Papel de Macau reforçado com visita a Lisboa
Especialistas em relações sino-lusófonas consideram que Macau tem sido palco dos grandes negócios entre a China e os países lusófonos, um cenário que pode ser reforçado com a visita do Presidente chinês a Portugal.
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O jornalista e investigador José Carlos Matias destaca o papel de Macau como "um palco pelo qual passaram grandes negócios ligados a países lusófonos, sobretudo pela ação de intermediários".
Já o secretário-geral adjunto do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau), Rodrigo Brum, realça que só no último ano as relações comerciais sino-lusófonas representaram 117 mil milhões de dólares.
Macau "tem desempenhado um papel muito importante na manutenção e até no reforço da língua portuguesa, que deixa de significar apenas uma herança colonial, mas passa a ser um ativo" no "contexto de estratégica económica de Pequim em relação aos países lusófonos", afirma o diretor do jornal bilingue (chinês/português) Plataforma e autor de diversos trabalhos académicos na área das relações sino-lusófonas.
"Decorrente das ligações de Portugal aos seus antigos 'territórios ultramarinos' as relações com Macau sempre tiveram importância, sendo disso exemplo a comunidade chinesa de Moçambique, mas também as relações comerciais existentes desde o século passado", explica à Lusa Rodrigo Brum.
Essas relações foram "facilitadas pelas linhas marítimas então asseguradas pelas Companhia Nacional de Navegação e Companhia Colonial de Navegação, entre outras, com relevante importância no transporte de pessoas e bens", aponta o responsável do Fórum de Macau.
O Fórum de Macau, criado em 2003 pelo Governo chinês, é um mecanismo multilateral de cooperação intergovernamental onde participam Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe, tem como objetivo a consolidação do intercâmbio económico e comercial entre a China e os países de língua portuguesa, utilizando Macau como plataforma de ligação entre estes países.
Para Rodrigo Brum, desde a criação há 15 anos do Fórum de Macau o "crescimento das relações económicas entre a China e os países de língua portuguesa não poderia ter mudado mais drasticamente: a China tornou-se o maior parceiro comercial dos países de língua portuguesa, passando o valor global do comércio de importação e de exportação de 6 mil milhões de dólares, à data da criação do Fórum de Macau, para mais de 117 mil milhões de dólares no ano transato, um crescimento de 20 vezes".
"Os investimentos durante os 15 anos de existência do Fórum de Macau aumentaram cerca de 100 vezes", aponta.
Por outro lado, argumenta José Carlos Matias, o Fórum de Macau confere "uma funcionalidade ao território no contexto da política externa e desenvolvimento nacional chinês" que se entrelaça "com o posicionamento de 'Las Vegas da Ásia'", numa dimensão multilateral que não enfraquece a relação bilateral China-Portugal".
A visita do Presidente da China, Xi Jinping, a Lisboa de 04 a 05 de dezembro, vai revalidar e reafirmar o papel de Macau como plataforma, num contexto em que "a língua, a cooperação científica e o quadro jurídico se destacam como valores acrescentados, com uma dimensão prática", antevê.
Na opinião pessoal de Rodrigo Brum, a visita oficial em conjugação com a retribuição já anunciada para o próximo ano do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, à China, a relação entre os dois países "não será descurada e a cooperação tomará um novo rumo de desenvolvimento com resultados auspiciosos".
As transações eletrónicas da China, lembra Rodrigo Brum, "representam só por si mais de 50% das transações mundiais. O setor das infraestruturas tem também na China uma expressão excecional, sendo de salientar a importância da iniciativa da Rota da Seda para o desenvolvimento e cooperação a nível global".
Também a presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda afirmou à Lusa estar confiante que a visita de Xi a Portugal "irá marcar mais uma etapa no estreitamento de relações entre Portugal e China".
A Nova Rota da Seda (mais conhecida como Uma Faixa, Uma Rota) foi lançada em 2013 pelo Presidente chinês e inclui uma malha ferroviária intercontinental, novos portos, aeroportos, centrais elétricas e zonas de comércio livre, visando ressuscitar vias comercias que remontam ao Império Romano, e então percorridas por caravanas.
"Temos elevadas expectativas que sejam assinados Protocolos de Cooperação no âmbito da conectividade entre a Europa e a China, mas também na área da investigação e cooperação académica ao nível universitário", disse Fernanda Ilhéu, destacando que gostaria de ver parcerias conjuntas "nos países de língua portuguesa", como "a construção e manutenção de infraestruturas", mas também na agroindústria, pesca, serviços, educação e saúde.
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