Investigação denuncia expansão de campos de reeducação no oeste da China
A China expandiu uma rede de campos de internamento extrajudicial no extremo noroeste do país, que visam doutrinar a minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigure, segundo uma investigação baseada em imagens de satélites hoje difundida.
© Reuters
Mundo Xinjiang
Segundo as imagens recolhidas pela cadeia de televisão australiana ABC e o Instituto Australiano de Política Estratégica (ASPI), as autoridades chinesas têm vindo a expandir, na região do Xinjiang, uma rede de 28 campos onde se estima que mais de um milhão de uigures são forçados a criticar o islão e a própria cultura, aprender mandarim e jurar lealdade ao Partido Comunista Chinês (PCC).
A análise detalha que, desde o início de 2017, e sobretudo nos últimos três meses, os campos registaram uma expansão total de mais de dois milhões de metros quadrados.
"O que estamos a ver aqui é uma violação dos direitos humanos numa escala nunca vista desde a repressão na Praça Tiananmen [contra o movimento pró-democracia, em 1989]", afirmou o analista cibernético e especialista em assuntos chineses da ASPI, Fergus Ryan.
Na região do Xinjiang vivem cerca de 11 milhões de uigures.
Em 2009, a capital do Xinjiang, Urumqi, foi palco dos mais violentos conflitos étnicos registados nas últimas décadas na China, entre os uigures e a maioria han, predominante em cargos de poder político e empresarial regional.
Nos últimos anos, as autoridades do Xinjiang transformaram a região num estado policial, através de uma campanha repressiva, que foi reforçada a partir de 2016, quando o secretário do PCC Chen Quanguo foi transferido para a região, após vários anos no Tibete.
Para além dos campos de detenção extrajudicial, os uigures estão limitados na sua circulação por uma combinação de medidas administrativas e postos de controlo, segundo denunciaram várias organizações não governamentais.
"Ao deter esta grande quantidade de pessoas por razões que não se justificam legalmente, a China está realmente a correr o risco de radicalizar esta população e criar condições perfeitas para que ocorra violência extrema no futuro", advertiu Ryan, citado pela ABC.
No mês passado, a China admitiu que foi criado um "modelo" que ensina a "língua comum do país, conhecimentos legais e competências profissionais", e salva os que foram enganados pelo extremismo religioso.
A detenção extrajudicial de uigures visa tratar pessoas "influenciadas pelo terrorismo e extremismo", afirmou o governador do Xinjiang, Shohrat Zakir, citado pela agência oficial Xinhua.
A China recusou, no entanto, investigações independentes pelo Comité de Direitos Humanos da ONU.
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