Novo referendo causaria "danos irreparáveis" na democracia britânica
Um novo referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia causaria "danos irreparáveis" na confiança dos eleitores no sistema político, vai avisar hoje a primeira-ministra britânica no parlamento.
© Reuters
Mundo Theresa May
"Não rompamos a confiança do povo britânico organizando outro referendo", vai pedir Theresa May aos deputados, alegando que outra consulta popular "causaria danos irreparáveis à integridade do nosso sistema político, porque diria a milhões de pessoas que confiaram na democracia que a nossa democracia não cumpre".
O alerta será feito hoje durante uma intervenção esta tarde no parlamento, onde vai atualizar a Câmara dos Comuns sobre o resultado da cimeira de líderes europeus na semana passada em Bruxelas, e cujos excertos foram divulgados antecipadamente.
Um número crescente de deputados e figuras públicas têm-se manifestado a favor do chamado "People's Vote [Voto Popular], um novo referendo que consultaria a população a propósito do acordo de saída da União Europeia (UE) negociado pelo Governo ou, em alternativa, sobre se preferiria manter-se na UE.
O antigo primeiro-ministro Tony Blair, os deputados do partido Conservador Jo Johnson, irmão de Boris Johnson mas que defende a permanência, Justine Greening, Sarah Wollaston ou Anna Soubry, os trabalhistas David Lammy, o 'mayor' de Londres, Sadiq Khan, Chukka Umunna ou Margaret Beckett são alguns dos que defendem esta ideia.
Estes argumentam que esta é a única saída para o impasse perante a possível rejeição do acordo para o 'Brexit' no parlamento britânico devido às críticas de um elevado número de deputados sobre os termos do mecanismo de salvaguarda previsto para evitar o regresso de uma fronteira na ilha da Irlanda.
May adiou a votação devido ao risco de o documento ser chumbado por uma "margem significativa" e propôs-se pedir aos líderes europeus formas de obter "garantias adicionais", mas, nas conclusões publicadas no final dos trabalhos do Conselho Europeu, os 27 recusaram reabrir a negociação dos termos do acordo de saída.
No domingo, foi noticiado que alguns membros do Governo estão a discutir a hipótese de um novo referendo com representantes da oposição, mas o ministro do Comércio Internacional, Liam Fox, defensor da saída, afirmou à BBC que o resultado não resolveria a questão.
"Suponhamos que tínhamos outro referendo. Supondo que o voto para 'permanecer' ganhava 52 a 48, mas com uma participação inferior - totalmente possível. Se houver outro referendo, o que eu não penso que haverá, pessoas como eu vão imediatamente exigir um terceiro para desempatar. Onde é que vai acabar", questionou.
No referendo realizado em 2016 sobre o 'Brexit', 51,9% dos eleitores votaram pela saída, tendo participado 33,5 milhões britânicos, equivalente a uma taxa de participação de 72,2%, a maior no Reino Unido desde 1992.
O voto no parlamento sobre o acordo de saída foi adiado para uma data por determinar antes de 21 janeiro, tendo alguns jornais adiantado que poderá ser no dia 14, apenas 11 semanas antes da data de saída do Reino Unido da UE, a 29 de março de 2019.
Em alternativa, Fox e outros ministros, como o da Economia, Greg Clark, admitem deixar de consultar o parlamento sobre vias alternativas às do acordo, como ficar numa união aduaneira com a UE, como faz a Noruega.
"Os deputados eleitos assumem a responsabilidade, em vez de apenas serem críticos", sugeriu, em entrevista à rádio BBC 4.
A ausência de acordo poderá resultar numa "saída desordeira" do bloco ao qual o país esteve ligado durante 45 anos, havendo o receio que tenha consequências no transporte aéreo, circulação de mercadorias nos portos marítimos de acesso à ilha britânica e dificulte o acesso a produtos alimentares ou medicamentos.
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