violaram-me outra vez de manhã e depois à tarde”, continuou, explicando que, decorridos alguns dias, ataram-na a uma árvore e foram-se embora.
“Deixaram-me lá atada. Cada vez que via soldados, baixava-me para me esconder. Fiquei lá a chorar. Fui salva por um grupo de rohingyas. Levaram-me com eles, para passar a fronteira para o Bangladesh”, explicou a jovem, num relato que alinha com as dezenas de relatos de violência sexual para com as mulheres (algumas com 10 anos) da minoria rohingya.
Pouco após ter chegado ao Bangladesh, a adolescente descobriu que estava grávida. A sua filha tem agora uma semana de vida. “Abortar seria um pecado. Entregá-la para adoção também. Eles cometeram um pecado. Eu não fiz nada de mal. Fiquei com a minha bebé”, afirmou.
A única família da jovem mãe são os avós, que também conseguiram fugir. Os pais estão desaparecidos, presumivelmente mortos. A ajuda internacional presente no Bangladesh trabalha, agora, conforme é explicado à BBC, para não deixar que as crianças nascidas destas atrocidades sofram estigmas enquanto crescem.
As autoridades internacionais, como o Tribunal Penal Internacional ou a Organização das Nações Unidas (ONU), recebem por esta altura relatos chocantes de crimes cometidos pelo exército birmanês contra a minoria rohingya. De acordo com o Guardian, uma coligação de organizações do Bangladesh, que está a receber milhares de refugiados, entregou provas ao TPI mas, sem jurisdição na Birmânia, torna-se muito difícil provar as atrocidades que são relatadas.
Cerca de 700 mil pessoas fugiram da Birmânia para o Bangladesh, após uma intervenção do exército birmanês num Estado no oeste do país. O Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU acusa as autoridades birmanesas de genocídio e de limpeza étnica.
A chefe do Governo, Aung San Suu Kyi, e o líder das Forças Armadas, general Min Aung Hlaing, negam que tenham sido cometidos crimes. Porém, a própria justiça birmanesa já condenou sete militares a 10 anos de prisão com trabalhos forçados por terem assassinado dez rohingya, cujos cadáveres foram enterrados numa vala comum.
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