A convicção contra as políticas raciais e a adesão plena aos ideais democráticos, transformaram a imagem de um Nelson Mandela opositor do regime 'africâner' num líder de consenso enem toda a população, considera Mathew Graham, professor de História na Universidade de Dundee.
"No atual mundo de conflito internacional e cinismo político", o legado de Mandela continua a servir como "um raro exemplo de um político de princípios que representou um incansável compromisso com o perdão e a reconciliação", explicou.
"Mandela exigia respeito e autoridade moral no país e no exterior, pelas suas fortes convicções, humildade e ações corajosas que asseguravam que todos os sul-africanos pudessem viver numa sociedade democrática", escreveu Mathew Graham na rede académica "The Conversation".
Já se passaram 24 anos desde que a luta liderada por Nelson Mandela contra o 'apartheid' culminou nas primeiras eleições multirraciais.
Em 1994, Nelson Mandela deu prioridade à transformação social, com a campanha "uma vida melhor para todos", a introdução de uma constituição progressista e liberal, dando o exemplo ao renunciar ao cargo após um mandato presidencial, recorda o académico.
No entanto, a "nova" sociedade articulada por Mandela não encontra hoje paralelo após vinte e quatro anos de governação pelo partido que ajudou a fundar: o Congresso Nacional Africano (ANC).
Segundo Mathew Graham, o ano de 1994 não deveria ser a fase final da transformação social e económica, mas sim o começo.
"Pelo contrário, era uma plataforma para futuros esforços. Mas o ANC não conseguiu iniciar uma transformação mais ampla desde 1994. O ANC deveria certamente ter insistido em mais concessões. Na realidade, o partido sacrificou efetivamente a mudança económica e social pelo poder político", afirmou.
A incapacidade do partido no poder de implementar políticas em benefício da maioria negra sul-africana e inclusivas das minorias residentes no país é evidente nos diversos debates políticos em curso, nomeadamente o constante descontentamento sobre o desemprego, a desigualdade económica entre brancos e negros, e entre a maioria negra pobre e a nova elite negra do ANC, defendeu.
A falta de serviços públicos abrangentes de qualidade, a expropriação de terras sem compensação, a xenofobia, a violência do género, a criminalidade e a galopante corrupção no governo e nas instituições públicas, salientou.
"Além disso, o ANC parece ter perdido o seu senso de direção. A elite política tem sido muito afetada por escândalos, notavelmente no mandato presidencial de Jacob Zuma", salientou Mathew Graham.
Na campanha institucional de comemoração do centenário do nascimento do líder histórico sul-africano, "o seu legado vive no nosso compromisso em garantir uma sociedade justa para todos, incluindo o direito à dignidade e à liberdade de expressão", refere o governo do ANC.
"Para celebrar a vida de 'Madiba', como era conhecido, precisamos de permanecer fiéis aos seus ideais, incluindo o seu compromisso inabalável com a justiça, a igualdade e uma África do Sul não racial", insta o governo sul-africano nas páginas de internet oficiais.