Morreu Aretha Franklin, a rainha do soul
A cantora tinha 76 anos.
© Getty
Mundo Óbito
Aretha Franklin morreu esta quinta-feira, avança a Associated Press, que está a citar a publicista da cantora. Conhecida como a rainha do soul, Aretha Franklin tinha 76 anos e morreu em sua casa, na cidade de Detroit, às 9h50 locais (14h50 em Portugal Continental). Sofria de cancro no pâncreas e o seu estado de saúde deteriorou-se significativamente nos últimos dias.
"Num dos momentos mais sombrios das nossas vidas, não conseguimos encontrar as palavras apropriadas para expressar a dor que sentimos no nosso coração. Perdemos a matriarca e a rocha da nossa família", lê-se na declaração da família.
Além do cancro no pâncreas, a lenda da música enfrentou vários problemas de saúde nos últimos anos que levaram ao cancelamento de vários concertos.
No final do ano passado, Aretha Franklin afirmou que planeava retirar-se depois de terminar a digressão deste ano.
Para a história da música ficam músicas como 'Respect', 'Natural Woman' ou 'I Say A Little Prayer'.
Aretha Franklin foi a primeira mulher a entrar para o Rock and Roll Hall of Fame e ganhou 18 Grammys ao longo da carreira.
Algumas das suas performances marcaram momentos importantes na história dos Estados Unidos. Aretha Franklin era uma amiga de longa data de Martin Luther King e cantou a música 'Precious Lord' no serviço fúnebre do líder dos direitos civis.
A rainha da soul também se fez ouvir na cerimónia de tomada de posse de Barack Obama em 2009. 'America (My Country 'Tis of Thee)' foi a música escolhida para essa ocasião.
O percurso da 'rainha' Aretha
Aretha Louise Franklin nasceu em 25 de março de 1942 em Memphis, no Estado norte-americano do Tennessee - onde esteve sediada a editora Stax, que editou Otis Redding -, mas veio a crescer em Detroit, a outra principal cidade do soul norte-americano e lar da editora Motown. Filha do reverendo C.L. Franklin, viu o pai marchar com Martin Luther King.
Entre 1961 e 1965 lançou sete discos para a editora Columbia, sem grande sucesso, numa altura em que o soul já estava afirmado nas listas de mais vendidos e ouvidos, mas quando se mudou para a Atlantic, então nas mãos de Ahmet Ertegun e Jerry Wexler, o resultado foi outro.
O primeiro disco gravado com a nova editora, em 1967, chamou-se 'I Never Loved a Man the Way I Love You' e tinha como primeira faixa uma canção intitulada 'Respect', que Aretha Franklin ouviu na rádio pela voz de Redding enquanto estava a limpar o apartamento para o qual se tinha acabado de mudar, em Detroit.
"Tinha uma boa rádio sintonizada. Adorei. Adorei! Senti que podia fazer algo diferente com a canção", afirmou, citada pela revista Elle, em 2016, que se referiu à sua versão de 'Respect' como "talvez o ato mais genial de reinvenção pop da história da música americana" ao transformar em poder feminino o desespero de um homem que dizia à amada que esta o podia trair desde que voltasse para casa para lhe dar respeito.
Essa transição é notória logo a abrir a canção: enquanto Otis cantava que 'O que tu queres, querida, tu tens', Aretha afirmava que 'o que tu queres, querido, eu tenho'.
Numa entrevista dada à britânica Record Mirror, em 1968, Aretha Franklin disse que sempre viu potencial na versão que fez de 'Respect' e que sabia que ia ser um sucesso.
Na altura, questionada sobre se no futuro ainda se veria a cantar canções como 'Respect' ou 'Think', Franklin disse que não: "A música muda e eu vou mudar com ela".
Sobre a versão de 'Respect' feita por Aretha, o histórico crítico Greil Marcus escreveu que a canção "abriu a porta à grandiosidade moral do que Aretha Franklin tinha para dizer ao mundo, uma nova definição do que soul significava: que podia ser avassaladora".
A era na Atlantic, que durou até 1975, trouxe outras canções que ficariam para sempre associadas ao nome de Aretha Franklin, como 'Chain of Fools' e 'Natural Woman', enquanto, em 1987, voltou a ocupar o topo da tabela dos mais vendidos com 'I Knew You Were Waiting (for Me)', em dueto com George Michael.
A designação como rainha do soul chegou em 1968, durante um concerto em Chicago, quando lhe foi colocada uma coroa, um objeto que não lhe fez falta durante o resto da carreira no trono daquele género.
Aretha mostrava uma certa relutância em falar com jornalistas e tenha medo de viajar de avião (um artigo de 2011 no New York Times indicava que a cantora não punha pé no ar desde 1983).
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