Novo aeroporto de Berlim podia servir de "museu das construções erradas"
O novo aeroporto de Berlim, com inauguração prevista em 2011, vai abrir em outubro de 2020, mas o urbanista Dieter Faulenbach da Costa defende que o espaço devia ser um "museu das construções erradas".
© Reuters
Mundo Urbanismo
As obras do novo aeroporto internacional de Brandemburgo arrancaram há 12 anos e podem ver o seu fim em outubro de 2020. O diretor da infraestrutura, Engelbert Lütke Daldrup, anunciou a nova data na passada sexta-feira, e pediu "paciência" aos habitantes da região, sublinhando que a data "não é boa, mas é necessária".
Na câmara dos representantes de Berlim, Lütke Daldrup explicou preferir alargar a espera mais dois anos do que ter que anunciar um novo cancelamento.
O novo aeroporto de Berlim estava previsto começar a funcionar no outono de 2011, mas a inauguração foi cancelada. Desde então foram planeadas mais de dez novas datas de abertura, mas sempre sem sucesso.
Dieter Faulenbach da Costa acredita que ainda não vai ser em 2020 que o aeroporto Willy-Brandt, mais conhecido por BER, vai começar a receber aviões porque "continua com problemas graves e ainda não foram encontradas soluções".
Em causa estão mais de 1.500 erros, entre eles várias falhas nos sistemas de deteção de incêndios e de refrigeração. Mas para o urbanista, especialista em planificação de aeroportos, o problema começou muito antes.
"Este aeroporto tem dois problemas de origem: a localização e os inúmeros erros na primeira planificação. Mais tarde percebeu-se que havia numerosas falhas que se foi tentando corrigir. Mas modificar uma grande construção quando já está a ser feita não evita problemas.", revela Faulenbach da Costa, que acompanha o processo desde que começou a ser pensado, nos anos 90.
A nova infraestrutura foi construída ao lado do aeroporto de Schönefeld, um dos dois que serve a cidade de Berlim, usado maioritariamente por companhias aéreas de baixo custo. Faulenbach da Costa revela que houve um grande desenvolvimento urbano nas últimas décadas, o que fez com que o número de habitantes nos arredores de Berlim aumentasse significativamente.
"Em 2020 ou em 2030 o aeroporto já vai estar absorvido pela cidade. Os problemas com o ruído nesta localização são muito maiores do que se o aeroporto fosse construído a uma distância maior de Berlim. Houve uma proposta para construir um novo aeroporto a 40 km de Berlim, nesse destino os inconvenientes ligados ao ruído seriam muito menores", adianta o especialista na projeção de aeroportos e de terminais de passageiros.
A capacidade do novo aeroporto é outro dos defeitos apontados pelo especialista: "Em 2006 constava na planificação, uma previsão de 18 milhões de passageiros por ano, mas em 2006 esse número foi logo ultrapassado. A previsão foi muito curta. Como arquiteto aprendi que a prioridade, nestes casos, deve ser dada à funcionalidade, seguindo-se o design. Aqui aconteceu o contrário".
A solução defendida por Dieter Faulenbach da Costa é a construção de um novo aeroporto, de raiz, a uma distância significativa da cidade. "Precisamos de um aeroporto para o futuro, e não de um que ao abrir, já venha cheio de restrições".
O aeroporto internacional de Brandemburgo mantém a iluminação acesa há sete anos. À entrada, há um hotel de uma conhecida cadeia que se mantém aberto e uma publicidade luminosa gigante a uma empresa farmacêutica alemã. O BER recebe eventos pontualmente, e visitas guiadas ao local. Para Faulenbach da Costa ele poderá servir como um apoio ao aeroporto já existente de Schönefeld e também como "um museu de construções erradas".
"Muitas vezes também me pergunto, como foi possível fazer-se um projeto assim? Mas aconteceu, agora temos que viver com ele. Temos que aproveitar e fazer melhores construções daqui em diante. Penso que este aeroporto não vai chegar a abrir, pelo menos tal como está agora planificado. Daqui a 10, 15 anos teremos um outro aeroporto em Berlim", sublinha o urbanista que trabalha com aeroportos há 33 anos.
Os custos com o BER já atingem os 600 milhões de euros e, de acordo com a Deutsche Welle, são gastos, por dia, um milhão de euros.
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