Esquerda Ibero-americana reúne-se em espécie de contra-cimeira do G20
Líderes da esquerda ibero-americana participam a partir de segunda-feira, em Buenos Aires, no Fórum Mundial do Pensamento Crítico, uma contra-cimeira ao G20 que decorrerá também na capital argentina nos dias 30 de novembro e 01 de dezembro.
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Mundo Buenos Aires
O evento contará com mais de 200 convidados, entre ex-Presidentes, intelectuais e líderes de movimentos sociais que debaterão, entre outros tópicos, o futuro da democracia, ameaçada pela desigualdade social e pelo reforço da extrema-direita, particularmente na América do Sul.
Organizado pelo Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO), o evento decorrerá entre os dias 19 e 23, mas os dois primeiros concentrarão intervenções de líderes como os ex-Presidentes Dilma roussef (Brasil), José Mujica (Uruguai), e Cristina Kirchner (Argentina).
Os candidatos derrotados nas recentes eleições na Colômbia (Gustavo Petro) e Brasil (Fernando Haddad, Manuela D'ávila e Guilherme Boulos) também asseguraram presença.
O Fórum Mundial do Pensamento Crítico, espécie de resposta à cimeira de líderes do G20, que acontecerá 10 dias depois também na capital argentina.
Embora a organização do evento anuncie a participação de José Mujica, a assessoria do ex-Presidente, em Montevideu, disse à Lusa que o ex-Presidente não viajará na terça-feira para Buenos Aires por recomendação médica de repouso, devido a um quadro de trombose.
Ainda atónitos com a vitória de Jair Bolsonaro nas presidenciais do Brasil, os líderes ibero-americanos participarão em painéis como "América Latina: medo, esperança, utopia" ou "Brasil, a esperança vencerá o medo".
Nomes importantes da esquerda, como o líder espanhol do Podemos, Pablo Iglesias, ou o ex-Presidente da Colômbia, Ernesto Samper, juntamente com académicos de dezenas de países também darão a sua contribuição aos problemas globais e contemporâneos.
Portugal terá dois participantes.
O sociólogo Boaventura de Sousa Santos participará nos debates "A igualdade explicada pelo 1% mais rico da humanidade", "Um diálogo de saberes entre África, Ásia e América Latina" e "Pensar os desafios globais a partir da América Latina".
O segundo é o antigo reitor da Universidade de Lisboa e candidato presidencial, António Sampaio da Nóvoa, que participa no debate sobre o desafio para as universidades públicas em "Conhecimento, Verdade e Justiça Social: qual será o futuro para a Universidade?".
Espera-se que o pensamento crítico inclua a autocrítica da esquerda que soma derrotas desde a chegada de Mauricio Macri à Presidência argentina em dezembro de 2015 até ao susto Bolsonaro há três semanas.
É para onde aponta Juan Grabois, de 35 anos, líder social argentino em ascendência.
Conhecido como "O amigo do papa", dada a sua proximidade com Francisco, que o escolheu, em 2016, como consultor do Conselho Pontifício de Justiça e Paz.
"Acredito que um fórum do pensamento crítico tem de ser crítico e autocrítico. Não gosto dos fóruns de lamentos coletivos, de catarse. Neste momento, o campo popular progressista latino-americano necessita pensar, criticamente, a sua própria prática e não o exercício ritual da crítica à prática do rival", disse à Lusa este fundador do Movimento de Trabalhadores Excluídos (MTE), com cerca de 50 mil membros e líder da Confederação de Trabalhadores da Economia Popular (CTEP), que integra cerca de meio milhão de trabalhadores.
"Quero falar sobre corrupção e sobre a falta de reformas estruturais depois de 12 anos de governos de esquerda. Suspeito que a minha participação no fórum será bastante antipática", prevê Grabois.
Para o sociólogo e cientista político chileno, Patricio Navia, Bolsonaro é "o inimigo favorito para os líderes de esquerda da América Latina" e a sua vitória pode ajudar a unificar a esquerda contra o mal maior.
"A esquerda está triste porque perdeu no Brasil, mas está feliz porque Bolsonaro é o estereótipo da direita autoritária, desrespeitosa, homofóbica, violenta e racista. Com um inimigo assim, a esquerda espera ter vantagens eleitorais", explica à Lusa Patricio Navia, da Universidade de Diego Portales e da New York University.
"Bolsonaro não será um líder unificador. Usará a estratégia da confrontação. E um Bolsonaro radical pode terminar ajudando a sobrevivência dos regimes venezuelano e nicaraguense", observa Navia.
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