Quando a ajuda humanitária é arma de arremesso em 'guerra' política
A ajuda humanitária internacional junto à fronteira colombiana com a Venezuela está a tornar-se numa arma de arremesso, numa disputa política cujo final é ainda uma incógnita.
© Reuters
Mundo Venezuela
O Presidente eleito Nicolás Maduro e o autoproclamado Presidente Juan Guaidó são as figuras desta disputa, que nas últimas horas conheceu desenvolvimentos dramáticos e que incluem o encerramento de postos fronteiriços e a concentração de efetivos militares ao longo da linha divisória comum, num crescendo de tensão.
Juan Guaidó, que partiu quarta-feira para a fronteira com a Colômbia, para tentar desbloquear a entrada de ajuda humanitária por parte dos militares afetos a Nicolas Maduro, já está na localidade fronteiriça venezuelana de Ureña, que fica a pouco mais de sete quilómetros do centro da cidade colombiana de Cúcuta.
Trata-se de uma zona em que as divergências são substanciais e vão além da hora que os relógios marcam, porque as duas cidades ficam em fusos horários contíguos, com os relógios em Ureña a marcarem mais uma hora do que em Cúcuta.
Estas duas cidades são por estes dias o cenário da disputa política desencadeada em janeiro e que a 23 desse mês subiu de tom quando Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional se autoproclamou Presidente interino, num ato público em que afirmou não reconhecer legitimidade ao Presidente eleito, Nicolás Maduro.
A 10 de janeiro, Maduro foi empossado à revelia do que está previsto na Constituição do país na sequência de um processo eleitoral, não reconhecido e considerado como não tendo sido livre nem transparente.
Guaidó garante que no sábado conseguirá abrir um corredor para a entrada de alimentos e medicamentos oriundos dos EUA, "por ar, por mar e por terra".
A resposta do governo de Nicolas Maduro não se fez esperar, através do ministro da Informação, Jorge Rodriguez, que anunciou para sábado e domingo um mega-concerto musical, na fronteira com a Colômbia, para angariar ajuda para a população necessitada.
Também no sábado, mas do lado colombiano da fronteira da ponte de San Martin, o filantropo bilionário Richard Branson vai organizar um concerto, com um programa recheado de estrelas mundiais da música, que espera reunir 300 mil pessoas e conseguir 100 milhões de dólares (cerca de 88 milhões de euros) para prestar ajuda aos venezuelanos.
Mas se a ajuda humanitária parece garantida, a incógnita é saber como a fazer entrar na Venezuela, depois de o governo de Nicolas Maduro ter fechado as fronteiras à entrada de medicamentos e alimentos oriundos dos EUA.
"Não vou permitir o espetáculo da ajuda humanitária. Não precisamos de esmolas", afirmou esta semana o Presidente eleito, explicando por que colocou obstáculos nas fronteiras para impedir a chegada de camiões com as doações para a população.
Maduro afirmou mesmo que a ajuda oriunda dos EUA eram um engodo para abrir caminho a uma intervenção militar norte-americana, numa leitura política que teve a concordância diplomática do governo russo.
Na quarta-feira, as autoridades russas confirmaram o envio de um carregamento de medicamentos e de equipamento médico, de que 7,5 toneladas de medicamentos e material médico já chegaram à Venezuela, segundo anunciou quinta-feira à noite Nicolás Maduro.
Segundo Maduro, estes medicamentos e material médico destinam-se a três hospitais em Caracas e no Estado de Bolívar.
Maduro confirmou essa ajuda russa, de cerca de 272 toneladas de bens, reiterando que manterá o bloqueio à ajuda norte-americana.
Perante esse bloqueio, o autoproclamado Presidente interino garantiu que encontraria forma de o contornar e prometeu estar sábado "na rua" a coordenar o corredor para a ajuda humanitária.
Na quarta-feira, Guaidó deu indicações às Forças Armadas para no sábado deixar entrar as doações internacionais, dizendo que tinham três dias para "seguir as ordens do Presidente encarregado da República".
Guaidó afirmou que a ajuda entrará "por ar, por mar e por terra", sem especificar os pontos exatos da entrada dos alimentos e medicamentos.
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