UNESCO à procura de novas forças para reconstruir o que o ISIS destruiu
Mossul, a segunda maior cidade iraquiana, é a grande aposta da UNESCO após período conturbado.
© Reuters
Mundo Mossul
Foi sem grande resistência que, em 2014, os terroristas do autoproclamado Estado Islâmico conquistaram Mossul, a segunda maior cidade do Iraque.
Quatro anos depois o Estado Islâmico é uma miragem do que já foi mas o domínio brutal exercido sobre Mossul e os duros combates e bombardeamentos que ali decorreram deixaram a cidade em ruínas.
É uma tarefa gigantesca a que as autoridades iraquianas têm pela frente. Mas não terão de o fazer sem ajuda. A UNESCO, a organização das Nações Unidas que foca a sua atenção no património histórico e cultural, não quer apenas ajudar o Iraque. Quer fazer de Mossul uma aposta para mostrar as capacidades de uma agência que na era de Trump sofreu abalos.
Criada após a Segunda Guerra Mundial, a UNESCO dedica-se à proteção de espaços habitualmente consensuais. Sintra, por exemplo, sabe as responsabilidades que acarretam ser património mundial da UNESCO.
Mas a chegada de Donald Trump à cena internacional e a sua já habitual postura isolacionista trouxeram dúvidas à UNESCO em termos de financiamento. Entretanto, em 2017, Israel e EUA voltaram a ser aliados, desta vez para abandonar a UNESCO.
Mossul, explica a Reuters na sequência de uma conferência de imprensa da organização em Paris, será, por isso, uma aposta para recuperar a credibilidade afetada em anos recentes. É também uma aposta para mostrar que o multilateralismo é possível, ou seja, que ainda é possível ter países a trabalhar em conjunto por valores e objetivos em comum.
Será hercúlea a tarefa de recuperar Mossul, mesmo para uma organização que tem entre as suas preocupações coisas tão distintas como as ilhas Galápagos, a Grande Barreira de Coral australiana ou a Grande Muralha da China.
Em Mossul serão necessários pelo menos dois mil milhões de dólares de investimento na reconstrução. O mercado, a biblioteca, a universidade, duas igrejas cristãs e um templo da comunidade yazidi estão entre as infraestruturas a recuperar.
O principal - e mais caro - desafio será o da mesquita de Grand al-Nuri, famosa pelos seus minaretes que remontam ao século VIII (na imagem) e que foi destruída à bomba pelos jihadistas do Estado Islâmico. Serão 50 milhões de dólares só aqui, dinheiro esse que chega com a ajuda dos Emirados Árabes Unidos.
Desvalorizada pela administração Trump, a UNESCO quer provar não apenas que é relevante, mas também que são necessárias organizações multilaterais como esta.
Ou, nas palavras que a Reuters cita de Audrey Azoulay, diretor-geral que assumiu a organização poucos dias após o abandono israelita e norte-americano: "num tempo em que o multilateralismo é por vezes questionado, o objetivo e magnitude desta iniciativa demonstra precisamente porque é que uma organização como a UNESCO é importante".
Azoulay diz ainda que a UNESCO tem total consciência das especificidades deste projeto e das dificuldades com que se vão de parar no terreno. "Mas é precisamente porque a situação é frágil que temos de agir".
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