Fazer política no Brasil "é quase um exercício para entrar na cadeia"
A democracia no Brasil enfrenta "um risco real" e fazer política "é quase um exercício para entrar na cadeia", afirmaram hoje políticos brasileiros durante o VII Fórum Jurídico de Lisboa, pedindo "respeito pelas instituições".
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Mundo Político
O apelo ao respeito pelas instituições e preocupações com a democracia brasileira foram partilhados pelo governador do distrito federal, Ibaneis Rocha, e pelo senador Jacques Wagner num painel sobre relações institucionais entre poderes num fórum onde participam governantes portugueses e brasileiros, além de juristas, académicos e investigadores na área judicial.
O advogado e político afiliado ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) Ibaneis Rocha lamentou que o Brasil tenha "trilhado por caminhos menos democráticos" do que o desejável e considerou que "fazer política no Brasil, hoje, é quase um exercício para entrar na cadeia", pois é quase "impossível fazer política com as condições" atuais.
Em causa está o financiamento das campanhas eleitorais que "podem tornar um homem honesto num homem desonesto", queixou-se o governador, afirmando que "todos sabem o que custa uma camanha"
Ibaneis Rocha pediu "estabilidade" para o país e respeito pelas instituições e pelo poder judicial, incluindo o Supremo Tribunal Federal que "não pode se atemorizar em momento algum", salientando que "no lugar onde os bons se afastam, os maus tomam conta".
O senador Jacques Wagner, do Partido dos Trabalhadores (PT, partido dos ex-Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff), defendeu que existe um "risco real para a democracia brasileira" e que é preciso "trabalhar no sentido da retoma das instituições, que estão abaladas".
Sinal desta "quebra democrática" foi, segundo o senador, o processo de destituição de Dilma Roussef, sem que tenha sido cometido qualquer crime, como "confirmaram decisões posteriores dos tribunais".
"A partir daqui, quebrou-se a regra maior e a cada minuto veem-se outras regras a ser quebradas", criticou.
Jacques Wagner apontou ainda o que considera ser um "processo de mistificação da opinião pública" que afirma estar em curso através da "robotização", desabafando: "E não sei onde vai parar".
O político brasileiro criticou o facto de as pessoas terem deixado de encarar o diferente como um adversário, passando a ser um inimigo.
"Hoje em dia, às vezes temos medo até de cumprimentar (...) Qualquer pensamento diferente vira briga, vira diferença, vira agressão", lamentou o político do PT.
Jacques Wagner disse ainda que o Governo brasileiro liderado por Jair Bolsonaro (Partido Social Liberal, extrema-direita) tem direito de impor um modelo económico do qual disse discordar "porque ganhou" as eleições, mas "não tem direito de propor à sociedade brasileira a brutalização".
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