A que se deve o sucesso da operação "que mexeu um pouco com o mundo"?

Operação de resgate dos 12 rapazes e do seu treinador terminou com sucesso. Tenente Alexandre Oliveira, comandante de um dos destacamentos de mergulhadores da Marinha Portuguesa, e Cristina Lopes, presidente da Sociedade Portuguesa de Espeleologia, tecem elogios à coordenação das autoridades no local.

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Anabela de Sousa Dantas
10/07/2018 20:59 ‧ 10/07/2018 por Anabela de Sousa Dantas

Mundo

Tailândia

Terminou esta terça-feira, com sucesso, uma das operações de resgate em caverna mais sensíveis e mediáticas dos últimos anos. Os doze rapazes da equipa ‘Javalis Selvagens’ e o seu treinador estão todos a salvo da caverna, em Tham Luang, onde estiveram presos desde o dia 23 de junho. Trabalhar-se-á agora pelo resgate da normalidade, num processo que decorre ainda sem data de término.

Em terreno menos especulativo estão as avaliações sobre o sucesso da operação, uma vez que estão terminadas. O tenente Alexandre Oliveira, comandante de um dos destacamentos de mergulhadores da Marinha Portuguesa, fez uma leitura muito positiva sobre os trabalhos levados a cabo pelas autoridades tailandesas.

Ressalvando que os seus comentários são feitos de uma perspetiva de observador, o militar destacou “uma missão muito bem planeada, em que houve um comando muito bem estruturado, com um plano de ação delineado que foi sendo cumprido”.

“No domingo, quando fizeram o primeiro resgate, disseram que tinham ficado satisfeitos com o resultado, mas não entraram em euforia. O planeamento tinha sido para quatro miúdos por dia e, apesar de terem vindo a melhorar de dia para dia, pois baixaram bastante o tempo de resgate, mantiveram o planeamento deles. Isso é muito importante”, adiantou, em entrevista ao Notícias ao Minuto.

Notícias ao MinutoNarongsak Osottanakorn [ao centro da imagem], governador regional da província de Chiang Rai, foi servindo de porta-voz da operação, fazendo atualizações diárias sobre a evolução da mesma© Getty Images

O tenente Alexandre Oliveira, lembrando que foi “uma operação que mexeu um pouco com o mundo”, destacou que “teve que haver colaboração excecional e um comando também extraordinário, para todas aquelas entidades internacionais fluíssem no mesmo sentido”. Uma opinião que, de resto, é partilhada pela presidente da Sociedade Portuguesa de Espeleologia: “É aí que se vê o sucesso da operação. Esse entrosamento com todos os elementos estrangeiros e a gestão do teatro de operações”.

Cristina Lopes apontou, ao Notícias ao Minuto, que a decisão de como iria ser feito o resgate “não foi fácil de tomar desde o início”, tendo as autoridades tailandesas sido “muito cautelosas”. “Tiveram um comportamento exemplar no sentido em que foram humildes e pediram ajuda internacional, isso foi muito importante”, acrescentou.

Ainda que a operação tenha sido orquestrada, em grande parte, pelos mergulhadores da Marinha tailandesa, de outras nacionalidades e espeleólogos, há centenas de pessoas que contribuíram para o sucesso da mesma. "Muitas vezes esquecemos da logística que é necessária, nós ouvimos falar sempre dos 18 mergulhadores, mas eles são a ponta da lança, por trás há uma enorme logística", lembra o Alexandre Oliveira.

Cristina Lopes referiu, ainda, que uma das características desta missão de resgate era a sua especificidade e destacou a rápida capacidade de adaptação. “A delegação de poderes no teatro de operações foi delineada de forma muito eficiente. Foi notório a partir do momento em que aquele mergulhador tailandês faleceu”, afirmou.

Paralelamente, o tenente Alexandre Oliveira notou, ainda, a relação mantida com a comunicação social: “A decisão de resguardar as crianças da imprensa, não revelar as identidades logo à medida que elas iam saindo, resguardando assim as próprias famílias de ansiedade e de stress, tudo isto foi de um planeamento extraordinário”.

A meteorologia, por outro lado, era uma das variáveis mais importante nesta complexa operação. A ameaça de chuvas torrenciais pressionou um resgate mais rápido, embora as condições não se tenham agravado como era esperado.

Cristina Lopes aponta este fato como crucial, mas lembra outra aspeto: “Este sucesso não teria acontecido se não tivesse havido um grande empenhamento por parte da equipa de bombeamento, aquela equipa que instalou as bombas e começou a drenar a água da cavidade de forma sistemática. Eram bombas de elevadíssimo calibre com uma capacidade de débito gigantesco, isso baixou o nível de tal maneira que propiciou um mergulho mais suave”.

A especialista esclareceu que se aquele percurso de 3,7 quilómetros “estivesse mais cheio, teria sido muito complicado” fazer o resgate daquelas crianças.

No final, restam as lições. O tenente Oliveira explica que, embora cada missão tenham as suas características específicas, “devem ser recolhidas o máximo de lições e utilizar essas lições aprendidas em situações futuras”. “Cada operação tem as suas variáveis específicas, o que aconteceu ali dificilmente se irá repetir noutro lado, mas deve retirar-se o máximo de 'know-how'”, indicou.

Cristina Lopes concorda que “ há coisas que não se podem replicar” porque “cada gruta é uma gruta” mas diz que “há lições na cooperação e no empenhamento de equipas” que se podem retirar.

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